quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

JESUS E A ORAÇÃO

O Mestre jamais convidou alguém a orar num templo 

Ele próprio deu-se como exemplo no serviço a Deus na pessoa do próximo. Curava sempre, impondo as mãos sobre os doentes, embora não precisasse fazê-lo para curar (vide cura do servo do centurião: Mt, 8: 5 a 13), mas o fez para ensinar, recomendando que se fizesse o mesmo: “... e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.” (Mc, 16: 18). Deixou bem claro, também, a gratuidade da prática religiosa: “... de graça recebestes, de graça dai.” (Mt, 10:8).

Vê-se, assim, que Jesus trouxe à Terra uma mensagem religiosa sem precedentes. Simples, sem ser superficial; profunda, sem ser complicada. Uma concepção religiosa libertadora não agrada àqueles que desejam exercer o poder religioso. Estes procuram conservar a religião como algo mágico, místico, extático, complexo a ponto de a ela só terem acesso os doutos e os sábios, pessoas pretensamente especiais, que estariam mais habilitadas a intermediarem as mensagens das criaturas ao Criador.

Jesus concedeu uma verdadeira carta de alforria à Humanidade, em relação à intermediação sacerdotal, ao informar a criatura humana de que ela tem o direito legítimo e inalienável de se comunicar com seu Criador, diretamente, em qualquer lugar onde se encontre, dando como exemplo o lugar onde se dorme: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará.” (Mt, 6: 6). Ao se meditar sobre esse ensinamento, percebe-se quanto sua mensagem foi deturpada pelos teólogos, que ensinam terem certas pessoas determinadas prerrogativas de serem ouvidas por Deus, como se fossem advogados a levarem agradecimentos ou a reivindicarem determinadas benesses, numa prática desenvolvida em meio a rituais completamente estranhos aos ensinamentos e aos exemplos de Jesus, com a agravante de serem remunerados.

Jesus libertou a criatura humana também da necessidade do comparecimento ao templo, a fim de ali encontrar-se com Deus. O Mestre jamais convidou alguém a orar num templo. Pelo contrário, quando a Samaritana manifestou-se no sentido de adorar a Deus no Templo de Jerusalém, o Mestre desautorizou tal atitude, dizendo-lhe: "Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Deus é espírito e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade." (Jo, 4: 21 e 24). Para Jesus não havia santuários, lugares especiais. Seus ensinamentos, suas curas, suas orações sempre foram levados a efeito onde quer que ele se encontrasse. 

Ele foi crucificado exatamente pela coragem de contrapor-se ao poderio sacerdotal, àquela verdadeira ditadura religiosa. Infelizmente, com o passar dos tempos, o eixo da mensagem cristã foi-se desviando, saindo da área do estudo, da meditação e do serviço à luz da oração consciente, passando às práticas exteriores.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A CONDENAÇÃO DA REENCARNAÇÃO

A condenação da Doutrina  da Reencarnação se deve a uma ferrenha oposição pessoal do finado imperador Justiniano, que nunca esteve ligado aos protocolos do Concílio. Segundo Procópio, uma mulher de nome Teodora, filha de um guardador de ursos do anfiteatro de Bizâncio, era a ambiciosa esposa de Justiniano, e na realidade, era quem manejava o poder. Ela, como cortesã, iniciou sua rápida ascensão ao Império. Para se libertar de um passado que a envergonhava, ordenou, mais tarde, a morte de quinhentas antigas "colegas" e, para não sofrer as conseqüências dessa ordem cruel em uma outra vida como preconiza a lei do Carma, empenhou-se em suprimir toda a magnífica Doutrina da Reencarnação. Estava confiante no sucesso dessa anulação, decretada por  Justiniano " em nome de DEUS " !
        O déspota imperador Justiniano, sem levar em conta o ponto de vista clerical, declarou guerra frontal aos ensinamentos de Orígenes - exegeta e teólogo ( 185 - 235 D.C ), condenando tais ensinamentos através de um sínodo especial. Em suas obras: De  Principiis e Contra Celsum, Orígenes tinha reconhecido, abertamente, a existência da alma antes do nascimento e sua dependência de ações passadas. Ele pensava que certas passagens do Novo Testamento poderiam ser explicadas somente à luz da Reencarnação.
        Do Concílio convocado por Justiniano só participaram bispos do oriente (ortodoxos). Nenhum de Roma. E o próprio "Papa", que estava em Constantinopla nesta ocasião, deixou isso bem claro.
        O Concílio de Constantinopla, o quinto dos Concílios, não passou de um encontro, mais ou menos em caráter privado, organizado por Justiniano, que, mancomunado com alguns vassalos, excomungou e maldisse a doutrina da preexistência da alma, com protestos do Papa Virgílio, e a publicação de seus anátemas. Embora estivesse em Roma naquela época, o Papa Virgílio seqüestrado e mantido prisioneiro de Justiniano por oito anos, recusou-se a participar deste Concilio, quando Justiniano não assegurou o mesmo quorum de bispos representantes do leste e do oeste.
        Uma vez convocado, o Concilio só incluiu 165 bispos da Cristandade em sua reunião final, dos quais 159 eram da Igreja oriental. Tal fato garantiu a Justiniano todos os votos de que precisava.
        A conclusão oficial a que o Concílio chegou após uma discussão de quatro semanas teve que ser submetida ao "Papa" para ratificação. Na verdade, os documentos que lhe foram apresentados (os assim chamados "Três Capítulos") versavam apenas sobre a disputa a respeito de três eruditos que Justiniano, há quatro anos, havia por um edito (decreto) declarado heréticos. Nada continham sobre Orígenes. Os "papas" seguintes, Pelagio I (556 - 561 D.C ), Pelagio II ( 579 - 590 D.C ) e Gregório ( 590 - 604 D.C ), quando se referiram ao quinto Concílio, nunca tocaram no nome de Orígenes.
        E a Igreja aceitou o Edito de Justiniano - "Todo aquele que ensinar esta fantástica preexistência da alma e sua monstruosa renovação, será condenado" - como parte das conclusões do Concílio. Esta atitude da Igreja levou a reações tais como a do Cardeal Nicolau de Cusa que sustentou, em pleno Vaticano, a pluralidade das vidas e dos mundos habitados, com a concordância do Papa Eugênio IV (1431-1447), embora isso provocasse descontentamento de influentes clérigos da Cúria Romana. Porém, havia e houve sempre o interesse em sepultar esse conhecimento. Então, ao invés de uma aceitação simples e clara da Reencarnação, a Igreja passou a rejeitá-la, justificando tal atitude com a criação de Dogmas que lançam obscuridade sobre os problemas da vida, revoltam a razão e impõem dominação, ignorância, apatia e graves entraves à autonomia da razão humana e ao desenvolvimento espiritual da humanidade...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Cristo nasceu? Onde? Quando?

São indagações que compõem o título de belíssima página doutrinária escrita pelo espírita Pedro de Camargo (1878-1966), mais conhecido como Vinícius, encontrada em seu livro Em Torno do Mestre, publicado pela FEB em 1939, cuja última edição, a nona, data de 2009. Com admirável criatividade, o autor analisa o significado e o contexto do nascimento do Cristo, utilizando a entrevista como recurso literário, então direcionada a sete conhecidas personalidades do Evangelho, tendo como referência este registro evangélico:

O verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e verdade, e vimos a sua glória como de unigênito do Pai. Mas a todos os que o receberam, aos que creem em seu nome, deu Ele o direito de se tornarem filhos de Deus; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas sim de Deus. (João, 1:4.)
A íntegra da entrevista deVinícius, com destaques nossos, é a que se segue:

Perguntemos a Paulo – onde e quando Jesus nasceu? Ele nos dirá: Foi na estrada de Damasco, quando eu, então intolerante e fanatizado por uma causa inglória, me vi envolvido na sua divina luz. Dali por diante – “já não sou eu mais que vive, mas o Cristo é que vive em mim”.

Indaguemos de Madalena, onde e quando nasceu Jesus. Ela nos informará: Jesus nasceu em Betânia, certa vez em que sua voz, ungida de pureza e santidade, despertou em mim a sensação de uma vida nova, com a qual, até então, jamais sonhara.

Ouçamos o depoimento de Pedro, sobre a natividade do Senhor, e ele assim se pronunciará: Jesus nasceu no átrio do paço de Pilatos, no momento em que o galo, cantando pela terceira vez, acordou minha consciência para a verdadeira vida.Daí por diante, nunca mais vacilei diante dos potentados do século, quando me era dado defender a Justiça e proclamar a verdade, pois a força e o poder do Cristo constituíram elementos integrantes de meu próprio ser.

Chamemos à baila João Evangelista e peçamos nos diga o que sabe acerca do natal do Messias, e ele nos dirá: Jesus nasceu no dia em que meu entendimento, iluminado pela sua divina graça, me fez saber que “Deus é amor”.1

Dirijamo-nos a Zaqueu, o publicano, e eis o seu testemunho: Jesus nasceu em Jericó, numa esplêndida manhã de Sol, quando eu, ansioso por conhecê-lo, subi numa árvore, à beira do caminho por onde Ele passava, contentando-me com o ver de longe. Eis que Ele, amorável e bom, acena-me, dizendo: “Zaqueu, desce, importa que me hospede contigo”. Naquele dia entrou a salvação no meu lar.

Interpelemos Tomé, o incrédulo: Quando e onde nasceu o Mestre? Ele, por certo, retrucará: Jesus nasceu em Jerusalém, naquele dia memorável e inesquecível em que me foi dado testificar que a morte não tinha poder sobre o Filho de Deus. Só então compreendi o sentido de suas palavras: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

Apelemos, finalmente, para Dimas, o bom ladrão: Onde e quando Jesus nasceu? Ele nos informará: Jesus nasceu no topo do Calvário, precisamente quando a cegueira e a maldade humanas supunham aniquilá-lo para sempre; dali Ele me dirigiu um olhar repassado de piedade e de ternura, que me fez esquecer todas as misérias deste mundo e antegozar as delícias do paraíso. Desde logo, senti-o em mim e eu nele.2

As respostas transmitidas pelos entrevistados nos fazem ver que o nascimento do Cristo, o local e a data, representam, efetivamente, o exato momento do despertar da nossa consciência para a sublimidade do Amor, ensinado e exemplificado por Jesus.

Para a Doutrina Espírita, Jesus é e sempre será “o tipo mais perfeito que Deus já ofereceu ao homem para lhe servir de guia e modelo”.3 É válido, porém, deixar registrado que no meio acadêmico e entre os historiadores do Cristianismo configura-se nova metodologia de estudo da figura ímpar de Jesus, denominada Jesus Histórico. Trata-se de estudo crítico que não considera os axiomas religiosos e teológicos tradicionais nem os determinismos bíblicos que, na generalidade, revelam o Mestre Nazareno como o Filho de Deus ou o Messias prometido para a salvação da Humanidade.

Embora as reconstruções históricas variem, são concordantes em dois pontos: Jesus era um rabino judeu, que atraiu um pequeno grupo de galileus e, após um período de pregação, foi crucificado pelos romanos na Palestina, sob instigação dos sacerdotes judeus, durante o governo de Pôncio Pilatos.

A busca pelo Jesus Histórico foi iniciada pelo filósofo deísta alemão Hermann Samuel Reimarus (1694-1768) que, junto com outros estudiosos, passaram a duvidar da historicidade relatada pelos textos sagrados, aceita sem controvérsias até o século XVIII, quando surgiu o movimento iluminista na Europa.Após a Primeira Guerra Mundial, os teólogos alemães Martin Dibelius (1883-1947) e Rudolf Karl Bultmann (1884-1976) compararam a mensagem original de Jesus (do Novo Testamento) à de outros textos, provenientes da época da igreja primitiva, identificando pontos concordantes e discordantes. Empregaram, então, dois métodos para chegarem às conclusões finais, publicadas posteriormente:

a) Redação criticista – trata-se de uma investigação a respeito de como cada escritor do Evangelho compilou seu livro, seguida de comparação com outros escritos e, também, com fontes orais;
b) Crítica formal – concluíram que os evangelhos (segundo Mateus,Marcos, Lucas e João) não foram escritos completos, originalmente, tal como os conhecemos nos dias atuais.Na verdade, são coleções de fatos separados, de tradições orais, mitos ou parábolas, propositalmente agrupados para formar uma coletânea, artificialmente elaborada, e destinada a divulgar práticas da igreja antiga. Dessa forma, a crítica formal tenta reconstruir os episódios originais, separando o que é fato histórico e o que é inclusão artificial.
Há outro ponto relevante: na busca pelo Jesus Histórico, alguns estudiosos fundamentam-se na chamada Fonte Q (de Quelle, nome alemão para fonte), uma coleção de Ditos de Jesus, que é uma tradição, oral ou escrita – não se sabe ao certo – amplamente difundida no mundo cristão da primeira metade do século I, e que serviu de base para a escritura dos evangelhos sinóticos, assim como para alguns apócrifos. Sendo assim, o documento Q, ou fonte Q, é hipoteticamente considerado como sendo o primeiro texto evangélico escrito, e que teria sido utilizado, mais tarde, por Mateus e Lucas, mas não por Marcos, na redação dos seus escritos, fato que justificaria as coincidências presentes no Evangelho de Lucas e de Mateus, e as diferenças com o de Marcos.

Em suma, munidos dos novos instrumentos da pesquisa hodierna, tais como história antiga, crítica literária, crítica textual, filologia, papirologia, arqueologia, geografia, religião comparada, os atuais pesquisadores tentam reconstruir o ambiente sociocultural de Jesus, de modo a experimentar o efeito que as palavras do Mestre produziram nos ouvintes da sua época. Nesse esforço, procura-se evitar juízos preconcebidos, premissas rígidas, preconceitos étnicos, deixando que a mensagem se estabeleça ainda que contrariamente às expectativas dos crentes atuais. No entanto, ao montar o quebra-cabeça da história do Cristianismo Primitivo com as escassas peças disponíveis, nem sempre é possível ao pesquisador humano dispensar certa dose de imaginação.4

Uma evidência poderosa já se destaca das conclusões dos pesquisadores: a grandeza do Cristo e a sublimidade da sua mensagem. Parâmetros pelos quais devemos nos guiar, sem jamais perder de vista qual é a plataforma do Mestre, como ensina Emmanuel:

Anunciou-nos a celeste revelação que Ele viria salvar-nos de nossos próprios pecados, libertar-nos da cadeia de nossos próprios erros, afastando-nos do egoísmo e do orgulho que ainda legislam para o nosso mundo consciencial.5


Referências:1VINÍCIUS. Em torno do mestre. 9. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2009. Cap. Cristo nasceu? Onde? Quando?. p. 236.
2_____. _____. p. 236-237.
3KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2010. Q. 625.
4DIAS, Haroldo Dutra. Cristianismo redivivo: história da era apostólica, Novas perguntas. In: Reformador, ano 126, n. 2.146, p. 34(32)-36(34), jan. 2008.
5XAVIER, Francisco C. Vinha de luz. Pelo Espírito Emmanuel. 27. ed. 3. reimp. Rio de Janeiro: FEB, 2011. Cap. 174, p. 386.

In O Reformador, dez/2011 Ed. FEB

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

CARIDADE

Um dia, um rapaz pobre que vendia mercadorias de porta em porta para pagar seus estudos viu que só lhe restava uma simples moeda de dez centavos, e tinha fome. Decidiu que pediria comida na próxima casa. Porém, ficou nervoso quando uma encantadora mulher jovem lhe abriu a porta. Em vez de comida, pediu um copo de água.
    Ela pensou que o jovem parecia faminto e assim lhe deu um grande copo de leite. Ele bebeu devagar e depois lhe perguntou:
    – Quanto lhe devo?
    – Não me deve nada – respondeu ela.
    E continuou:
    – Minha mãe sempre nos ensinou a nunca aceitar pagamento por uma oferta caridosa.
    Ele disse:
    – Pois lhe agradeço de todo coração.
    Quando Howard Kelly saiu daquela casa, não só se sentiu mais forte fisicamente, mas também sua fé em Deus e nos homens ficou mais forte. Antes, ele já estava resignado a se render e a deixar tudo de lado.
    Anos depois, essa jovem mulher ficou gravemente doente. Os médicos locais estavam confusos. Finalmente enviaram-na à cidade grande, onde chamaram um especialista para estudar sua rara enfermidade. Chamaram o dr. Howard Kelly.
    Quando escutou o nome do povoado de onde ela viera, uma estranha luz lhe encheu os olhos. Imediatamente, vestido com a sua bata de doutor, foi ver a paciente. Reconheceu imediatamente aquela mulher. Determinou-se a fazer o melhor para salvar aquela vida. Passou a dedicar atenção especial àquela paciente. Depois de uma demorada luta pela vida da enferma, ganhou a batalha.
    O dr. Kelly pediu à administração do hospital que lhe enviasse a fatura total dos gastos para aprová-la. Ele a conferiu e depois escreveu algo e mandou entregá-la no quarto da paciente.
    Ela tinha medo de abri-la, porque sabia que levaria o resto da vida para pagar todos os gastos. Finalmente, abriu a fatura e algo lhe chamou a atenção, pois estava escrito o seguinte:
     “Totalmente pago há muitos anos com um copo de leite. (a) Dr. Howard Kelly.”
    Lágrimas de alegria correram-lhe dos olhos e o coração feliz orou assim:
     “Graças, meu Deus, porque Teu Amor se manifestou nas mãos e nos corações humanos.”

* * *
    A caridade é a manifestação do amor. Vai muito além do dever e dos interesses pessoais. É um ato de puro desprendimento, de consideração pela dor do próximo. A única recompensa que interessa a quem a pratica é a alegria e o bem-estar da pessoa ajudada.
    Todo bem que fazemos, por mínimo que seja, atrai para nós o bem. É o efeito da lei de ação e reação. Mais cedo ou mais tarde, teremos o resultado do esforço para ser bons, honestos e trabalhadores.
    Da mesma forma, quando semeamos espinhos e discórdias, miséria e destruição, haveremos de ser convocados à reparação dos nossos erros pela justiça humana ou pela justiça divina. E, sem dúvida, não gostaremos de passar pelo sofrimento necessário ao resgate das dívidas.
    Hoje, quando o sofrimento toma conta de muitos lares, bem próximos de nós, devemos encontrar, na prática da caridade, uma grande oportunidade, uma bênção de Deus, para que possamos desenvolver a capacidade de amar e, assim, nos aproximarmos da felicidade.
    Não só a caridade material de dar um prato de comida, uma roupa ou algumas moedas. Mas principalmente a caridade moral, de saber ouvir ou de confortar com palavras de bom-ânimo, de estar presente nas horas difíceis ou de ensinar o ignorante.
    Sejamos capazes de compreender e auxiliar o próximo no alívio de seu sofrimento, porque, com certeza, também precisamos, ou um dia precisaremos, ser consolados por alguém ou por Deus.

Por Donizete Pinheiro, no livro Terapia da paz

domingo, 4 de dezembro de 2011

JOHN EDMONDS - UMA SELEÇÃO DE FOLHETOS ESPIRITUAIS

Terceiro livro por mim traduzido, do Juiz Edmonds, Folhetos Espirituais,
Sinopse: Trabalhador da primeira hora, o Juiz Edmonds veio neste livro, através de pequenos folhetos e cartas distribuídos aos periódicos da época, mostrar como e por que se converteu ao Espiritismo, além de versar sobre diversos assuntos, como identificação dos espíritos, pretensas incongruências dos espíritos acerca da localização do Paraíso (as diversas moradas na casa do Pai), xenoglossia, "raps", mediunidade física, moral e mental, manifestações, etc. e o porquê das relações mortais-espirituais. Notando-se a incrível semelhança nos pontos dados pelo autor com a Codificação do egrégio Allan Kardec, em França, separados por um oceano de distância, isso durante a feitura do próprio livro basilar da Codificação, o Livro dos Espíritos (1857), pode-se supor que, talvez, se o Codificador não tivesse aceitado tal missão, seria ele quem o substituiria na tarefa.

Baixe aqui.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A CRENÇA

A crença humana em qualquer fé é direito inalienável do indivíduo. Cada um, em seu estágio evolutivo tem tal direito e cada um tem o dever de respeitá-la. Não importa o tipo de crença, se leva o homem a se tornar melhor, esclarecido, paciente, resignado e corajoso ante os escolhos da vida. Se a crença o leva a praticar sempre o bem, a ver sempre o bem, procurar o amor e ser justo para com o próximo, ela é de total confiança e leva a Deus Pai Incriado. Não importa se necessita de rituais, paramentos, imagens, águas fluidificadas, livros, etc. se faz nascer no ser humano aquela vontade de reformar-se intimamente e elevar-se moral e intelectualmente. Cada crença possui suas próprias particularidades porque o ser humano é individualizado e tende a se agregar por afinidade. A lei de que afim atrai afim é mais do que verdadeira quando se trata de crenças. Somos levados a nos unir àqueles que comungam de nossa fé por laços etéricos além da atual compreensão humana, compostos de  fluídos sutis que evolam do éter universal, formas-pensamento de composição ectoplásmica, tudo invisível aos olhos humanos, mas não as percepções do espírito imortal. Por isso, acerca das crenças, devemos ser sempre tolerantes e não pré-julgar nenhuma. Como diz o adágio, parafraseando Paulo de tarso: “Instruí-vos e retendes o que há de bom”, ou seja, estudemos de tudo para que de tudo tiremos nossas crenças.
Emereciana

domingo, 20 de novembro de 2011

Explicação do Maha-mantra por Srila Bhaktivinoda Thakura (Sri Krishna Kathamrita)

Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare
Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare

Ó Hari! Tendo capturado minha mente, por favor, me a liberte da prisão material.
Ó Krishna! Por favor, atraia minha mente, puxando-a para Você.
Ó Hari! Por favor, capture minha mente por meio de sua doçura inigualável.
Ó Krishna! Por favor, purifique minha mente com o conhecimento acerca do serviço devocional que me foi concedido por Seu próprio devoto.
Ó Krishna! Por favor, me torne capaz de desfrutar Seus transcendentais nome, forma, qualidades, passatempos, etc.
Ó Krishna! Por favor, me torne capaz de desfrutar Seus transcendentais nome, forma, qualidades, passatempos, etc.
Ó Hari! Por favor, me prepare para Lhe servir.
Ó Hari! Por favor, me torne capaz de desfrutar Seus transcendentais nomes, formas, qualidades, passatempos, etc.
Ó Hari! Por favor, me direcione para realizar algum serviço particular para Você.
Ó Rama! Deixe-me ouvir sobre Seus deliciosos passatempos na companhia de Seu devoto predileto.
Ó Hara (Radha)! Por favor, me revele Seus passatempos mais doces com Seu amado Sri Krishna.
Ó Rama! Por favor, me revele Seus passatempos mais doces com Sua amada Sri Radha.
Ó Rama! Por favor, me ocupe em lembrar de Seus transcendentais nome, formas, qualidades, passatempos, etc.
Ó Rama! Por favor, me prepare para Lhe servir enquanto estiver me lembrando dos Seus transcendentais nome, forma, qualidades, passatempos, etc.
Ó Hari! Tendo me aceitado como um de Seus próprios servidores, por favor, desfrute de mim como Você desejar.
Ó Hari! Por favor, desfrute comigo da Sua maneira transcendental.
Esse é meu humilde perdido aos Seus pés de lótus.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

WILLIAM STAINTON MOSES - IDENTIFICAÇÃO DOS ESPÍRITOS

Segundo livro do Rev. William Stainton Moses, médium britânico do começo do Espiritismo, traduzido por mim. Para baixar clique aqui.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Dez Tecnologias Essenciais da Administração Dotada de Poder

As tecnologias metafísicas enumeradas aqui são instrumentos simples, mas profundos que você pode querer incorporar no seu estilo administrativo.

Para obter maior benefício desses princípios, você pode meditar nessas dez tecnologias essenciais da Administração Dotada de Poder em seu regime diário.

Também, à medida que ler cada capítulo, você pode refletir nessas dez tecnologias essenciais como um modo de ampliar a sua compreensão.

Além do mais, o primeiro exercício na seção de "Mentalidades" no fim de cada capítulo refere-se  a essas tecnologias como um lembrete.

1.         Que importância tem? Para que? E daí?

Esta meditação é projetada para nos ajudar a realizar que muitas ilusões podem nos influenciar ou escravizar.

Leo Tolstoy uma vez escreveu sobre uma transição na sua vida quando ele começou a questionar tudo, apesar do seu grande êxito.

Seguindo o exemplo de Tolstoy , nesta meditação, se veja como possuindo uma grande abundância material como uma prosperidade exorbitante, fama mundial,vasto conhecimento ou beleza deslumbrante.

Considere cada uma dessas áreas por sua vez, e outras se  desejar, realizando que isto não pode ser a meta última da vida.

Faça-se as perguntas, "Que importância tem?" "Para que?" "E daí?"

2.         Não Sou Este Corpo

Esta reflexão nos ajuda a realizar que somos mais do que somente o corpo físico.

Por isso, não devemos reagir emocionalmente ou ser demasiadamente apegados aos estímulos materiais.
O exercício consiste em dizer atentamente: "tenho um corpo - mas não sou este corpo"; "tenho uma mente - mas não sou esta mente"; "tenho um emprego - mas não sou este emprego"; ou "tenho uma casa - mas não sou esta casa." Insira qualquer problema nesta meditação para se ajudar a se libertar de qualquer apego a fenômenos temporários.

3.         O Ponto de Vista da Outra Pessoa

Esta prática nos ajuda a ficar mais sensível à percepção de uma outra pessoa naquela situação específica, particularmente durante os conflitos interpessoais.

Escolha um conflito que o esteja incomodando.

Escreva uma carta para você mesmo como se você fosse a parte contrária, tentando convencer-se do ponto de visão oposto.

Empregue esta técnica de escrever carta para qualquer conflito.

4.         Vendo Deus em Todo Parte

Esta contemplação nos ajuda a nos doarmos mais aos outros e a receber mais amor das pessoas em geral.

Pratique ver todo mundo como uma energia de Deus.

5.         Tudo Tem um Objetivo

Não há coincidências.

Como o universo está no controle das ações mais elevadas, cada encontro vem até nós por uma determinada razão.

Estamos sujeitos a uma lei espiritual semelhante a uma lei da Física: cada ação produz uma reação correspondente.

Por isso, podemos tentar descobrir a lição em cada ocorrência.

O exercício é converter eventos negativos em positivos e eventos positivos em outros ainda melhores.

Se aprendermos a partir de todos os eventos, então tudo que acontecer pode se tornar uma ocorrência positiva porque ficamos mais sábios.

6.         Responsabilidade

O conhecimento de que somos controlados pelo Supremo e Suas hostes angelicais nos estimulará a viver mais honradamente a fim de sermos mais recompensados e não punidos.

O exercício é imaginar que estamos sempre sendo controlados pelos olhos onipresentes de Deus.

7.         Chamada para o Amor

Esta prática nos ajuda a apreciar as muitas formas nas quais um grito de socorro pode chegar até nós, nos lembrando de um auto-exame constante para ver como estamos ajudamos os outros.

O exercício é ver todas as interações como uma oferta de amor ou uma chamada para o amor.1

8.         Amor em Ação

Esta tecnologia nos ajuda a envolver todo mundo e tudo em nosso ambiente com um amor vibrante.

O exercício é nos ver como as personificações do amor em ação.

9.         Perto da Morte

Imagine que o seu médico acaba de informar que você tem um caso sério de câncer ou AIDS, e que você irá morrer em três meses. Se este fosse o seu destino, como você viveria diferentemente cada um dos seus últimos dias?

Esta reflexão nos lembra de que nunca podemos estar seguros em relação a quanto tempo mais permaneceremos neste corpo material.

Portanto, não devemos procrastinar ou ter uma lista débil de prioridades.

As coisas essenciais - as  coisas importantes - devem ser feitas agora!

10.      Uma Segunda Oportunidade

Devemos viver cada dia na prontidão para partir se o nosso encontro com a morte chegar.
O exercício é imaginar que você está morrendo agora mesmo, e pode ver o que está deixando para trás e o efeito que a sua morte terá sobre os outros.

Quais são os seus últimos pensamentos?

Quais são os seus pesares?

Que coisas você deixou inacabadas?

Você deve fazer essas coisas hoje.

Extraído do livro “Leadership For An Age of Higher Consciousness” de autoria de Bhakti Tirtha Swami

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Esclarecimentos de Allan Kardec à Sua Alteza o Príncipe G.

PRÍNCIPE,

Vossa Alteza honrou-me dirigindo-me várias perguntas referentes ao Espiritismo; vou tentar respondê-las, tanto quanto o permita o estado dos conhecimentos atuais sobre a matéria, resumindo em poucas palavras o que o estudo e a observação nos ensinaram a esse respeito. Essas questões repousam sobre os princípios da própria ciência: para dar maior clareza à solução, é necessário ter esses princípios presentes no pensamento; permita-me, pois, tomar a coisa de um ponto mais alto, colocando como preliminares certas proposições fundamentais que, de resto, elas mesmas servirão de resposta a algumas de vossas perguntas.

Há, fora do mundo corporal visível, seres invisíveis que constituem o mundo dos Espíritos.

Os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outras esferas, e que deixaram seus envoltórios materiais.

Os Espíritos apresentam todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral. Há, por conseqüência, bons e maus, esclarecidos e ignorantes, levianos, mentirosos, velhacos, hipócritas, que procuram enganar e induzir ao mal, como os há muitos superiores em tudo, e que não procuram senão fazer o bem. Essa distinção é um ponto capital.

Os Espíritos nos cercam sem cessar, com o nosso desconhecimento, dirigem os nossos pensamentos e as nossas ações, e por aí  influem sobre os acontecimentos e os destinos da Humanidade.

Os Espíritos, freqüentemente, atestam sua presença por efeitos materiais. Esses efeitos nada têm de sobrenatural; não nos parecem tal senão porque repousam sobre bases fora das leis conhecidas da matéria. Uma vez conhecidas essas bases, o efeito entra na categoria dos fenômenos naturais; é assim que os Espíritos podem agir sobre os corpos inertes e fazê-los mover sem o concurso de nossos agentes exteriores. Negar a existência de agentes desconhecidos, unicamente porque não são compreendidos, seria colocar limites ao poder de Deus, e crer que a Natureza nos disse sua última palavra.

Todo efeito tem uma causa; ninguém o contesta. É, pois, ilógico negar a causa unicamente porque seja desconhecida.

Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Quando se vê o braço do telégrafo fazer sinais que respondem a um pensamento, disso se conclui, não que esses braços sejam inteligentes, mas que uma inteligência fá-los moverem-se. Ocorre o mesmo com os fenômenos espíritas. Se a inteligência que os produz não é a nossa, é evidente que ela está fora de nós.

Nos fenômenos das ciências naturais, atua-se sobre a matéria inerte, que se manipula à vontade; nos fenômenos espíritas age-se sobre inteligências que têm seu livre arbítrio, e não estão submetidas à nossa vontade. Há, pois, entre os fenômenos usuais e os fenômenos espíritas uma diferença radical quanto ao princípio: por isso, a ciência vulgar é incompetente para julgá-los.

O Espírito encarnado tem dois envoltórios, um material que é o corpo, o outro semi-material e indestrutível que é o perispírito. Deixando o primeiro, conserva o segundo que constitui para ele uma espécie de corpo, mas cujas propriedades são essencialmente diferentes. Em seu estado normal, é invisível para nós, mas pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível: tal é a causa do fenômeno das aparições.

Os Espíritos não são, pois, seres abstratos, indefinidos, mas seres reais e limitados, tendo sua própria existência, que pensam e agem em virtude de seu livre arbítrio. Estão por toda parte, ao redor de nós; povoam os espaços e se transportam com a rapidez do pensamento.

Os homens podem entrar em relação com os Espíritos e deles receberem comunicações diretas pela escrita, pela palavra e por outros meios. Os Espíritos, estando ao nosso lado e podendo virem ao nosso chamado, pode-se, por certos intermediários, estabelecer com eles comunicações seguidas, como um cego pode fazê-lo com as pessoas que ele não vê.

Certas pessoas são dotadas, mais do que outras, de uma aptidão especial para transmitirem as comunicações dos Espíritos: são os médiuns. O papel do médium é o de um intérprete; é um instrumento do qual se servem os Espíritos: esse instrumento pode ser mais ou menos perfeito, e daí as comunicações mais ou menos fáceis.

Os fenômenos espíritas são de duas ordens: as manifestações físicas e materiais, e as comunicações inteligentes. Os efeitos físicos são produzidos por Espíritos inferiores; os Espíritos elevados não se ocupam mais dessas coisas quanto nossos sábios não se ocupam em fazerem grandes esforços: seu papel é de instruir pelo raciocínio.

As comunicações podem emanar de Espíritos inferiores, como de Espíritos superiores. Reconhecem-se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem: a dos Espíritos superiores é sempre séria, digna, nobre e marcada de benevolência; toda expressão trivial ou inconveniente, todo pensamento que choque a razão ou o bom senso, que denote orgulho, acrimônia ou malevolência, necessariamente, emana de um Espírito inferior.

Os Espíritos elevados não ensinam senão coisas boas; sua moral é a do Evangelho, não pregam senão a união e a caridade, e jamais enganam. Os Espíritos inferiores dizem absurdos, mentiras, e, freqüentemente, grosserias mesmo.

A bondade de um médium não consiste somente na facilidade das comunicações, mas, sobretudo, na natureza das comunicações que recebe. Um bom médium é aquele que simpatiza com os bons Espíritos e não recebe senão boas comunicações.

Todos temos um Espírito familiar que se liga a nós desde o nosso nascimento, nos guia, nos aconselha e nos protege; esse Espírito é sempre bom.

Além do Espírito familiar, há Espíritos que são atraídos para nós por sua simpatia por nossas qualidades e nossos defeitos, ou por antigas afeições terrestres. Donde se segue que, em toda reunião, há uma multidão de Espíritos mais ou menos bons, segundo a natureza do meio.

Podem os Espíritos revelar o futuro?

Os Espíritos não conhecem o futuro senão em razão de sua elevação. Os que são inferiores não conhecem mesmo o seu, por mais forte razão o dos outros. Os Espíritos superiores o conhecem, mas não lhes é sempre permitido revelá-lo. Em princípio, e por um desígnio muito sábio da Providência, o futuro deve nos ser ocultado; se o conhecêssemos, nosso livre arbítrio seria por isso entravado. A certeza do sucesso nos tiraria o desejo de nada fazer, porque não veríamos a necessidade de nos dar ao trabalho; a certeza de uma infelicidade nos desencorajaria. Todavia, há casos em que o conhecimento do futuro pode ser útil, mas deles jamais podemos ser juizes: os Espíritos no-los revelam quando crêem útil e têm a permissão de Deus; fazem-no espontaneamente e não ao nosso pedido. E preciso esperar, com confiança a oportunidade, e sobretudo não insistir em caso de recusa, de outro modo se arrisca a relacionar-se com Espíritos levianos que se divertem às nossas custas.

Podem os Espíritos nos guiar, por conselhos diretos, nas coisas da vida?

Sim, eles o podem e o fazem voluntariamente. Esses conselhos nos chegam diariamente pelos pensamentos que nos sugerem. Freqüentemente, fazemos coisas das quais nos atribuímos o mérito, e que não são, na realidade, senão o resultado de uma inspiração que nos foi transmitida. Ora, como estamos cercados de Espíritos que nos solicitam, uns num sentido, os outros no outro, temos sempre o nosso livre arbítrio para nos guiar na escolha, feliz para nós quando damos a preferência ao nosso bom gênio.

Além desses conselhos ocultos, pode-se tê-los diretos por um médium; mas é aqui o caso de se lembrar dos princípios fundamentais que emitimos a toda hora. A primeira coisa a considerar é a qualidade do médium, senão o for por si mesmo. Médium que não tem senão boas comunicações, que, pelas suas qualidades pessoais não simpatiza senão com os bons Espíritos, é um ser precioso do qual podem-se esperar grandes coisas, se todavia for secundado pela pureza de suas próprias instruções e se tomadas convenientemente: digo mais, é um instrumento providencial.

O segundo ponto, que não é menos importante, consiste na natureza dos Espíritos aos quais se dirigem, e não é preciso crer que o primeiro que chegue possa nos guiar utilmente. Quem não visse nas comunicações espíritas senão um meio de adivinhação, e em um médium uma espécie de ledor de sorte, se enganaria estranhamente. É preciso considerar que temos, no mundo dos Espíritos, amigos que se interessam por nós, mais sinceros e mais devotados do que aqueles que tomam esse título na Terra, e que não têm nenhum interesse em nos bajular e em nos enganar. Além do nosso Espírito protetor, são parentes ou pessoas que se nos afeiçoaram em sua vida, ou Espíritos que nos querem o bem por simpatia. Aqueles vêm voluntariamente quando são chamados, e vêm mesmo sem que sejam chamados; temo-los, freqüentemente, ao nosso lado sem disso desconfiar. São aqueles aos quais pode-se pedir conselhos pela via direta dos médiuns, e que os dão mesmo espontaneamente sem que lhes peça. Fazem-no sobretudo n a intimidade, no silêncio, e então quando nenhuma influência venha perturbá-los: aliás, são muito prudentes, e não se tem a temer da sua parte uma indiscrição imprópria: eles se calam quando há ouvidos demais. Fazem-no, ainda com mais bom grado, quando estão em comunicação freqüente conosco; como eles não dizem as coisas senão com o propósito e segundo a oportunidade, é preciso esperar a sua boa vontade e não crer que, à primeira vista, vão satisfazer a todos os nossos pedidos; querem nos provar com isso que não estão às nossas ordens.

A natureza das respostas depende muito do modo como se colocam as perguntas; é preciso aprender a conversar com os Espíritos como se aprende a conversar com os homens: em todas as coisas é preciso a experiência. Por outro lado, o hábito faz com que os Espíritos se identifiquem conosco e com o médium, os fluidos se combinam e as comunicações são mais fáceis; então se estabelece, entre eles e nós, verdadeiras conversações familiares; o que não dizem num dia, dizem-no em outro; eles se habituam à nossa maneira de ser, como nós à sua: fica-se, reciprocamente, mais cômodo. Quanto à ingerência de maus Espíritos e de Espíritos enganadores, o que é o grande escolho, a experiência ensina a combatê-los, e pode-se sempre evitá-los. Se não se lhes expuser, não vêm mais onde sabem perder seu tempo.

Qual pode ser a utilidade da propagação das idéias espíritas?

O Espiritismo, sendo a prova palpável, evidente da existência, da individualidade e da imortalidade da alma, é a destruição do Materialismo. Essa negação de toda religião, essa praga de toda sociedade. O número dos materialistas que foram conduzidos a idéias mais sadias é considerável e aumenta todos os dias: só isso seria um benefício social. Ele não prova somente a existência da alma e sua imortalidade; mostra o estado feliz ou infeliz delas segundo os méritos desta vida. As penas e as recompensas futuras não são mais uma teoria, são um fato patente que se tem sob os olhos. Ora, como não há religião possível sem a crença em Deus, na imortalidade da alma, nas penas e nas recompensas futuras, se o Espiritismo conduz a essas crenças aqueles em que estavam apagadas, disso resulta que é o mais poderoso auxiliar das idéias religiosas: dá a religião àqueles que não a têm; fortifica-a naqueles em que ela é vacilante; consola pela certeza do futuro, faz aceitar com paciência e resig nação as tribulações desta vida, e afasta do pensamento do suicídio, pensamento que se repele naturalmente quando se lhe vê as conseqüências: eis porque aqueles que penetraram esses mistérios estão felizes com isso; é para eles uma luz que dissipa as trevas e as angústias da dúvida.

Se considerarmos agora a moral ensinada pelos Espíritos superiores, ela é toda evangélica, é dizer tudo: prega a caridade cristã em toda a sua sublimidade; faz mais, mostra a necessidade para a felicidade presente e futura, porque as conseqüências do bem e do mal que fizermos estão ali diante dos nossos olhos. Conduzindo os homens aos sentimentos de seus deveres recíprocos, o Espiritismo neutraliza o efeito das doutrinas subversivas da ordem social.

Essas crenças não podem ser um perigo para a razão?

Todas as ciências não forneceram seu contingente às casas de alienados? É preciso condená-las por isso? As crenças religiosas não estão ali largamente representadas? Seria justo, por isso, proscrever a religião? Conhecem-se todos os loucos que o medo do diabo produziu? Todas as grandes preocupações intelectuais levam à exaltação, e podem reagir lastimavelmente sobre um cérebro fraco; teria fundamento ver-se no Espiritismo um perigo especial a esse respeito, se ele fosse a causa única, ou mesmo preponderante, dos casos de loucura. Faz-se grande barulho de dois ou três casos aos quais não se daria nenhuma atenção em outra circunstância; não se levam em conta, ainda, as causas predisponentes anteriores. Eu poderia citar outras nas quais as idéias espíritas, bem compreendidas, detiveram o desenvolvimento da loucura. Em resumo, o Espiritismo não oferece, sob esse aspecto, mais perigo que as mil e uma causas que a produzem diariamente; digo mais, que ele as oferece muito menos, naq uilo que ele carrega em si mesmo seu corretivo, e que pode, pela direção que dá às idéias, pela calma que proporciona ao espírito daqueles que o compreende, neutralizar o efeito de causas estranhas. O desespero é uma dessas causas; ora, o Espiritismo, fazendo-nos encarar as coisas mais lamentáveis com sangue frio e resignação, nos dá a força de suportá-las com coragem e resignação, e atenua os funestos efeitos do desespero.

As crenças espíritas não são a consagração das idéias supersticiosas da Antigüidade e da Idade Média, e não podem recomendá-las?

As pessoas sem religião não taxam de superstição a maioria das crenças religiosas? Uma idéia não é supersticiosa senão porque ela é falsa; cessa de sê-lo se se torna uma verdade. Está provado que, no fundo da maioria das superstições, há uma verdade ampliada e desnaturada pela imaginação. Ora, tirar a essas idéias todo seu aparelho fantástico, e não deixar senão a realidade, é destruir a superstição: tal é o efeito da ciência espírita, que coloca a nu o que há de verdade ou de falso nas crenças populares. Por muito tempo, as aparições foram vistas como uma crença supersticiosa; hoje, que são um fato provado, e, mais que isso, perfeitamente explicado, elas entram no domínio dos fenômenos naturais. Seria inútil condená-las, não as impediria de se produzirem; mas aqueles que delas tomam conhecimento e as compreendem, não somente não se amedrontam, mas com elas ficam satisfeitos, e é a tal ponto que aqueles que não as têm desejam tê-las. Os fenômenos incompreendidos deixam o camp o livre à imaginação, são a fonte de uma multidão de idéias acessórias, absurdas, que degeneram em superstição. Mostrai a realidade, explicai a causa, e a imaginação se detém no limite do possível; o maravilhoso, o absurdo e o impossível desaparecem, e com eles a superstição; tais são, entre outras, as práticas cabalísticas, a virtude dos sinais e das palavras mágicas, as fórmulas sacramentais, os amuletos, os dias nefastos, as horas diabólicas, e tantas outras coisas das quais o Espiritismo, bem compreendido, demonstra o ridículo.

Tais são, Príncipe, as respostas que acreditei dever fazer às perguntas que me haveis dado a honra em me endereçar, feliz se elas podem corroborar as idéias que Vossa Alteza já possui sobre essas matérias, e vos levar a aprofundar uma questão de tão alto interesse; mais feliz ainda se meu concurso ulterior puder ser para vós de alguma utilidade.

Com o mais profundo respeito, sou, de Vossa Alteza, o muito humilde e muito obediente servidor,

Fonte: Revista Espírita de janeiro de 1859

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

ORAÇÃO DO JOVEM

Senhor,
sinto-me aturdido no báratro da vida moderna.
Este foi um dia de agitação.
Pensando no estômago e nas exigências do corpo, esqueci-me de alçar-me a Ti.
Dominado pelas paixões desperdicei o tempo na futilidade.
Entre torturas e ansiedades, saí à cata de sensações fortes.
Agora detenho-me cansado...
Corri de um para outro lado, estive azorragado pelos impositivos da vida atribulada e, neste momento, deparo-me com as mãos vazias de feitos nobilitantes e o coração sem paz...
Por que me permito afligir com as questões da vida transitória, quando já me encontro cientificado da realidade verdadeira?
Ainda ontem, fazendo um exame de consciência prometi-me retificação, corrigenda interior.
Todavia, novos malogros me assaltaram no dia de hoje.
Padeço receios que me atestam a falência íntima dos poucos valores morais que possuo.
A verdade, porém, é que Te amo.
Sem embargo, surpreendo-me a cada momento distante de Ti.
Ajuda-me a não Te abandonar, porquanto sou eu quem necessita da Tua presença vigorosa.
A juventude, qual licor embriagante corre pelas minhas veias e esfogueia-me...
As ambições me convocam à corrida desenfreada, na busca, afinal, de coisa nenhuma.
Ouço os convites ardentes do mundo, atraentes, sedutores, e inquieto-me, porquanto, simultaneamente, Tua voz me penetra e me arrebata.
Senhor:
ajuda-me na barca frágil da minha juventude ansiosa em que naufrago e salva-me!
Aquieto-me, confiante, registo Tua voz a dizer-me, gentil:
- Bom ânimo. Aqui estou!
Conduze-me contigo ao porto da paz, Amigo Divino

Marcelo Ribeiro,
psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão da noite de 19/11/1975 no Centro Espírita "Caminho da Redenção", em Salvador, Bahia