segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A LENDA DE PURNA

Um negociante chamado Purna, que tinha enriquecido no comércio, em uma das suas viagens por mar ouvira homens lendo em voz alta hinos e orações, as próprias palavras de Buda. Essas palavras, novas para ele, impressionaram-no. Dirige-se para junto de Çakyamuni, que se apressa em ensinar-lhe que a lei inteira consiste na renúncia. Purna, convertido, deixa as suas riquezas, rompe com o mundo e pede para ser mandado como missionário às terras dos çrônâpârantakas, horda selvagem e feroz.

Buda esforça-se por desviá-lo desse projeto:

– Os homens do Çrônâpârantaka – diz-lhe ele – são arrebatados, cruéis, coléricos, furiosos, insolentes. quando te dirigirem em face palavras más, grosseiras e insolentes, quando se encolerizarem contra ti e quando te injuriarem, que pensarás tu?

– Se esses homens, senhor, dirigem-me em face palavras más, grosseiras e insolentes; se se encolerizarem contra mim, se me injuriarem, eis o que pensarei: são certamente homens bons os çrônâpârantakas, são homens brandos porque não me espancam com a mão nem com pedras.

– Mas se eles te espancarem com a mão ou com pedras, que pensarás tu?

– Pensarei que são bons e brandos, porque não me ferem com pau nem com espada.

– Mas se te ferirem com pau ou com espada, que pensarás tu?

– Pensarei que são bons e brandos porque não me privam completamente da vida.

– Mas se te privarem completamente da vida, que pensarás tu?

– Pensarei que há discípulos teus que, por causa desse corpo impuro, são atormentados, cobertos de confusão, desprezados, feridos à espada, que tomam veneno, que morrem do suplício da corda, que são lançados aos precipícios. São, pois, certamente homens bons os çrônâpârantakas, são homens brandos, porque me libertam com tão poucas dores deste corpo impuro.

– Está bem, está bem, Purna – disse-lhe Buda – podes, com a perfeição de paciência que possuís, fixar tua residência no país dos çrônâpârantakas. Vai, Purna, libertado, liberta; tu que chegaste à outra margem, ajuda os outros a lá chegarem; consolado, consola; tu que chegaste ao Nirvana completo, faz que os outros cheguem lá como tu.

Purna dirige-se, com efeito, ao terrível país, e por sua resignação imperturbável ele abranda seus ferozes habitantes, aos quais ensina os preceitos de seu mestre.

Burnouf – Introduction à l’histoire du bouddhisme indien,
apud Gibier, Paul in O Espiritismo ou o Faquirismo Ocidental, Ed. FEB

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

EM DEUS TEMOS... CONSOLO

Em meio às dificuldades e ao sofrimento, Deus estende a sua mão e nos dá consolo.

"Quando as pessoas honestas chamam o Senhor,
ele as ouve
e as livra de todas as suas aflições.
Ele fica perto dos que estão desanimados
e salva os que perderam a esperança.
Os bons passam por muitas aflições,
mas o Senhor os livra de todas elas."
Salmos 34,17-19

"Lembra da promessa que fizeste a mim, este teu servo,
a promessa que tem sido a minha esperança.
No sofrimento, eu fui consolado porque a tua promessa me deu vida.
Peço que o teu amor me console, como prometeste a mim, este teu servo!"
Salmos 119.49-50,76

Todos nós possuímos aflições, receios, medos mais recônditos em nossa alma imortal, porém somos todos filhos do Pai Incriado, Senhor de Tudo e Todos, que nos fez amaldiçoados. Amaldiçoados a sermos felizes, não nesta terra de provas e expiações, mas junto dele em mundos e dimensões onde predominam o amor e a bem-aventurança. Portanto, o que aqui passamos é apenas um degrau na escala ascensional do espírito imorredouro e não estamos desnaturados. Nosso Criador nos ampara sempre, embora não percebamos. Sempre que pedimos a Ele, somos atendidos, mesmo que não seja o que esperamos, pode ser até mesmo ao contrário, a Suprema Inteligência pode nos tirar até aquilo que já temos, se for isso que nos cause as aflições. Temos sempre de confiar n'Ele e nos ajudar ao mesmo tempo, pois como diz o salmo "Os bons passam por muitas aflições, mas o Senhor os livra de todas elas.", portanto ajudeme-nos sendo bons, sendo caridosos, sendo amoráveis, sendo irmãos. A Fraternidade leva a Igualdade e a Igualdade leva a Liberdade e assim agindo, amando-nos como irmãos, apoiando-nos como irmãos, todas as tribulações da vida passarão e nem sentiremos mais medo ou receio. Deus ajuda e consola a todos, mas não custa darmos nossa contribuição a Ele, ajudando-nos uns aos outros.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

NÃO SOMOS NOSSOS PROBLEMAS

Conta-se que Victor Hugo, o admirável escritor francês, quando no exílio, tinha por hábito, ao cair da tarde, chegar a uma parte em que havia uma colina próxima ao mar, e ali sentava-se, mergulhando em reflexões demoradas.

Enquanto o grande gênio da língua neolatina meditava, crianças brincavam à sua volta.

Depois de haver reflexionado suficientemente, o gigante da pena erguia-se, dobrava-se, tomava de uma pedra e a atirava ao mar.

Tornara-se-lhe tão habitual este movimento que já o fazia por automatismo.

Certo dia, porém, uma das crianças, vendo o grande escritor repetir o gesto de atirar ao mar uma pedra, perguntou, com o olhar traquinas e o sorriso infantil:

Senhor Hugo, por que o senhor, depois de meditar tanto, toma de uma pedra e a joga no mar?

E o admirável exilado respondeu, com um toque de melancolia:

É que tenho muitos problemas e resolvi, diariamente, por meditar em um problema. Após equacioná-lo, atirá-lo ao mar do esquecimento.

* * *

Não permitamos que os problemas tomem conta de nossa vida e exauram todas as nossas energias.

É necessária a compreensão de que estamos no problema, mas não somos o problema. Somos a solução para ele.

Quando analisarmos cada um deles, devemos pensar: Aqui está o meu problema. Fora de mim.

Não somos este momento de aflição. Apenas transitamos por ele temporariamente.

Encaremos cada problema como um desafio, algo que veio para fazer-nos crescer, amadurecer. E não para nos destruir.

Isso permitirá que a vida o solucione com tranquilidade, sem desgastar-nos em demasia.

Contemos com ajuda externa. Não acreditemos que tenhamos que resolver tudo sempre sozinhos.

Há tanta gente disposta a nos ajudar, no mundo material, e no mundo invisível, onde encontramos os amores do ontem e os protetores de nossa reencarnação.

Então, após resolver cada problema, atiremo-lo ao mar do esquecimento, não permitindo que ele permaneça em nossa casa mental.

Renovemo-nos diariamente, não permitindo que resquícios de crises e dores amarguem a alma, e se transformem em prisão indesejada.

Não nos assustemos com a palavra problema. Se ela nos parecer assustadora, troquemo-la por outra, como desafio ou obstáculo.

Obstáculos existem para serem observados, compreendidos e transpostos.

Saímos mais fortes de cada um deles, se desejarmos, em vez de mais fracos e abalados.

Libertemo-nos desse negativismo que, por vezes, estraga nosso dia, quando a lente do pessimismo nubla nossa vista imperceptivelmente.

Libertemo-nos do cinza, do escuro dos pensamentos que tanto nos aborrecem a alma.

Nascemos para ser livres, então, libertemo-nos.

Não somos nossos problemas. Apenas transitamos por eles temporariamente.

Pensemos nisso.


Redação do Momento Espírita com base na faixa 1, do cd Visualizações terapêuticas, de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal.
Em 13.09.2011.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

PSICOGRAFIA DE WILLIAM STAINTON MOSES

Aqui mostro o primeiro livro clássico do Espiritismo por mim traduzido, é o livro Psicografia, do Rev. William Stainton Moses, de 1882. Stainton Moses foi um grande médium de efeitos físicos e mentais inglês do final do século XIX. Está hospedado no site Autores Espíritas Clássicos.

Sinopse: A obra versa toda em torno de um aspecto dos fenômenos materiais das manifestações espirituais, a psicografia. À época, em meados do século XIX, apesar da tiptologia (comunicação através de batidas) ainda vogar, ela foi aos poucos sendo descartada por uma mais refinada. A psicografia em lousas escolares com o auxílio de lápis de ardósia - um tipo de giz mais macio, muito utilizado por poder ser partido sem se esmigalhar demasiado - se tornou uma das formas de comunicação mais populares, principalmente pela divulgação dos médiuns Henry Slade, americano, e F.W. Monck, inglês. O autor pauta o seu livro quase que inteiramente em casos relacionados com os dois médiuns. Para demonstrar a veracidade dos escritos, ele cita casos com Barão de Guldenstubbé, W. Crookes e Madame Blavastky, entre outros. Ao final, arrola algumas das teorias sobre o fenômeno, desde a materialista até a espiritista.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

ABORTO: DOCUMENTO INÉDITO

O “Serviço Espírita de Informações” elaborou documento com fotocópias de recortes originais de jornais dos anos 80 e outros recentes evidenciando as controvérsias nos números do aborto. Alguns são materiais já citados em reportagens especiais do SEI, mostrando também os problemas ocasionados pela descriminalização do aborto em países que liberaram a prática há décadas. Bastante didático, o material vem para mostrar que a plena liberação do aborto não oferece a solução “vendida” pelos interessados em sua legalização. 

O documento pode ser apresentado em painéis, exposições, postado em blogs, sites, ou servir como base para outros trabalhos, inclusive nos meios acadêmicos. O objetivo é chamar a atenção de um maior número possível de pessoas para os cuidados que se deve ter na discussão do aborto, que não envolve apenas questões ideológicas ou de religião, mas interesses econômicos poderosos.
 
Surge num momento em que se intensifica a atuação de grupos próaborto junto ao Governo, inclusive no Congresso Nacional, onde, no dia 18 de agosto, aconteceu reunião e plenária da Frente Nacional contra a Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto, que apresentou ao Senado uma plataforma para a legalização do aborto no país.

O documento elaborado pelo SEI tem 23 páginas e 2,87 Mb. Pode ser baixado em http://www.lfc.org.br/sei/novo/diversos/Sobre_o_tema_aborto.pdf

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

ALGUMAS PALAVRAS DE RAMATÍS SOBRE JESUS


PERGUNTA: — Que dizeis de certos autores, alguns sin­ceros e outros apenas talentosos, quando asseguram que Jesus foi apenas um "mito" e jamais existiu fisicamente no seio da humanidade terrena?
RAMATíS: — E' indiscutível que Jesus não só compro­vou as predições do Velho Testamento, como ainda corres­pondeu completamente às esperanças do Alto na sua missão espiritual junto aos terrícolas. Os profetas tentaram comu­nicar aos judeus as premissas principais da identificação do Messias, assim como o tempo de sua vinda ao orbe, pois asseguraram que Israel seria o povo eleito para tal evento tão importante. Conforme as predições de Isaías (Cap.II, vers. 6 a 8), depois do advento do Salvador, todas as coisas se ajustariam, pois até o "cordeiro se deitaria com o lobo, o leão comeria a palha junto ao boi e um pequeno menino conduziria as feras". E as profecias ainda advertiam a raça de Israel, eleita para o advento do Messias, quanto à sua queixa, mais tarde, ao exclamar que "o povo para o qual viera, não o conhecera". Corroborando tal predição, os ju­deus de hoje ainda adoram Moisés, profeta irascível, vinga­tivo e até cruel; e olvidam Jesus, pleno de amor, bondade e renúncia, porque, realmente, "ainda não reconheceram o seu verdadeiro Messias"!
Efetivamente, causa estranheza o fato de certos auto­res ainda considerarem Jesus um mito ou embuste religioso, e lhe negarem a vida física e coerente na Terra. Em ver­dade, Jesus é justamente o ser cada vez mais vivo entre os homens; pois a sua doutrina, crescendo em todos os sentidos, já influencia até os povos afeiçoados aos credos de outros instrutores. Se o fulgor da Roma de Augusto ofuscou os historiadores da época, fazendo-os ignorar a figura de Jesus, isso não o elimina da face da Terra, nem o desfiguram as lendas semelhantes já atribuídas a Adonis, Crisna, Buda, Orfeu, Átis, Osíris, Dionísio ou Mitras. Apesar das inequí­vocas referências históricas sobre Aníbal, Júlio César, Carlos Magno ou Napoleão; ou mesmo sobre filósofos excepcio­nais, como Sócrates, Platão, Epicuro, Aristóteles, Spinoza ou Marco Aurélio, eis que Jesus, o "mito", sobrepuja, em cele­bridade, a todos esses homens famosos!
Por que Jesus, o "mito", supera a realidade e vive cada vez mais positivo e imprescindível no coração da humanidade terrena, enquanto famosos personagens "históricos" arrefecem no seu prestígio através dos tempos? Em verdade, os homens já experimentaram todas as filosofias, reformas religiosas e todos os códigos morais e sociais, e, no entanto, não lograram uma solução definitiva para os seus problemas angustiosos. A humanidade terrena do século XX, cada vez mais neurótica e desesperada, pressente a sua derrocada inevitável, ante o requinte e a fúria dos mesmos conflitos odiosos e guerras fratricidas do passado! Os homens da caverna não evoluíram nem se humanizaram; apenas trocaram o tacape pelo revólver de madrepérola, ou o porrete pela metralhadora eletrônica! Matava-se a pedras e paus, um de cada vez; hoje, mata-se urna civilização derretendo a sob o impacto da bomba atômica! Paradoxalmente, não é a cultura e a experiência real transmitidas pela História o fundamento convincente para solucionar os problemas humanos tão aflitivos na atualidade.  As criaturas estão tomadas pela desconfiança; duvidam da ciência que lhes dá o conforto material, mas não lhes ameniza a angústia do coração; descrêem de todas as inovações sociais e educativas, que planejam um futuro brilhante mas não proporcionam a paz de espírito! No entanto, Jesus, o "mito" esquecido pela história pro­fana, ainda é o único medicamento salvador do homem mo­ral e psiquicamente enfermo do século atual! Só o seu Amor e o seu Evangelho poderão amainar as paixões humanas e harmonizar os seres numa convivência pacífica e jubilosa! Se Jesus fosse fruto da fantasia religiosa, então teríamos de concordar com a inversão de todos os valores do conheci­mento humano, a ponto de não distinguirmos o fantasioso do real! Que força poderosa alimentou a vivência desse Mes­tre Cristão "imaginário", fazendo-nos reconhecer-lhe um porte moral e espiritual do mais alto quilate humano? Qual­quer homem pode negar a existência de Jesus; porém, ja­mais há de oferecer ao mundo conturbado e corrupto uma solução mais certa e mais eficaz do que o seu Evangelho!

PERGUNTA: — A fim de Jesus de Nazaré, elevado ins­trutor espiritual, conseguir baixar à Terra e encarnar entre nós, houve necessidade de providências excepcionais, ou tal acontecimento obedeceu somente às mesmas leis comuns que regulam a encarnação dos espíritos em geral?
RAMATíS: — O nascimento de "Avatares" ou de altas entidades siderais no vosso orbe, como Jesus, exige a mobi­lização de providências incomuns por parte da técnica transcendental, cujas medidas ainda são ignoradas e incom­preendidas pelos terrícolas. É um acontecimento previsto com muita antecedência pela Administração Sideral 1, pois do seu evento resulta uma radical transformação no seio espiritual da humanidade. Até a hora de espírito tão eleva­do vir à luz no mundo terreno, devem ser-lhe assegurados todos os recursos de defesa e assistência necessários para o êxito de sua "descida vibratória".
Aliás, para cumprir a missão excepcional no prazo mar­cado pelo Comando Superior, o plano de sua encarnação também prevê o clima espiritual de favorecimento e divul­gação de sua mensagem na esfera física. Deste modo, encar­nam-se com a devida antecedência, espíritos amigos, fiéis cooperadores, que empreendem a propagação das idéias novas ou redentoras, recebidas do seu magnífico Instrutor, em favor da humanidade sofredora.
Jesus foi um "Avatar", ou seja, uma entidade da mais alta estirpe sideral já liberada da roda exaustiva das reen­carnações educativas ou expiatórias. Em conseqüência, a sua encarnação não obedeceu às mesmas leis próprias das encarnações comuns dos Espíritos primários e atraídos à carne devido aos recalques da predominância do instinto animal. Os espíritos demasiadamente apegados à matéria não encontram dificuldades para a sua reencarnação, pois em si mesmos já existe a força impetuosa do "desejo" impe­lindo-os para a carne.
No entanto, Jesus, o Sublime Peregrino, ao baixar à Terra em missão sacrificial e sem culpas a redimir, para faci­litar o seu ligamento com a matéria, viu-se obrigado a mobi­lizar sua vontade num esforço de reviver ou despertar na sua consciência o desejo de retorno à vida física, já extinto em si há milênios e milênios. A fim de vencer a distância vibratória existente entre o seu fulgente reino angélico e o mundo terreno sombrio, ele empreendeu um esforço indes­critível de "auto-redução", tão potencial quanto ao que um raio de Sol teria de exercer em si mesmo para conseguir habitar um vaso de barro. Os espíritos inferiores são arras­tados naturalmente pelos recalques dos "desejos" que os impele para a vida carnal, e assim ligam-se à matriz uterina da mulher, obedecendo apenas a um imperativo ou instinto próprio da sua condição ainda animalizada. Em tal cir­cunstância, os técnicos siderais limitam-se a vigiar o fenômeno genético da Natureza. Trata-se de encarnações que obedecem aos moldes primitivos das vidas inferiores, cujos espíritos compõem as "massas" inexpressivas da humanida­de terrena. Mesmo depois de desencarnados, mal dão conta de sua situação, porque ainda vivem os desejos, as emoções e os impulsos da vida psíquica rudimentar. Sem dúvida, o Senhor não os esquece no seu programa evolutivo, orientan­do-os, também, para a aquisição de consciência espiritual mais desenvolvida.
No caso de Jesus, tratava-se de uma entidade emancipa­da no seio do sistema solar, uma consciência de alta espiri­tualidade, que não podia reajustar-se facilmente à genética humana. Tendo se desvencilhado há muito tempo dos liames tecidos pelas energias dos planos intermediários entre si e a crosta terráquea, ele precisaria de longo prazo para, na sua descida, atravessar as faixas ou zonas decrescentes dos pla­nos de que já se havia libertado. E então, para alcançar a matéria na sua expressão mais rude, teve de submeter-se a um processo de abaixamento vibratório perispiritual, de modo a ajustar-se ao metabolismo biológico de um corpo carnal. Jesus não poderia ligar-se, de súbito, à substância grosseira da carne, antes que a Ciência Divina lhe proporcio­nasse o ensejo favorável e as providências indispensáveis para uma graduação de ajuste à freqüência comum da Terra.

PERGUNTA: — Poderíeis citar-nos mais alguns exem­plos quanto à necessidade de Jesus reduzir propriamente o seu perispírito para alcançar a carne?
RAMATÍS: (...) Atendendo a vossa pergunta, recomendamos sobre o assunto a leitura de todo o Capítulo XIII, inserido na obra mediúnica "Missionários da Luz", no qual se estuda o mecanismo da reencarnação de uma entidade com algu­mas prerrogativas a seu favor. Citando pequenos tópicos desse livro, (...) onde os técnicos se dirigem ao espírito de Segismundo, a entidade reencar­nante, e assim lhe dizem: "Dê trabalho à sua imaginação criadora. Mentalize os primórdios da condição fetal, for­mando em sua mente o modelo adequado." Além, lereis: "Agora continuou o instrutor — sinto­nize conosco relativamente à forma pré-infantil. Mentalize sua volta ao refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal, faça-se pequenino! Imagine sua neces­sidade de tornar a ser criança para aprender a ser homem!"
Ainda na mesma página, o autor elucida: "A ope­ração não foi curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução necessária." É evidente que ainda não estamos em condições de compreender o proces­so sideral da descida de Jesus, cujo tempo do calendário humano despendeu quase um milênio no esforço de auto-redução antes de atingir a Terra. Se uma encarnação tão simples, como relatam espíritos credenciados no Espaço, pelas obras que citamos, exige tais recursos e mobilizam assistência superior, imaginai a atividade angélica durante um milênio preparando e consolidando o advento do Mes­sias à Terra! E a mesma obra ainda confirma essa assistên­cia superior quando assim diz: "Em todo o lugar desenvolve-se o auxílio da esfera superior, desde que se encontre em jogo o trabalho da Vontade de Deus. Entretanto, devemos considerar que, em tais circuns­tâncias, as atividades de auxílio são verdadeiramente sacri­ficiais. As vibrações contraditórias e subversivas das paixões desvairadas da alma em desequilíbrio comprometem os nos­sos melhores esforços..."


Ramatís, por Hercílio Maes
In Sublime Peregrino, Ed. Freitas Bastos 1964

terça-feira, 13 de setembro de 2011

ESTRADA DA VIDA


Suponhamos uma longa estrada, sobre o percurso da qual se encontram, de distância em distância, mas em intervalos desiguais, florestas que é preciso atravessar; à entrada de cada floresta, a estrada larga e bela é interrompida e não retoma senão na saída. Um viajor segue essa estrada e entra na primeira floresta; mas lá, não mais vereda batida; um dédalo inextricável no meio do qual se perde; a claridade do Sol desapareceu sob o espesso maciço das árvores; ele erra sem saber para onde vai; enfim, depois de fadigas extraordinárias chega aos confins da floresta, mas abatido de fadiga, rasgado pelos espinhos, machucado pelos calhaus. Lá, reencontra a estrada e a luz, e prossegue seu caminho, procurando se curar de suas feridas.

Mais longe, encontra uma segunda floresta, onde o esperam as mesmas dificuldades; mas já tem um pouco de experiência e dela sai menos contundido. Numa, encontra um lenhador que lhe indica a direção que deve seguir e impede-o de se perder. A cada nova travessia a sua habilidade aumenta, se bem que os obstáculos são mais e mais facilmente superados; seguro de reencontrar a bela estrada na saída, essa confiança o sustenta; depois sabe se orientar para encontrá-la mais facilmente. A estrada termina no cume de uma montanha muito alta, de onde avista todo o percurso desde o ponto de partida; vê também as diferentes florestas que atravessou e se lembra das vicissitudes que experimentou, mas essa lembrança nada tem de penosa, porque alcançou o objetivo; é como o velho soldado que, na calma do lar doméstico, se lembra das batalhas às quais assistiu.

Essas florestas disseminadas sobre a estrada são para ele como pontos negros sobre uma condecoração branca; ele diz a si mesmo: "Quando estava nessas florestas, nas primeiras sobretudo, como me pareciam longas para atravessar! Parecia-me que não chegaria mais ao fim; tudo me parecia gigantesco e intransponível ao meu redor. E quando penso que, sem esse bravo lenhador que me recolocou no bom caminho, talvez estaria ali ainda! Agora que considero essas mesmas florestas, do ponto de vista onde estou, como me parecem pequenas! Parece-me que, com um passo, teria podido transpô-las; bem mais, a minha vista as penetra e nelas distingo os menores detalhes; vejo até as faltas que cometi."

Então, um velho lhe diz: . Meu filho, eis-te no fim da viagem, mas um repouso indefinido te causaria logo um tédio mortal, e ficarias a lamentar as vicissitudes que experimentaste e que deram atividade aos teus membros e ao teu Espírito. Vês daqui um grande número de viajores sobre a estrada que percorreste, e que, como tu, correm risco de se perder no caminho; tens a experiência, não temes mais nada; vai ao seu encontro e, pelos teus conselhos, trata de guiá-los, a fim de que cheguem mais cedo.

. Vou com alegria, redargüe nosso homem; mas, ajuntou, por que não há uma estrada direta do ponto de partida até aqui?Isso pouparia, aos viajores, passar por essas abomináveis florestas.

. Meu filho, replica o velho, olha bem nelas e verás que muitos evitam um certo número delas; são aqueles que, tendo adquirido mais cedo a experiência necessária, sabem tomar um caminho mais direto e mais curto para chegar; mas essa experiência é o fruto do trabalho que as primeiras travessias necessitaram, de tal sorte que não chegam aqui senão em razão de seu mérito. Que saberias, tu mesmo, se por ali não tivesses passado? A atividade que deveste desdobrar, os recursos de imaginação que te foram necessários para te traçar um caminho, aumentaram os teus conhecimentos e desenvolveram a tua inteligência; sem isso, serias novato como em tua partida. E depois, procurando tirar-te dos embaraços, tu mesmo contribuíste para a melhoria das florestas que atravessaste; o que fizeste é pouca coisa, imperceptível; mas pensa nos milhares de viajores que o fazem também, e que, trabalhando todos para eles, trabalham, sem disso desconfiarem, para o bem comum. Não é justo que recebam o salário de seu trabalho pelo repouso do qual gozam aqui? Que direito teriam a este repouso se nada tivessem feito?

. Meu pai, reflete o viajor, numa dessas florestas, encontrei um homem que me disse: "Sobre a borda há um imenso abismo que é preciso transpor de um salto; mas, sobre mil, apenas um consegue; todos os outros lhe caem no fundo, numa fornalha ardente e estão perdidos sem retorno. Esse abismo eu nunca vi."

. Meu filho, é que não existe, de outro modo isso seria uma armadilha abominável estendida a todos os viajores que viessem em minha casa. Eu bem sei que lhes é preciso superar as dificuldades, mas sei também que, cedo ou tarde, as superarão; se tivesse criado impossibilidades para um único, sabendo que deveria sucumbir, teria sido cruel, e com mais forte razão se o fizera para o grande número. Esse abismo é uma alegoria da qual vais ver a explicação. Olha sobre a estrada, nos intervalos das florestas; entre os viajores, vês os que caminham lentamente, com um ar feliz, vês esses amigos que se perderam de vista nos labirintos da floresta, como estão felizes em se reencontrarem na saída; mas, ao lado deles, há outros que se arrastam penosamente; são estropiados e imploram a piedade dos que passam, porque sofrem cruelmente das feridas que, por sua falta, fizeram a si mesmos através das sarças; mas disso se curarão, e isso será, para eles, uma lição da qual aproveitarão na nova floresta que terão que atravessar, e de onde sairão menos machucados. O abismo é a figura dos males que sofrem, e dizendo que sobre mil só um o transpõe, esse homem teve razão, porque o número dos imprudentes é muito grande; mas errou dizendo que, uma vez caído dentro, dele não se sai mais; há sempre uma saída para chegar a mim. Vai, meu filho, vai mostrar essa saída àqueles que estão no fundo do abismo; vai sustentar os feridos da estrada e mostra o caminho àqueles que atravessam as florestas.

A estrada é a figura da vida espiritual da alma, sobre o percurso da qual se é mais ou menos feliz; as florestas são as existências corpóreas, onde se trabalha para o seu adiantamento, ao mesmo tempo que para a obra geral; o viajor que chega ao objetivo e que retorna para ajudar aqueles que estão atrasados, é a dos anjos guardiães, missionários de Deus, que encontram a sua felicidade em seu objetivo, mas também na atividade que desdobram para fazerem o bem e obedecerem ao supremo Senhor.

Allan Kardec 
In Óbras Póstumas, ed. FEB