sexta-feira, 29 de julho de 2011

UM CASO DE CHICO

O mais bonito, não eram apenas as visitas que o Chico fazia com os grupos, mas aquelas anônimas que ele realizava pela madrugada, quando saía sozinho para levar seu conforto moral à famílias doentes, a pessoas moribundas, às vezes acompanhado por um amigo para assessorá-lo, ajudá-lo, pois já portava alguns problemas de saúde, mas sem que ninguém o soubesse.
Ali estava a maior antena paranormal da humanidade dos últimos séculos, apagando este potencial para chorar com uma família que tinha fome.
Ele contou-me que tinha o hábito, em Pedro Leopoldo, de visitar pessoas que ficavam embaixo de uma velha ponte numa estrada abandonada, e que ruíra.... Iam ele, sua irmã Luiza e mais duas ou três pessoas muito pobres de sua comunidade.
À medida que eles aumentavam a freqüência de visitas, os necessitados foram se avolumando, e mal conseguiam víveres para o grupo, pois que os seus salários eram insuficientes, e todos eram pessoas de escassos recursos.
O esposo de Luíza, que era fiscal da prefeitura, recolhia, quando nas feiras-livres havia excedente, legumes e outros alimentos, e que eram doados para distribuir anonimamente, nos sábados, à noite, aos necessitados da ponte.
Houve, porém, um dia em que ele, Luíza e suas auxiliares não tinham absolutamente nada; decidiu-se então, não irem, pois aquela gente estava com fome e nada teriam para oferecer. Eles também estavam vivendo com extremas dificuldades.
Foi quando lhe apareceu o espírito do Dr. Bezerra de Menezes, que sugeriu colocassem alguns jarros com água, que ele iria magnetizá-los para serem distribuídas, havendo, ao menos, alguma coisa para dar. Ele assim o fez, e o Espírito benfeitor, utilizando-se do seu ectoplasma bem como o das demais pessoas presentes, fluidificou o líquido.
Esse adquiriu um suave perfume, e então o Chico tomou as moringas e, com suas amigas, após a reunião convencional do sábado, dirigiram-se à ponte. Quando lá chegaram encontraram umas 200 pessoas, entre crianças, adultos, enfermos em geral, pessoas com graves problemas espirituais, necessitados.
'Lá vem o Chico, dona Luíza' - gritaram e ele, constrangido e angustiado, por ter levado apenas água (o povo nem sabia o que seria água magnetizada, fluidificada) , pretendeu explicar a ocorrência. Levantou-se e falou:
- 'Meus irmãos, hoje nós não temos nada' - e narrou a dificuldade. As pessoas ficaram logo ofendidas, tomando atitudes de desrespeito, e ele começou a chorar. Neste momento, uma das assistidas levantou-se e disse:
' - Alto lá! Este homem e estas mulheres vêm sempre aqui nos ajudar, e hoje, que eles não têm nada para nos dar, cabe-nos dar-lhes alguma coisa.... Vamos dar-lhes a nossa alegria, vamos cantar, vamos agradecer a Deus.'
Enquanto ela estava dizendo isso, apareceu um caminhão carregado, e alguém, lá de dentro, interrogou:
- 'Quem é Chico Xavier?'
Quando ele atendeu, o motorista perguntou se ele se lembrava de um certo Dr. Fulano de Tal? Chico recordava-se de um certo senhor de grandes posses materiais que vivia em São Paulo, que um ano antes estivera em Pedro Leopoldo, e lhe contara o drama de que era objeto.
Seu filho querido desencarnara, ele e a esposa estavam desesperados - ainda não havia o denominado Correio de Luz, eram comunicações mais esporádicas - e Chico compadeceu-se muito da angústia do casal.
Durante a reunião, o filhinho veio trazido pelo Dr. Bezerra de Menezes e escreveu uma consoladora mensagem. Então o cavalheiro disse-lhe:
'- Um dia, Chico, eu hei de retribuir-lhe de alguma forma. Mas como é que meu filho deu esta comunicação?'
Chico explicou-lhe:
' - É natural esse fenômeno, graças ao venerando Espírito Dr. Bezerra de Menezes, que trouxe o jovem desencarnado para este fim', e deu-lhe uma idéia muito rápida do que eram as comunicações mediúnicas.
O casal ficou muito grato ao Dr. Bezerra de Menezes, e repetiu que um dia haveria de retribuir a graça recebida.
Foi quando o motorista lhe narrou:
- 'Estou trazendo este caminhão de alimentos mandado pelo Sr. Fulano de Tal, que me deu o endereço do Centro onde deveria entregar a carga, mas tive um problema na estrada, e atrasei-me; quando cheguei, estava tudo fechado. Olhei para os lados e apareceu-me um senhor de idade com barbas brancas, e perguntou o que eu desejava.
' - Estou procurando o Sr. Chico Xavier' - respondi.
' - Pois olhe: dobre ali, vá até uma ponte caída, e diga que fui eu quem o orientou' - respondeu-me.
' - E qual o seu nome?' - indaguei, e ele respondeu ' - Bezerra de Menezes'.

'Não ame pela beleza, pois um dia ela acaba.
 Não ame por admiração, pois um dia você se decepciona.
Ame..., apenas, pois o tempo nunca pode acabar com um amor sem explicação!'
Esse conto é baseado no livro "Lindos Casos de Chico Xavier" de Ramiro Gama

quinta-feira, 28 de julho de 2011

BASES DA AUM-BHANDÃ

A origem da Aumbanda (Aum-Bhandã) remonta do projeto do descobrimento das Américas, mais especificamente da parte continental conhecida hoje como Brasil, conforme descrito por Humberto de Campos [1]. Esse autor espiritual contou com detalhes os motivos do fracasso da escravização indígena e o porquê do tráfico negreiro e de suas consequências para tais almas, muitas delas com débitos imensos devido a Idade Média e as Cruzadas Santas.
Essas portentosas migrações (europeia e africana) se uniram sanguineamente aos nativos ameríndios, culminando na atual miscigenação do povo brasileiro. A esses se juntaram mais tarde asiáticos do médio e extremo oriente (turcos, libaneses, japoneses e chineses, principalmente), trazendo suas próprias qualidades e idiossincrasias.
Do meio pro final do século XIX, no Brasil, as religiões anciãs sofriam pesados encarceramentos por parte da Igreja Católica dominante. Os cultos religiosos negros estavam por demasiados presos ao sincretismo, à prática da magia negra e ao materialismo exacerbado, e, por sua vez, os índios praticamente amuralhados nas matas. Com isso, os espíritos benevolentes e em fase de depuração espiritual e moral não conseguiam campo propício para concretizar sua evolução. A solução surgiu, em França, com Allan Kardec e a Codificação Espírita. Esse foi um dos mais importantes marcos religioso e científico da época, pois redefiniu a “paranormalidade” e o Evangelho cristão, trazendo ambos para o campo das ciências naturais.
O Espiritismo, com a função de Consolador designado por Deus para fazer renascer o Cristianismo no seio da Terra, encontrou fecundo campo de atuação nas terras austrais latinas, pois aqui a população foi preparada espiritualmente para absorver tais ideias de forma paulatina, com as atuações dignificantes e abnegadas de Bezerra de Menezes e outros fundadores de casas e centros espíritas no Brasil.
Assim, em novembro de 1908, quando a família de Zélio Fernandino de Moraes, preocupada com a “loucura” do jovem e sem esperanças de cura pela medicina tradicional, percebeu o que o rapaz tinha não era físico, mas espiritual, levou-o a um centro espírita em Niterói. Ali, pela primeira vez apareceu a entidade fundadora da Aumbanda. Ao incorporar, os componentes da mesa espírita acharam que a entidade não era benévola, pelo modo como se comunicava, porém, um dos médiuns presentes era vidente e como a via envolta um facho de luz, decidiu perguntar o que ela queria. A resposta foi que ela veio fundar uma nova religião, a dos espíritos para a caridade, unindo o miscigenado povo brasileiro e seus antepassados. Não satisfeito, o médium perguntou-lhe o nome, que lhe foi respondido Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para ele não haveria caminhos fechados. E, continuando, disse que no dia seguinte apareceria na casa de Zélio para divulgar e assentar as bases da nova religião.
E, com efeito, no dia seguinte assim o fez. Proclamou os cinco pilares e outras recomendações que devem ser seguidas pelos filhos de fé aumbandista. São elas:
  1. Não matar, ou seja, não pode haver nenhum tipo de sacrifício de sangue. Isso porque não se deve louvar a Deus matando um filho d’Ele, filho esse que está em processo evolutivo anímico;
  2. Não cobrar, ou seja, não solicitar compensação pecuniária em hipótese alguma. O vil metal, além de ser uma das causas de perdição, cria naquele que possui a volúpia do desejo material;
  3. Vestir branco, aqui há um valor espiritual e outro simbólico. Simbólico porque a Aumbanda utiliza símbolos para mostrar aos pobres e ignorantes de espírito os valores do Alto Espiritual, então, usar branco significa vestir-se de caridade, pureza e humildade, mostrando que todos são iguais, pois, como disseram os Espíritos na codificação, todos nós nascemos simples e ignorantes. É uma volta a esse estágio inicial. A parte espiritual mostra a humildade e abnegação dos médiuns em ceder seu próprio corpo para que as entidades incorporadoras possam atuar no plano carnal.
  4. Evangelizar. Esse é o sentido primário da Aumbanda. Mostrar o caminho da Verdade, o meio para a evolução moral e espiritual que é o Evangelho de Senhor Jesus. E o que é evangelizar? Não é apenas dizer aos consulentes para ler e estudar, mas vivenciar a Boa Nova em toda a sua plenitude moral, começando pelos próprios médiuns que possuem muitos débitos a pagar e vieram aprender com seus guias no plano carnal. Cada médium tem de ser ele próprio um cartaz da Boa Nova, vivenciando-a a todo o momento. Sendo humilde, manso, caridoso não apenas durante os cultos, mas durante a vida toda. A evangelização foi posta pelo Caboclo não apenas para o público em geral, mas, mais especificamente, para aqueles que forem chamados e aceitaram, antes de nascer, a servirem aos guias, pois sem exemplos e trabalho árduo, a fé esmorece.
  5. E, por último, mas não menos importante, utilizar as energias vitais do planeta. Aqui entraram as raízes ameríndias e africanas. Os índios com seus conhecimentos de medicina herbácea e os africanos com seus procedimentos magísticos de comunhão com os raios dos engenheiros cósmicos protetores do planeta. Talvez neste pilar esteja o maior campo para mistificação na Aumbanda e o que a separa do Espiritismo da linha kardecista, pois todos os anteriores, à exceção do vestir branco, são utilizados também pelos espiritistas. A mistificação pode ocorrer no sentido de se introduzir elementos estranhos à Aumbanda no trato das ervas e dos símbolos de ocultismo inócuos.


[1] Xavier, Francisco Cândido – Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo espírito Humberto de Campos, Ed. FEB


quarta-feira, 27 de julho de 2011

O SAL DA TERRA

MATEUS, Cap.V, v.13-16. - MARCOS, Cap.IX, v.49 e Cap.IV, v.21-23. - LUCAS, Cap.XIV, v.34-35; Cap.VIII, v.16-17; Cap.XI, v.33-36

Sal e luz da terra. - Lâmpada. - Nada oculto que não venha a ser manifesto e nada secreto que não venha a ser conhecido e a tornar-se público.

MATEUS: V. 13. Sois o sal da terra. Se o sal perder a sua força, com que se salgará? Para nada mais servirá senão para ser posto fora e pisado pelos homens. - 14. Sois a luz do mundo. Uma cidade situada sobre um monte não pode ficar escondida. - 15. E ninguém acende uma lâmpada para a colocar debaixo do alqueire; coloca-a num candeeiro a fim de que ilumine a todos os que estão na casa. - 16. Que assim também a vossa luz brilhe diante dos homens; que eles vejam as vossas obras e glorifiquem a vosso pai que está nos céus.
MARCOS: IX, v. 50. O sal é bom, mas, se se tornar insípido, com que temperareis? Tende sal em vós e conservai entre vós a paz.
IV, v.21. Dizia-lhes: Porventura vem a lâmpada para ser posta debaixo do alqueire ou da cama, ou para ser colocada no candeeiro? - 22. Porque, nada há secreto que não venha a ser manifesto, nada oculto que não venha a ser público. - 23. Ouça quem tenha ouvidos de ouvir.
LUCAS: XIV, v. 34. O sal é bom, mas se se deteriorar, com que se há de temperar? - 35. Não servirá mais nem para a terra nem para a estrumeira; será posto fora. Ouçam os que têm ouvidos de ouvir.
VIII, v.16. Ninguém, depois de acender uma lâmpada, a cobre com um vaso ou a coloca debaixo do leito; põe-na no candeeiro a fim de que os que entrarem vejam a luz. - 17. Porque, nada há oculto que não venha a tornar-se manifesto, nada secreto que não venha a ser conhecido e a fazer-se público.
XI, v. 33 Ninguém acende uma lâmpada e a coloca em lugar escondido ou debaixo de um alqueire; coloca-a no candeeiro, a fim de que todos os que entrarem vejam a luz. – 34. Teu olho é a lâmpada do teu corpo; se teu olho é simples, todo o teu corpo será luzente; mas, se for mau, todo o teu corpo será tenebroso. - 35. Toma, pois, cuidado: não seja treva a luz que está em ti. - 36. Se, portanto, todo o teu corpo for luminoso, sem que haja nele parte alguma tenebrosa, todo ele luzirá e te iluminará, qual se fora brilhante lâmpada.

Temos que vos explicar figuras que, entretanto, não são veladas para espíritas.
O sal, aqui, representa os ensinos que o homem traz consigo e que deve espalhar em torno de si. Sua moralidade, seu amor a Deus, sua submissão às leis divinas e, por conseguinte, a observância de todos os mandamentos que venham do Senhor e do seu Cristo é o sabor do homem. Se, arrastado por maus instintos, o homem deixa de ter presente o fim que lhe cumpre atingir e os meios de consegui-lo, perde o seu sabor e é posto fora. Quer dizer: o Espírito culpado, que faliu nas suas provações terrenas, é submetido, primeiro, à expiação na erraticidade, mediante sofrimentos ou torturas morais apropriados e proporcionados às faltas ou crimes cometidos, depois, à reencarnação, conforme ao grau de culpabilidade, quer no vosso mundo, quer em planetas inferiores a este, onde, por meio de novas provações, terá que reparar e expiar aquelas faltas e progredir.
Será posto fora. Ouça o que tem ouvidos de ouvir. Na época em que, tendo de completar-se a regeneração humana, o vosso planeta só deva ser habitado por bons Espíritos, aquele que até então houver permanecido culpado, rebelde, será afastado e lançado nos mundos inferiores, onde irá expiar, durante séculos, sua obstinação no mal, sua voluntária cegueira.
Quanto ao mais, precisareis vós, espiritas, que vos expliquemos a figura do sal da terra, da luz do mundo e da lâmpada que ninguém coloca, depois de acesa, debaixo do alqueire ou da cama, mas no candeeiro, para que os que entrem na casa vejam a luz e sejam alumiados?
As palavras de Jesus a esse respeito se aplicam a todos os tempos e a todos os homens que se tornam apóstolos de uma revelação para propagá-la pelo exemplo e pela palavra.
Sois hoje, para a nova revelação, "o sal da terra, a luz do mundo", como os discípulos do Cristo o foram para a revelação que ele trouxera com a palavra evangélica.
Será preciso que se vos diga: Recebestes a luz, porém não para vosso uso exclusivo; tendes que a repartir com os vossos irmãos, dando a cada um de acordo com as suas necessidades? Esclarecei-os, portanto; sede o facho portador dessa claridade bendita; agitai-o para que seus raios penetrem por toda a parte e todos sejam alumiados.
Referiam-se ao futuro estas palavras de Jesus:
“NADA há oculto que não venha a ser manifesto, NEM secreto que não venha a ser conhecido e a fazer-se público: ouçam os que têm ouvidos de ouvir."
Ele apropriava aos homens da época os ensinos que lhes dava e que eram sementes destinadas a frutificar no porvir. Seus discursos velados teriam que ser compreendidos pelas gerações porvindouras. Apenas alguns homens estavam então em condições de lhes apreender o sentido: os que não os tomaram ao pé da letra, que lhe procuraram o espírito, que compreenderam não ter tido Jesus por missão opor uma barreira à inteligência humana, traçando-lhe determinados limites, e sim abrir o espaço e o futuro diante dos Espíritos progressistas.
O Cristo falava por figuras e símbolos, porque a inteligência humana não dispunha ainda de força bastante para suportar o peso das revelações que se ocultam sob o véu daqueles símbolos e figuras. Julgai-o por vós mesmos, que ainda agora vergais debaixo de tal peso.
Nada do que o homem deva saber permanecerá oculto e o homem chegou ao ponto em que a sua ciência terá que crescer rapidamente. Entretanto, não suponhais, tomados de orgulho, que vos acheis no momento da realização de todas as coisas. Vossos Espíritos estão ainda muito carregados de trevas. Ainda sois como as crianças inexperientes que imprudentemente se aproximam do fogo e se queimam de modo cruel. Tomai cuidado; vigiai-vos. Aquecei-vos na fornalha que Deus vos prepara, mas tende a prudência de Moisés. Não vos avizinheis demais da sarça ardente, que correríeis o risco de ser consumidos pelas chamas.
Paciência. Deus prepara grandes acontecimentos para a vossa regeneração. Aguardai-os seguindo a passo lento, mas sem desvio, a rota que vos traçamos. Conduzir-vos-emos ao ponto de onde parte a luz infinita, porém deixai que estendamos asas protetoras sobre os vossos olhos ainda muito fracos para lhe contemplarem os intensos raios.
Na consciência tendes o facho do vosso espírito, do vosso coração. Se ela for pura, tereis iluminados um e outro. Tudo neles será luminoso, pois que vos vereis assistidos, inspirados e protegidos pelos bons Espíritos. Se for impura, má a vossa consciência, de trevas se vos encherão o coração e o Espírito, visto que vos tomareis presas dos Espíritos do erro e da mentira, dos maus Espíritos.
Tomai sentido com a vossa consciência, a fim de que essa luz existente em vós não se transforme, para os vossos corações e Espíritos, em verdadeira treva pela impureza de ambos. Conservareis a paz entre vós, se ensinardes pelo exemplo o que pregais.

J-B. Roustaing
Os Quatro Evangelhos
Trad. Guillon Ribeiro Ed. FEB

terça-feira, 26 de julho de 2011

DESTINOS

A árvore generosa eleva-se à beira da estrada.
Os viandantes que passam famintos e exaustos buscam-lhe os frutos.
E, no desvario de suas necessidades, atiram-lhe pedras.
Espancam-na com varas.
Sacodem-lhe os galhos.
Quebram-lhe as grimpas.
Talam-lhe as folhas.
Sufocam-lhe as flores.
Esmagam-lhe os brotos tenros. Ferem-lhe o tronco. Mas, a árvore, sem queixa nem revolta, balouçando as frondes, doa, a todos que a. maltratam, os frutos substanciosos e opimos de sua própria seiva.
Esse é o seu destino.
*
Também na estrada da existência onde você vive, transitam os viajores da evolução apresentando múltiplas exigências a lhe rogarem auxilio.
E, na loucura de seus caprichos, atiram-lhe pedras de ingratidão.
Espancam-lhe o nome com as varas da injúria. Sacodem-lhe o coração a golpes de violência. Quebram-lhe afeições preciosas, usando a calúnia.
Talam-lhe os serviços com a tesoura da incompreensão.
Sufocam-lhe os sonhos nos gases deletérios da crueldade.
Esmagam-lhe as esperanças com as pancadas da crítica.
Ferem-lhe os ideais com a lâmina da ironia. A todos, porém, sorrindo fraternalmente, aprenda com a árvore generosa a doar os frutos do próprio esforço, sem revolta e sem queixa.
*
Quando esteve humanizado entre nós, com amor incomum, esse foi o destino de Jesus, Nosso Mestre.

Valérium
Por Waldo Vieira
In Bem-Aventurados os Simples, Ed. FEB, 1962
Espírita, não estranhe se esse é o seu destino.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O AMOR VENCEU A MORTE

Fábula védica sobre amor e morte:

A História de SavitriEsta é a história de uma das mulheres mais castas do planeta. Muitos sábios a mencionam como exemplo da mulher ideal a ser seguido.
Havia um rei chamado Asvapati, que tinha uma filha tão formosa e meiga, que lhe deram o nome de Savitri, que está ligado a uma oração sagrada dos Vedas. Quando era jovem e seguindo os costumes ksatryas, seu pai mandou-lhe escolher seu marido. Savitri aceitou o conselho de seu pai. A carruagem real, acompanhada de uma brilhante escolta e antigos potentados que dela cuidavam, visitou várias cortes vizinhas e outros reinos distantes, sem que nenhum príncipe conseguisse sensibilizar seu coração.
Aconteceu que a comitiva passou por uma ermida localizada em um daqueles bosques da Índia antiga, no qual a caça era proibida, de sorte que os animais que ali viviam tinham perdido todo o medo do homem e até os peixes dos lagos apanhavam com a boca migalhas de pão, que lhes eram dadas com as mãos. Havia milhares de anos que não se matava nenhum ser daquele bosque; os sábios e anciãos desgostosos do mundo lá se retiravam, a fim de viverem em companhia dos cervos e das aves, entregando-se à meditação e aos exercícios espirituais pelo resto de suas vidas.
Nesta época, um rei chamado Dyumatsena, já velho e cego, vencido e destronado por seus inimigos, refugiou-se no bosque fechado com sua esposa rainha e seus filhos, dos quais o mais velho se chamava Satyavan. O rei e sua família ali viviam de forma ascética, em rigorosa penitência.Na Índia antiga, era costume que todo rei ou príncipe, por mais poderoso que fosse, ao passar pela ermida de um varão sábio e santo retirado do mundo, ali se detivesse para tributar-lhe homenagens; tais eram o respeito e a veneração que os reis prestavam aos yogis e rishis.
O mais poderoso monarca da Índia sentia-se honrado, quando podia demonstrar sua descendência de algum yogi ou rishi que tivesse vivido no bosque, alimentando-se de frutas e raízes e coberto de andrajos.Assim, quando se aproximavam a cavalo de alguma ermida, apeavam muito antes de chegar a ela e andavam a pé até o local onde estava o eremita. Quando viajavam de carruagem ou armados, também desciam e desvencilhavam-se de seus paramentos militares e depois entravam na ermida, pois era costume que ninguém entrasse naqueles retiros ou ashramas sagrados com armamentos militares, mas sim com uma atitude serena, pacífica e humilde.Fiel ao costume, Savitri entrou na ermida do bosque sagrado e, ao ver Satyavan, filho do rei destronado e eremita, ficou profundamente apaixonada por ele. Antes, ela havia desprezado os príncipes de todas as cortes e unicamente o filho do destronado Dyumatsena havia lhe arrebatado o coração.Quando a comitiva voltou à corte, o rei Asvapati perguntou à filha:
-         Diz-me, Savitri querida, vistes alguém digno de ser teu esposo?
-         Sim, pai querido – respondeu Savitri, ruborizada.
-         Qual é o nome do príncipe?
-         Já não é príncipe, meu pai, porque é filho do rei Dyumatsena, que perdeu o seu reino. Não tem patrimônio e vive como um sannyasi no bosque, colhendo ervas e raízes para alimentar-se e manter seus velhos pais, com os quais mora numa cabana.
Ao ouvir o relato dos lábios de sua filha, o rei Asvapati consultou o sábio Narada, que se achava presente. Narada declarou que aquela escolha era o mais funesto presságio que a princesa poderia ter. O rei pediu a Narada que explicasse os motivos de sua declaração e ele respondeu:
-         Daqui a um ano este jovem morrerá.
Aterrorizado por este vaticínio, o pai disse à filha:
-         Pensa, Savitri, que este jovem que escolhestes morrerá dentro de um ano e ficarás viúva. Desiste da escolha, filha minha; não te cases com um jovem de tão curta vida.
Contudo, Savitri respondeu:
-         Não importa, meu pai. Não me peças que me case com outro e sacrifique a castidade da minha mente, porque em meu pensamento e coração, amo o valente e virtuoso Satyavan e o escolhi para esposo. Uma donzela escolhe uma só vez e jamais quebra sua fidelidade.
Ao vê-la tão decidida, o pai resignou-se à vontade de Savitri que, desta forma, casou-se com o príncipe Satyavan e deixou tranqüilamente o palácio do seu pai para viver na cabana do bosque com o eleito do seu coração, ajudando-o a sustentar seus velhos pais. Embora Savitri soubesse quando seu marido iria morrer, sobre isto guardou estrito segredo.Todos os dias, Satyavan entrava no bosque para colher frutas, flores e reunir feixes de lenha, voltando com a carga para a cabana, onde sua esposa preparava sua refeição.Assim transcorria o tempo, até que três dias antes da data fatal, a moça resolveu passar três dias e três noites em completo jejum e fervorosas orações, sem deixar transparecer sua angústia e ocultando suas lágrimas. Finalmente, amanheceu o dia marcado pelo presságio e, não querendo perder de vista seu marido nem por um momento, Savitri solicitou e obteve dos seus pais permissão para acompanhá-lo, quando ele saísse para a colheita diária de ervas, raízes e frutas silvestres no interior do bosque. Assim foi feito.Estavam os dois no bosque quando, com voz enfraquecida, Satyavan queixou-se à sua esposa dizendo:
-         Querida Savitri, sinto-me aturdido, meus sentidos se esvaem e o sono me invade. Deixa-me repousar um pouco ao teu lado.
Trêmula e assustada, Savitri replicou:
-         Meu amado, vem e repousa tua cabeça em meu colo.
Satyavan reclinou a cabeça ardente no colo de sua esposa e, instantes depois, exalou seu último suspiro. Abraçada ao cadáver do seu marido, desfeita em lágrimas, Savitri permaneceu na solidão do bosque, sentada no chão, até que chegaram os emissários da morte para levar a alma de Satyavan.No entanto, nenhum deles pode acercar-se do local onde estava Savitri com o cadáver de Satyavan, porque ardia um círculo de fogo que rodeava a união formada pela vivente e seu marido morto.Por esta razão, os emissários voltaram até onde se encontrava Yamaraja, o semideus da morte, e explicaram-lhe porque não puderam trazer a alma de Satyavan.Assim sendo, Yamaraja foi pessoalmente ao bosque e, como era um semideus, conseguiu atravessar sem perigo o círculo de fogo e aproximar-se do local em que estava Savitri. Lá chegando, disse a ela:
-         Minha filha, entrega-me este cadáver, pois já sabes que a morte é o destino de todo mortal. A morte é o destino irrevogável do homem.
Savitri deixou o cadáver do seu marido e Yamaraja, tirando-lhe a alma, com ela se afastou; porém, não havia andado muito, quando ouviu atrás de si passos sobre as folhas secas. Ao voltar-se, viu Savitri, a quem disse com paternal ternura:
-         Savitri, minha filha, por que me segues? Este é o destino de todos os mortais.
Savitri respondeu:
-         Não sigo a ti, senhor meu, porque o destino da mulher é ir onde seu amor a leva; a lei eterna não separa o amoroso esposo da fiel esposa.
Então Yamaraja disse:
-         Pede-me a graça que quiseres, menos a vida do teu marido.
Ao que ela respondeu:
-         Se desejas outorgar-me uma graça, Ó semideus da morte, peço-te que devolvas a vista de meu sogro e que ele seja feliz.
Yamaraja replicou:
-         Cumpra-se teu piedoso desejo, respeitosa filha.
E ele seguiu seu caminho com a alma de Satyavan. Novamente ouvindo passos, voltou-se e viu que Savitri ainda o acompanhava.
-         Savitri, minha filha, ainda me segues?
-         Sim, meu senhor; nada posso fazer, pois embora me esforce por voltar, a mente corre atrás do meu marido e o corpo obedece. Tens a alma de Satyavan e como sua alma também é minha, meu corpo a acompanha.
Então, Yamaraja disse:
-         Agradam-me tuas palavras, formosa Savitri. Pede-me outra graça, menos a vida do teu marido.
-         Se vos dignares a conceder-me outra graça, faze com que meu sogro recupere seu reino e suas riquezas.
-         Concedo-te, filha amorosa, mas volta para seu lugar, porque nenhum ser vivente pode andar em companhia de Yamaraja.
E o semideus da morte seguiu seu caminho.
Contudo, Savitri insistia em acompanhá-lo e, voltando-se, Yamaraja com ela dialogou:
-         Nobre Savitri, não me sigas com tua dor sem esperança.
-         Não tenho remédio, senão ir para onde levas meu marido.
-         Suponha, Savitri, que teu marido foi um perverso e que o levo para o inferno. Irias acompanhar teu marido?
-         Iria alegre para onde ele fosse, quer na vida, quer na morte, seja no céu, seja no inferno.
-         Benditas sejam tuas palavras, minha filha. Deixaste-me comovido. Pede-me outra graça, que não seja a vida de teu marido.
-         Pois, já que me permites pedir-vos, faze com que não se quebre a régia estirpe do meu sogro e que seu reino seja herdado pelos filhos de Satyavan.
Yamaraja sorriu e disse:
-         Filha minha, teu desejo será cumprido. Aqui tens a alma do teu marido. Ele voltará a viver e será pai dos teus filhos que, com o tempo, serão reis. Volta para tua casa. O amor triunfou sobre a morte. Jamais mulher alguma amou como tu e és a prova de que até eu, o semideus da morte, nada posso contra a força de um verdadeiro e perseverante amor!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

PARA SER FELIZ

“E não nos cansemos de fazer o bem, porque há seu tempo ceifaremos, se não houvermos desfalecido”.
PAULO. (Gálatas, 6.9).
Confia em Deus.
Aceita no dever de cada dia a vontade do Senhor para as horas de hoje.
Não fujas da simplicidade.
Conserva a mente interessada no trabalho edificante.
Detém-te no “lado bom” das pessoas, das situações e das coisas.
Guarda o coração sem ressentimento.
Cria esperança e otimismo onde estiveres.
Reflete nas necessidades alheias, buscando suprimi-las ou atenuá-las.
Faze todo o bem que puderes, em favor dos outros sem pedir remuneração.
Auxilia muito.
Espera pouco.
Serve sempre.
Espalha a felicidade no caminho alheio, quanto seja possível.
Experimentemos semelhantes conceitos na vida prática e adquiriremos a luminosa ciência de ser feliz.
Emmanuel

In Caminho Espírita
Por Francisco Cândido Xavier
Ed. CEC

quinta-feira, 21 de julho de 2011

ALLAN KARDEC E O PRETO VELHO

Pouca gente sabe, mas numa das reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, Allan Kardec evocou um Espírito que, segundo as terminologias da cultura brasileira, poderia ser classificado como um “preto velho”. Esse encontro, narrado pelo próprio Kardec nas páginas da sua histórica “Revista Espírita” (Revue Spirite), de junho de 1859, aconteceu na reunião do dia 25 de março de 1859.

Pai César – este o nome do Espírito comunicante – havia desencarnado em 8 de fevereiro também de 1859 com 138 anos de idade – segundo davam conta as notícias da época –, fato este que certamente chamou a atenção do Codificador, que logo se interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o falecido, que havia encerrado a sua existência física perto de Covington, nos Estados Unidos.
Pai César havia nascido na África e tinha sido levado para a Louisiana quando tinha apenas 15 anos.
Antes de iniciar a sessão em que se faria presente Pai César, Allan Kardec indagou ao Espírito São Luís, que coordenava o trabalho, se haveria algum impedimento em evocar aquele companheiro recém-chegado ao Plano Espiritual. Ao que respondeu São Luís que não, prontificando-se, inclusive, a prestar auxílio no intercâmbio. E assim se fez. A comunicação, contudo, mal iniciada, já conclamou os participantes do grupo a muitas reflexões. Na sua mensagem, Pai César desabafou, expondo a todos as mágoas guardadas em seu coração, fruto dos sofrimentos por que passara na Terra em função do preconceito que naqueles dias grassava em ainda maior escala do que hoje. E tamanhas eram as feridas que trazia no peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de voltar à Terra novamente como negro, estaria assim, no seu entendimento, fugindo da maldade, fruto da ignorância humana. Quando indagado também sobre sua idade, se tinha vivido mesmo 138 anos, Pai César disse não ter certeza, fato compreensível, como esclarece o Codificador, visto que os negros não possuíam, naqueles tempos, registro civil de nascimento, sobretudo os oriundos da África, pelo que só poderiam ter uma noção aproximada da sua idade real.
A comunicação de Pai César certamente ajudou Kardec, em muito, a reforçar as suas teses contra o preconceito, o mesmo preconceito que o levou a fazer, dois anos depois, nas páginas da mesma “Revista Espírita”, em outubro de 1861, a declaração a seguir, na qual deixou patente o papel que o Espiritismo teria no processo evolutivo da Humanidade, ajudando a pôr fim na escuridão que ainda subjuga mentes e corações: “O Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, apaga naturalmente todas as distinções estabelecidas entre os homens segundo as vantagens corpóreas e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor.”
Abaixo segue a transcrição da Revue Spirite:
O negro Pai César.
Pai César, homem livre de cor, morto em 8 de fevereiro de 1859, coma idade de 138 anos, perto de Covington, nos Estados Unidos. Era nascido na África e foi conduzido à Lousiana com a idade de cerca de 15 anos. Os restos mortais desse patriarca da raça negra foram acompanhados, ao campo de repouso, por um certo número de habitantes de Covington, e uma multidão de pessoas de cor.
Sociedade, 25 de março de 1859.
1. (A São Luís) Poderíeis nos dizer se podemos chamar o Pai César, de quem acabamos de falar? - R. Sim, eu o ajudarei a vos responder.
Nota. Esse início faz pressagiar o estado do Espírito que se desejava interrogar.
2. Evocação. - R. Que quereis de mim, e o que pode um pobre Espírito como eu em uma reunião como a vossa?
3. Sois mais feliz agora do que quando vivo? - R. Sim, porque minha condição não era boa na Terra.
4. Entretanto, éreis livre; em que sois mais feliz agora? - R. Porque meu Espírito não é mais negro.
Nota. Essa resposta é mais sensata do que parece à primeira vista. Seguramente, o Espírito jamais é negro; ele quis dizer que, como Espírito, não tem mais as humilhações das quais é alvo a raça negra.
5. Vivestes muito tempo; isso aproveitou para o vosso adiantamento? - R. Eu me desgostei na Terra, e não sofri bastante, em uma certa idade, para ter a felicidade de avançar.
6. Em que empregais vosso tempo agora? - R. Procuro esclarecer-me e em que corpo poderei fazê-lo.
7. Que pensáveis dos Brancos, quando vivo? - R. Eram bons, mas orgulhosos de uma brancura da qual não eram a causa.
8. Consideráveis a brancura como uma superioridade? - R. Sim, uma vez que eu era desprezado como negro.
9. (A São Luís). A raça negra é verdadeiramente uma raça inferior? - R. A raça negra desaparecerá da Terra. Ela foi feita para uma latitude diferente da vossa.
10. (A Pai César). Dissestes que procuráveis o corpo pelo qual poderíeis avançar; escolhereis um corpo branco ou um corpo negro? - R. Um branco, porque o desprezo me faria mal.
11. Vivestes realmente a idade que se vos atribui: 138 anos? -R. Não contei bem, pela razão que dissestes.
Nota. Vem-se de fazer a observação de que os negros, não tendo estado civil, sua idade não é julgada senão aproximadamente, sobretudo quando nasceram na África.
12. (A São Luís). Os Brancos se reencarnam, algumas vezes, em corpos negros? - R. Sim, quando, por exemplo, um senhor maltratou um escravo, ele pode pedir para si, por expiação, viver num corpo de negro para sofrer, a seu turno, todos os sofrimentos que fez sentir e, por esse meio, avançar e alcançar o perdão de Deus.

Fonte: Teoria da Conspiração  (http://www.deldebbio.com.br/index.php/2011/04/11/allan-kardec-e-o-preto-velho/) e Portal do Espirito (http://www.espirito.org.br/portal/codificacao/re/1859/06c-conversas-familiares.html)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O CÂNTICO DIVINO

Por que você se preocupa sem motivo?
De quem você tem medo, sem razão?
Quem poderia matá-lo?
A alma não nasce nem morre.
Seja o que for que aconteceu, foi para o bem;
o que quer que esteja acontecendo, está acontecendo para o bem;
o que quer que virá a acontecer, também será somente para o bem.
Não sofra pelo passado.
Não se preocupe pelo futuro.
É o presente que está acontecendo agora...
O que é que você perdeu, que o faz chorar?
O que será que você trouxe consigo, que acha que perdeu?
O que será que você construiu, que acha que foi destruído?
Você não trouxe nada,
seja o que for que você tenha, você recebeu daqui.
Seja o que for que você deu, você deu somente aqui.
O que quer que você pegou, você pegou de Deus.
O que quer que você deu, você deu a Ele.
Você chegou de mãos vazias,
você retornará de mãos vazias.
O que é seu hoje, pertenceu a alguém ontem,
e pertencerá a alguém depois de amanhã.
Você está desfrutando erroneamente do pensamento de que isto é seu.
A causa de seus sofrimentos é esta felicidade ilusória.
Mudança é a lei do Universo.
O que você acha que é morte, é certamente vida.
Num momento você pode ser um milionário
e no outro poderá estar afundado na pobreza.
Seu e meu, grande e pequeno,
Apague estas idéias de sua mente.
Pois tudo é seu e você pertence ao Todo.
Este corpo não é seu e nem você é deste corpo.
O corpo é feito de fogo, água, terra e éter
e um dia desaparecerá nestes elementos.
Porém a alma é eterna - então, quem é você?
Dedique seu ser a Deus.
Ele é o único em quem podemos confiar.
Aqueles que tem consciência de Seu amparo
são eternamente livres de medo, preocupações e tristezas.
Qualquer coisa que você faça, faça-o dedicado a Deus.
Pois isto lhe proporcionará, para sempre,
a enorme experiência da alegria e liberdade de viver.

Bhagavad Gita

terça-feira, 19 de julho de 2011

O ATLETA DORMINHOCO

Wim Essajas, cidadão do Suriname, havia treinado rigorosamente durante vários anos. O seu objetivo era competir nas Olimpíadas de 1960, em Roma. Era o único atleta do Suriname a concorrer e a especialidade dele era a corrida de 800m.  Essa modalidade era muito disputada e os demais competidores acompanhavam de perto o desempenho de Essajas. As notícias de suas proezas haviam ultrapassado as fronteiras do Suriname e todos temiam que ele conquistasse a medalha de ouro.
Entretanto, no dia da competição, algo de incomum aconteceu. O horário da corrida foi antecipado e, à última hora, os atletas ainda estavam dormindo. Os organizadores enviaram mensageiros para despertar os velocistas, os quais se levantaram e se prepararam para a corrida. Todos, menos Essajas… ele despertou por um segundo e contestou o mensageiro, e, em seu cansaço, virou-se para o outro lado e caiu em profundo sono. Na hora da competição, não se achava presente. A corrida foi realizada sem ele. Os outros competidores lamentaram muito a ausência dele, exatamente porque Essajas era o atleta que tinha mais probabilidades de vencer e enquanto a corrida se desenrolava, ele simplesmente estava dormindo.
Esta história verídica serve como metáfora para a situação espiritual de todos nós. A cada dia de nossas vidas acordamos, estudamos, lutamos em nossos trabalhos e, na hora que realmente somos intimados a fazer valer a nossa encarnação, não aceitamos o chamado e vemos as oportunidades passarem. Deixamos para depois sempre o que podemos fazer hoje, a caridade para com o próximo, a palavra de conforto ao desolado, o carinho amigo sem pretensões, o sorriso descompromissado…
Estamos sempre correndo atrás do “coelho branco” de nossas aspirações ilusórias e esquecemos daquilo que realmente importa, a paz e felicidade espirituais que só podem ser alcançadas ao fazermos o bem a todos, sem distinção.
Esse atleta não teve outra oportunidade. Nós outros, sim. Deus nos dá várias oportunidades, todos os dias, todo o tempo, para pensarmos e agirmos bem. Não podemos permitir que o comodismo e a conveniência do materialismo deste mundo nos adormeçam.
Devemos sempre ter em mente as palavras do Mestre Sublime: “Por que estais dormindo? Levantai-vos e orai, para que não entreis em tentação.” (Lucas, 22:46.) Trabalhemos, oremos, vigiemos a nós mesmos para transformarmos este planeta em um ambiente regenerado e bondoso.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

OBSERVA-TE

Não te eleves acima da humanidade, todos cá estamos nesta universidade terrícola material em iguais condições, ou seja, passando por provas, expiações e missões as mais diversas. Deus Pai dá a cada um segundo suas obras pretéritas e a elas devemos nos ocupar. Não abuses da capacidade de discernimento ao observar a tarifa alheia e ver suas faltas e dificuldades, pois tens também a tua parcela.
Se a um é dado a faculdade de pensar, ou de inventar ou de, até, servir de intermediário com outras esferas de consciência, não o inveje, não queira estar em seu lugar, pois não sabes o que ele deve ter feito antes para que cumpra hoje tal obrigação.
Observa-te a ti mesmo antes, olhe para dentro de ti e reflitas no que fazes neste planeta.  Se fazes o bem, o mal, ou é indiferente, é uma coisa que terás de dar conta quando chegar o termo de sua existência no vaso carnal atual. Serás medido pelo mesmo metro que haveis de ter medido teu irmão, e não reclameis do que te será dado. Use o hoje e o que tens em mãos para construir o ditoso futuro sem invejar a posição do próximo. Trabalhe, confie e segue os mandamentos do Divino Mestre e terás paz na consciência.
Emereciana
12/07/2011

sexta-feira, 15 de julho de 2011

ANÁLISE ESPIRITUALISTA DO FILME “O PÁSSARO AZUL” - 3ª E ÚLTIMA PARTE

- o caminho do futuro: levadas pela Luz, as crianças sobem as escadas em direção ao Futuro. Lá encontram um amplo salão com dezenas de crianças e jovens. Logo, Mytyl e Tyltyl são reconhecidos como “crianças vivas” (encarnadas). As “crianças mortas” (desencarnadas) lá estão, trabalhando e estudando, com “esperança de nascerem novamente”, retificando que no plano espiritual não há descanso beatífico ou sofrimento eterno, todos temos de trabalhar, pois como disse Jesus “se o Pai não para de trabalhar, por que nós assim devemos agir?”. “Temos que esperar nossa vez”, dizem, em conformidade nos ensinam os livros psicografados por Chico Xavier “Crianças no Além” e “Escola no Além.”
Uma das meninas reconhece os ainda estupefatos Mytyl e Tyltyl como seus futuros irmãozinhos. Ela, então, afirma: “Acho que, dentro de um ano, serei irmãzinha de vocês. Mas, ficarei pouco tempo.” Um dos jovens, profundamente idealista, compara sua vida atual (“aqui somos livres, iguais e unidos”) com a terrena cheia de escravidão e desigualdades, e pretende trabalhar pela melhoria da vida dos encarnados, mas argumenta que poderá ser incompreendido e, até mesmo, destruído. Em face de seu elevado ideal, recebe palavras de estímulo da graciosa Mytyl. Outra criança chora porque tarda muito sua volta a Terra, explicando que “meus pais não têm tempo para mim!” 
Eis que uma porta do grande salão se abre, e surge um respeitável velho de longas barbas, Pai Tempo, que passa a ler, num pergaminho, os nomes das crianças e jovens destinados a “descerem” (reencarnarem). Junto à porta, um lindo barco estaciona para recebê-los. A separação de um casal de jovens, que muito se amam, se faz com abundantes lágrimas e até com desespero da moça, que ainda permanecerá algum tempo no Além e, ao reencarnar, não encontrará mais o amado em posição de ser seu companheiro. A uma, Pai Tempo repreende por tentar, pela terceira vez, reencarnar antes da hora. Essa parte mostra que as encarnações são comandadas e encetadas por seres acima de nós e nos é dada determinada missão e que aceitamo-las antes de virmos. Essas missões podem ser de prova ou de expiação, de aprendizado ou de benemerência, não há missões grandes ou pequenas, nos é dado conforme nossas obras anteriores.

- a volta para casa: Após isso, Mytyl e Tyltyl voltam à crosta, com outra visão da vida, especialmente ela, profundamente renovada, sendo conduzidos até a porta de seu modesto lar, pela Luz. Com palavras de esperança, esta conforta as crianças, que não queriam se separar de tão bondosa criatura, inclusive afirmando à menina: “estarei em cada bom pensamento de sua alma.”
Neste ponto nos é mostrado que tudo se passou em desdobramento sonambúlico. As crianças acordam em suas camas alegres por verem a mãe. A alegria da casa se completa com a notícia de que o pai não vai à guerra, pelo menos, naquele Natal. Ao ver o pássaro que havia pego no dia anterior, Mytyl percebe que ele virara azul. Pondo a roupa rapidamente, ela e Tyltyl levam o pássaro à Angela, que se recupera repentinamente de sua doença. Ao tentar pegar a ave, Angela deixa-o fugir e cai em prantos. Mytyl, mostrando toda sua reforma íntima, abre um sorriso, consola a amiga e diz para ela não se preocupar, porque agora sabe onde encontrá-lo.

- conclusão: embora O Pássaro Azul não tenha alcançado um sucesso financeiro na época do seu lançamento e tenha sido citado por muitos críticos como uma cópia barata de O Mágico de Oz, esta obra foi meio injustiçada ao longo dos anos e poderia ser vista como muito mais do que uma resposta da Fox ao Leão da MGM. Walter Lang consegue conservar a ingenuidade e fantasia necessárias para agradar as crianças e a fotografia e os Efeitos Visuais são um prato cheio para os adultos que gostam do gênero.
O filme todo é permeado de assuntos espirituais, levando-nos ao passado, presente e futuro, mostrando-nos que a felicidade não está em um ser ou objeto, mas na nossa vontade de nos contentarmos com o que temos, batalhar para conseguir aquilo que desejamos sem prejudicar ninguém e realizar o que aceitamos fazer nesta Terra. As lições de reforma íntima de Mytyl tocam-nos o coração, porque mostra que é possível. Tal reforma não foi mostrada de uma hora para outra, ela é conquistada pela dor das lutas contra o medo, avareza, cupidez, inveja e, para isso, precisou ser corajosa, humilde, resignada e ter a alma aberta para o novo.



Elenco
Shirley Temple .... Mytyl
Johnny Russell .... Tyltyl
Eddie Collins .... Tylo
Gale Sondergaard .... Tylette
Spring Byington ....  Mamãe Tyl
Russell Hicks .... Papai Tyl
Jessie Ralph .... Fada Berylune
Helen Ericson .... Luz
Nigel Bruce .... Sr. Fartura
Laura Hope Crews .... Sra. Fartura
Al Shean .... Vovó Tyl
Russell Hicks .... Vovô Tyl
Edwin Maxwell .... Papai Árvore
Payne B. Johnson .... Criança

Dubladores Brasileiros   Herbert Richers:
Miriam Ficher .... Mytyl
Cleonir dos Santos .... Tyltyl
Sílvio Navas .... Tylo
Neusa Tavares .... Tylette
Ilka Pinheiro .... Mamãe Tyl
Armando Cazella .... Papai Tyl
Mara Di Carlo .... Fada Berylune
Vera Miranda .... Luz
Gualter França .... Sr. Fartura
Sumara Louise .... Sra. Fartura
LIna Rossana .... Vovó Tyl
Ayrton Cardoso .... Vovô Tyl
Orlando Prado .... Papai Árvore
Adalmaria Mesquista .... Criança



quinta-feira, 14 de julho de 2011

ANÁLISE ESPIRITUALISTA DO FILME “O PÁSSARO AZUL” - PARTE 2

Continuando a análise:

- o caminho do passado: começa a busca pelo pássaro azul. A Luz os leva até a porta do cemitério, simbolicamente fazendo-se como entrada para o passado, ou a Terra da Lembrança. A mentora faz uma advertência, para que não passem muito tempo pois poderiam ficar presos ao passado. Uma metáfora para a vida e para os apegos materiais. Todos nós que não sabemos como nos portar com a perda, seja de um ente querido ou um objeto caro aos nossos sentimentos, ficamos geralmente presos ao passado.
Dentro, todos ficam apavorados com o cenário fúnebre. Tylo diz que tem medo de fantasmas por já ter visto um – o que é verdade, pois os espíritos podem se mostrar aos animais, conforme o “Livro dos Médiuns” capítulo A Mediunidade dos Animais e Ernesto Bozzano em “A Alma dos Animais”.
Logo as crianças reencontram seus avôs, residindo numa casa confortável e alegre do Plano Espiritual. Mais uma vez, valemo-nos do livro “Nosso Lar” e suas casas para os residentes da colônia para fazer a comparação.
A alegria das crianças é comovedora ao verem os parentes. A avó, respondendo a uma pergunta da netinha, se estavam mortos, disse-lhe: “só morremos quando somos esquecidos na Terra.”, ou seja, quando deixamos de orar e nos lembrarmos com carinho dos que se foram, momentaneamente, desta vida. A prece é uma dádiva aos que transpuseram o véu, é com ela que eles conseguem suportar os primeiros instantes da erraticidade. Mais a frente veremos uma particularidade sobre esta frase quando chegarmos ao futuro.
 Apesar da alegria, Tyllete apronta. Mytyl diz a avó que não pode passar mais de uma hora, a senhora mostra o relógio que volta a funcionar, despreocupando a jovem. Porém, a gata atrasa-o quase um quarto de hora, o que quase faz com que percam o horário.
Mytyl pergunta para a avó se ela possui o pássaro azul e a venerável senhora responde que tem vários pássaros e acha que possui um. Ela leva a menina para perto de um viveiro e aponta um canoro empoleirado no alto. Mytyl fica alegre, mas logo se entristece. “Não é azul, vovó, é negro.” diz ela, e a vó retruca “Mas para mim sempre foi azul.” Vemos aqui como são as coisas, o pássaro era realmente azul para a avó, pois ela tinha achado a alegria e felicidade na casa e na família, mas não para Mytyl, que ainda procurava. A felicidade é uma coisa individual e intransferível.

- o caminho da fartura: o segundo local onde a trupe tenta achar o famoso pássaro é a Terra da Fartura. Instigados, novamente, por Tyllete, decidem lá entrar, um local onde a mentora Luz informa que o pássaro não estaria, mas como não pode coibir, apenas avisou que não demorassem para não ficarem para sempre (de novo), deixa-os entrar, até mesmo para poderem ver com os próprios olhos e por que é ali onde Mytyl terá algumas de suas lições mais importantes para sua evolução espiritual.
A terra da fartura seria o presente, uma terra onde os ricos possuem tudo. Um dos desejos de Mytyl era ser rica para ter tudo o que quisesse e ali vê que não é bem assim. Na entrada da mansão dos Srs. Fartura, luxuosamente decorada, ela se depara com o preconceito. A Sra. Fartura não deixa Tylo ficar com os companheiros, exigindo que ficasse com a criadagem, porém, nem a criadagem o aceitou, sobrando, então, o canil, para onde o anjo da guarda foi cabisbaixo e resignado.
Mesmo com a fartura de brinquedos e comida, os jovens não eram felizes. Após uma desavença por causa de um pônei, os irmãos brigaram feio e foram um para cada lado. A única que estava adorando era Tyllete, por razões óbvias. Nesta noite, Mytyl, sentindo falta de calor humano, procura o Sr. Fartura e pede-lhe que lhe conte uma história, que ele nega, depois, pede-lhe um beijo de boa noite, porém, ao subir em seu colo, pisa-lhe no joelho, fazendo-o ter um acesso de fúria. Assustada, a menina corre e vai atrás de Tylo. Ele diz que devem sair dali, pois a fartura faz mal ao espírito, deixando as pessoas más e ranzinzas. Os dois pegam Tyltyl e fogem da mansão, seguidos pela encrenqueira da Tyllete.
Emblemática é a cena final do Sr. e Sra. Fartura. Ela reclamando das crianças e ele dizendo: “Elas estão muito novas para se acostumarem aqui e nós já estamos velhos, incapazes de deixar esta moradia.”. Realmente, é muito difícil para alguém acostumado a ter tudo, se ver sem nada. Geralmente isso leva ao suicídio ou a loucura mental. Vide os livros de Manoel Philomeno de Miranda pela psicografia de Divaldo Franco.

- encontro com elementais: Após saírem da terra da fartura, a trupe se encontra com Luz que os deixa dormindo em um descampado. Tyllete aproveita e, com mais um plano para atrapalhar os viajores, se embrenha na floresta atrás dos espíritos elementais. Esse ponto é um dos que mais confundem na narrativa. Aqui vai uma pequena descrição do que eles são, conforme Divaldo Franco: são os espíritos que contribuem em favor do desenvolvimento dos recursos da Natureza. Em todas as épocas eles foram conhecidos, identificando-se através de nomenclatura variada, fazendo parte mitológica dos povos e tornando-se alguns deles ‘deuses’ , que se faziam temer ou amar. Na questão no. 538 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec  interroga: “Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem os fenômenos da Natureza? Serão seres à parte ou Espíritos que foram encarnados como nós?” E os Benfeitores da Humanidade responderam: “Que foram ou que serão”. O habitat natural desses Espíritos é a erraticidade, o mundo dos Espíritos, pertencendo a uma classe própria e, portanto, vivendo em regiões compatíveis ao seu grau de evolução. “Misturam-se” aos homens e vivem, na grande maioria, na própria Natureza, que lhes serve de espaço especial.
Esses seres (Papai Árvore, Dona Salgueiro, Macieira, etc.) foram chamados por Tyllete e por ela manipulados a fim de exterminar de uma vez por todas as crianças. Era sua cartada final.
Com a ventania e relâmpagos caindo por toda parte, os viajores, liderados pela gata se embrenharam na floresta que não tardou a pegar fogo. Tentando levá-los a uma armadilha, Tyllete fica presa e morre. Tylo, o anjo da guarda, percebendo o perigo, leva as crianças para outra parte, mais segura.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

ANÁLISE ESPIRITUALISTA DO FILME “O PÁSSARO AZUL” - PARTE 1

Como primeira postagem, uma pequena análise sobre o filme "O Pássaro Azul". É um filme belíssimo, que eu sempre via quando passava na Sessão da Tarde, da Rede Globo em minhas priscas eras. Há na Internet o filme para ser visto on-line ou peguem na locadora, pois há muito não é reprisado, e abram os olhos para as verdades espirituais ali contidas.

Histórico: O Pássaro Azul (L'Oiseau Bleu) é uma peça do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck, escrita originalmente em francês em 1908, estreou em 30 de setembro desse mesmo ano no Constantin Stanislavski’s Moscow Art Theatre. Em 2 de março de 1911, foi a estreia francesa, no Théatre Réjane, em Paris. O livro é uma peça de teatro ambientada numa época distante, há mais de cem anos. E sua primeira publicação, em francês, deu-se em 1909.
Foi transformado em filme através de diversas versões, além de uma série de televisão. Maeterlinck escreveu também uma pequena continuação, “L'oiseau bleu et les fiançalles”.
O compositor francês Albert Wolff (1884-1970) transformou "O Pássaro Azul" em ópera, estreando no N. Y. Metropolitan em 1919.
Foi filmado pela primeira vez em 1910, no Reino Unido, num filme mudo estrelado por Pauline Gilmer e Oliver Walter. Em 1918, nos EUA, ainda no cinema mudo foi filmado sob a direção de Maurice Tourneur e a produção de Adolph Zuckor, estrelado por Tula Belle e Robin Macdougall. Em 1940, foi feita uma refilmagem, dessa vez já em technicolor, pela Twentieth Century Fox, sob a direção de Walter Lang, com Shirley Temple, Spring Buyington e Nigel Bruce. Na União Soviética, em 1970, foi filmado pela Soyuzmultfilm, sob a direção de Vasily Livanov, com Liya Akhendzhakova, Vladimir Kenigson e Rina Zelyonaya. Em 1976, foi filmado em realização conjunta, pelos EUA (Twentieth Century Fox), União Soviética (Lenfilm) e Reino Unido, num filme dirigido às crianças, sob direção de George Cukor, estrelado por Elizabeth Taylor, Jane Fonda, Ava Gardner, Cicely Tyson e Robert Morley.
Em 1980, foi produzida uma série de animação japonesa para a televisão, “Maeterlinck's Blue Bird: Tyltyl and Mytyl's Adventurous Journey”, contando com 26 episódios, dirigida por Hiroshi Sasagawa, com desenhos de Leiji Matsumoto.
No Brasil, o livro foi traduzido por Carlos Drummond de Andrade para a editora Opera Mundi, do Rio de Janeiro, em 1971.

Aqui trataremos do filme de 1940 de Walter Lang.

Sinopse: O filme narra a história da família Tyl, cujo patriarca é convocado para combater Napoleão e precisa deixar os filhos em casa sozinhos. A garota Mytyl e seu irmão Tytyl passam a viver algumas aventuras depois que acordam e se empenham em capturar o conhecido "pássaro azul da felicidade" ao seguir as ordens da fada Berylune. Assim, seguindo a Luz, os meninos são enviados, juntamente com o sua gata Tyllete e o cachorro Tylo, transformados em humanos, em busca do pássaro azul  através do passado, do presente e do futuro.

- início em preto e branco: apesar do filme ter sido uma tentativa de resposta da FOX ao “Mágico de Oz” da MGM, utilizando o recurso de iniciar o filme em preto e branco, tal recurso teve por finalidade inicial mostrar como era a vida da pequena Mytyl, o seu mundo escuro, cheio de orgulho, inveja e vaidade. Ela e o irmão pegam uma ave na floresta do rei Rudolph e seguem para a cidade, com medo de serem pegos pelos guardas. Duas cenas são emblemáticas das paixões então vividas pela infante, uma, ao parar em frente à janela de Angela, uma amiguinha doente, que lhe pede o pássaro para acalentar-lhe o sofrimento, Mytyl se nega e Angela lhe oferece em troca uma boneca que nossa protagonista sempre desejou, ao vê-la em farrapos nega-se de novo. A outra é quando os dois irmãos param em frente à uma casa rica, onde se comemorava o Natal com fartura. Ao ficarem olhando, um senhor lhes oferece bolo; mesmo com vontade, Mytyl se nega a pegar dizendo que não eram pedintes e não deixa Tyltyl pegar tampouco. Nestas duas, vemos sua inveja (pela boneca), vaidade (por não pegar o bolo, mesmo querendo) e inveja (ao querer ter uma vida rica).
Ao chegar em casa, à mesa, reclama das suas condições, de não ter o que achar que deva ter e fala impropérios aos dedicados pais. Logo após, chega a notícia que o pai deve ir para guerra lutar contra Napoleão e o clima fica mais sombrio.
Em vários livros que reportam o “outro lado”, como “Mundo dos Espíritos” de Swedenborg, “Voltei” de Irmão Jacob e “Nosso Lar” de André Luiz, ambos pela psicografia de Chico Xavier, as regiões nas quais os sentimentos inferiores do ser humano predominam são sempre retratados cinzentos, sem cor alguma ou em trevas absolutas. Aliás, tal interpretação é milenária em todas as culturas, provinda de uma lembrança inata de todos os seres que uma vez ou outra estagiaram em tais regiões umbralinas purgatoriais. Os medos do escuro e de seres escondidos nas sombras muito provavelmente provêm desses estágios expiadores.

- colorização do filme: começa então a parte colorida. Bate a porta uma senhora em andrajos que se diz ser a fada Berylune. Temos aqui a figura do espírito ou gênio familiar protetor, mas não seria a figura do chamado “anjo da guarda”. O Espírito Protetor, ou bom gênio, é o que tem por missão acompanhar o homem na vida e ajudá-lo a progredir. É sempre de natureza superior, com relação ao protegido, conforme o “Livro dos Espíritos” de Allan Kardec. Vemos isso ao praticamente obrigar os dois irmãos a irem atrás da felicidade, incorporada no pássaro azul. Ela forma a comitiva que os acompanhará, composta de três membros:

- a mentora: o espírito familiar auxilia os irmãos trazendo uma entidade, a Luz, para perto deles. Personificada, a Luz é aquela que lhes mostra o caminho a ser seguido, mas sem lhes tolher o livre-arbítrio, é a mentora espiritual dos meninos. Também chamada de espírito guardião ou mentor espiritual, tal entidade de luz nos acompanha, vindo ao nosso encontro toda vez que a clamamos ou quando necessitamos de ajuda.

- o anjo da guarda: é o cão Tylo, metamorfoseado em humano pela fada. Apesar de medroso, Tylo tem um enorme coração e protege os meninos sempre que possível, igualmente sem esbarrar no livre-arbítrio. Amigo fiel que está sempre pronto a perdoar, mesmo quando é deixado de lado.

- a obsessora: é a gata Tyllete, igualmente metamorfoseada. Por não querer voltar a ser um animal, ela tenta de todas as maneiras evitar que os meninos achem o pássaro azul. Interesseira e mesquinha, tenta subornar Tylo, mas não consegue. Infelizmente, Mytyl, devido a sua afinidade espiritual momentânea com Tyllete, se deixa levar várias vezes, com consequências nem sempre boas. Obsessora típica, que fica pondo ideias ruins na cabeça dos pequenos, ela personifica todos aqueles que querem o melhor só para si, sem se importar com mais ninguém. É um espinho posto no caminho das crianças para que percebam que nem todos os que parecem amigos o são realmente e, como diz Paulo, temos de saber quais os espíritos provêm de Deus e sabermos como evitar os que não são.