segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Lenda de Exu do Lodo



Diz a lenda, que uma vez estabelecida a Quimbanda, Exu Rei e sua esposa, decidiram andar pelo mundo para verificar o trabalho que realizavam seus súditos (ou seja, os Exus) e, dessa maneira, comprovar se eles eram fiéis no cumprimento às regras ou não. Para fazer isso, disfarçaram-se, ocultando seus ricos adornos para poderem passar despercebidos.

Em uma ocasião, Pomba Gira Rainha caminhando por uma trilha, defrontou-se com um enorme pântano, sujo e podre, o que lhe impediu de continuar sua ronda, pois Exus nunca voltam para trás, já que não caminham sobre os seus próprios passos.

Enquanto decidia como fazer para atravessá-lo, apareceu à sua frente um homem de estatura média, com o perfil de um ermitão, bastante despenteado e aparentando ser antissocial. Apesar de sua imagem sombria, coberta por uma enorme capa escura, parecia não coexistir com aquele lugar.

Ela se assustou bastante a principio, mas ficou lisonjeada com o gesto educado daquele homem, que rapidamente retirou a sua capa e jogou sobre o lago para que ela pudesse passar, e pôde ver nos olhos dele uma interminável desolação.

A Rainha caminhou por sobre a longa capa e seguiu seu caminho sem olhar para trás. Atônito, fascinado pela beleza desta estranha mulher que nunca tinha visto, não se esqueceria de ter sentido, pela primeira vez, o amor.

Ele não sabia quem era ELA. Ela não pode imaginar a sua ansiedade; não foi fácil ser o guardião daquele lugar. Nenhuma mulher gostaria de acompanhá-lo no seu esforço. Como recompensaria sua educação e respeito? dDe que maneira poderia melhorar a sua vida?

Após a conclusão da sua viagem, chegou ao palácio e disse ao seu marido o que tinha descoberto. “Existe um ser nobre que cuida de um pantanal imundo. Quando uma pessoa chega a esse charco pestilento, do nada ele vem e ajuda-a a superar obstáculos tremendos. Eu vi a tristeza em seus olhos para ter um local como aquele para atendimento, mas, no entanto, faz o seu trabalho com cuidado e sem soluçar. Sua figura é curva, malcheirosa e bruta, mas é humilde e cortês.”

Interessado no vizinho, Exu Rei queria convidá-lo para uma celebração que iria fazer em sua casa no final do mês. Sua intenção era premiá-lo por sua abnegada dedicação à missão que lhe tinha sido encomendada e pelo respeito a sua esposa. Em sua busca, ordenou ao general de seu exército, Senhor Exu Tranca Ruas.

Uma vez reunidos na Mansão Real, qual não seria a surpresa de Exu do Lodo ao notar que a esposa de seu soberano era a mulher que ele amou profundamente! E sentiu a dor ao mesmo tempo, porque, em menos de uma fração de segundo, deveria ser retirada de sua mente. Não podia sequer imaginar que uma vez sentiu-se atraído por ela.

Naquela noite, Exu Rei o condecorou e lhe deu a honra de se sentar à sua direita. E, desde então, ocupa este lugar, mantendo a base do trono de seu monarca.

Pomba Gira Rainha, em seguida, dá-lhe um lenço perfumado com seu aroma, solicita que guarde suas lágrimas e, depois, ao retornar para o seu local, jogue-o no meio do pântano. Ela lhe agradece pelo respeito e ternura e promete ajudá-lo a sair da solidão em que se encontra.

Naquela noite, enquanto voltava para o seu território, cabisbaixo, pensou: “Como poderia ser feliz vivendo no lodo? Nenhuma mulher queria juntar-se a mim em meu trabalho.” Ao chegar, jogou o lenço sobre a lama e ficou a observar a lua que o cobria com a sua luz prateada. Saíam do lenço todas as suas lágrimas e espalharam-se por sobre o pântano, salpicadas como um colar de pérolas que se desmanchava. Na manhã seguinte, ao observar o local onde tinha atirado o lenço, havia começado a crescer uma planta, e que as suas lágrimas dispersas, eram botões florais que começaram a pressagiar uma nova era. Era fim de inverno, e a primavera produzia milagres mesmo através da lama.

Foi a primeira vez reparou nas flores. Considerou um presente de sua Sra. Rainha e pôs-se a aspirar a fragrância do seu amor. Era o mesmo perfume de sua soberana, o qual cuidaria a cada primavera.

Depois de algum tempo, a história repetiu-se com outra protagonista. Uma mulher que circulava por aquele mesmo caminho, e, de repente, estava próxima ao charco. Solícito como sempre, Exu do Lodo saiu de seu esconderijo e ofereceu-lhe o casaco. Ao olhá-la, descobriu em seus olhos a simpatia que ele tanto buscava e, sem pensar duas vezes, cortou algumas de suas flores e ofereceu-as a linda mulher. Ela as aceitou, por sua vez, lançou uma gargalhada. Era Pomba Gira Maria Molambo que, desde então, passou a ser sua parceira e ficou a viver ao seu lado.

A moral desta história nos permite compreender os sentimentos mais profundos. Quantas vezes devemos renunciar a alguns sonhos, reconhecendo que não podemos alcançá-los! E, que afortunados somos se podemos fazê-lo, nos livramos de tantas dores de cabeça, de tantos contratempos e que, ao final, nos aguardam outras flores que possuem uma fragrância que ao senti-la, queremos tê-la sempre ao nosso lado.

A educação, a obediência, o respeito e a renúncia de Exu do Lodo foram premiados. Não somente se tornou o braço direito de Exu Rei, como também de toda a Quimbanda. Mas ele pôde encontrar o amor e colocar um fim a seus dias de pessimismo.

fonte: https://paijoaodeangola.com/exu-do-lodo/

domingo, 10 de fevereiro de 2019



Ignatia amara


Nasceu em mim a poesia

Mas os mestres me indagaram

Porque não falar da homeopatia

Foi então que me recordei

De um medicamento indicado

Em alguns casos de histeria

E por suas noites de insônias

Por sofrer contrariedades

Fica marcada a sua dualidade

Por ter na sua personalidade

Uma grande responsabilidade

E como tem muita necessidade

De demonstrar sua emotividade

E de viver em sua falsa fantasia

Suspirando em sua melancolia

Após uma tristeza ou uma emoção

Mas por uma mudança de posição

Advém uma grande melhoria

E foi por suas peculiaridades

E por uma certa bipolaridade

Que eu então me recordara

Da parodoxal personalidade

Chamada de  Ignatia amara.