quinta-feira, 1 de setembro de 2011

RODOLFO VALENTINO E SUA GUIA, BLAVASTKY

Escrito, na década de 1920, pela Sra. Natacha Rambova, o livro intitulado Rudy (não tenho informações se foi publicado em português), narra a vida de seu marido, Rodolfo Valentino, o célebre ator da era muda do cinema, acrescentando-lhe algumas mensagens mediúnicas obtidas do defunto. Do ponto de vista das “revelações transcendentais”, o livro apresenta grande interesse, constituindo uma síntese admirável do que tem sido invariavelmente afirmado pelos outros defuntos, em suas mensagens. Contém, além disso, ulteriores esclarecimentos com relação a temas muito importantes, como, por exemplo, “o poder criador de que dispõe o pensamento no meio espiritual e no meio terrestre” e a “natureza íntima da música”, dois temas que nestas comunicações são tratados por meio de informações, que se podem considerar quais relâmpagos de uma nova luz.
Por esse livro se vem a saber que Rodolfo Valentino, em vida, se ocupava com experiências mediúnicas, sendo ele próprio muito notável médium escrevente e vidente.
As mensagens mediúnicas que vamos reproduzir foram obtidas pela Sra. Rambova na residência de seu pai, situada nos arredores de Nice, com o auxílio do médium americano Jorge Benjamim Wehner, que também servia freqüentemente para a fundadora da Sociedade Teosófica e autora dos livros Ísis sem Véu e A Doutrina Secreta, Sra. H. P. Blavatski, que, tendo-se encontrado com o Espírito do defunto Valentino, graças a essas sessões, se tornou seu “guia espiritual”, o que é fato quase desconhecido.
 “Quando já me achava em estado muito grave, mas sem que os que me assistiam soubessem que eu morreria, vi de repente o fantasma de “Jeny”. Tão surpreendido fiquei, que creio tê-la chamado pelo seu nome. Vi-a por um instante: estava cercada de uma luminosidade rósea. Olhou-me a sorrir, exatamente como fazia em vida, quando sabia que eu precisava de animação, e me estendeu os braços. Por aquele sorriso parecia dizer-me: “Não te aflijas!” Entretanto, não a ouvi falar. Ao cabo de um segundo, a visão desapareceu; mas bastou para me dar a compreender que eu morreria. Do fundo do meu ser tive a intuição de que a minha carreira terrestre tocava a seu termo. Apavorei-me. Não queria morrer. Estranha sensação se apoderou então de mim: parecia que me abismava no vácuo, fora de todas as coisas.
O mundo se me afigurava mais agradável e mais belo do que antes. Pensei no meu trabalho, de que gostava tanto! Pensei na minha casa, nas minhas coisas, nos meus animais favoritos. As recordações se apresentavam em multidões no meu cérebro. Eram lembranças de automóveis, de viagens, de iates, de trajes, de dinheiro. Todo esse material, confesso, me parecia precioso. A idéia de que tudo isso ia ser varrido para longe de mim e para sempre me aterrorizava. Tinha a impressão de que meu corpo se tornara pesado e, ao mesmo tempo, a de que havia em mim alguma outra coisa, que me parecia cada vez mais leve, como se eu houvesse de elevar-me nos ares, de um instante para outro.
O tempo se escoava e isso adquiria para mim singular importância. Parecia-me que alguma coisa de desconhecido, de misterioso se desenhava ao longe, diante de meus olhos. Sentia-me como que imerso numa apavorante sensação de imensidade, que me oprimia e me fazia tremer a alma.
Centenas de coisas, que projetara fazer, se apresentavam ao meu espírito: coisas importantes umas e banais outras. Também me vinham à memória as cartas que tivera a intenção de escrever. Contudo, a visão fugaz, porém viva, de “Jeny” me convencera de que eu nada mais podia fazer do que projetara. Não podia esquecer-lhe o sorriso singular e encantador, seus braços estendidos, como a me chamar, a luminosidade espiritual que a envolvia.
... Em meu cérebro se apresentava confusamente a lembrança de todas as pessoas que eu conhecera. Semblantes, semblantes, ainda semblantes! Eram pessoas que vira alguns dias antes; outras que conhecera havia muitos anos. Pensava nos meus jovens colegas, nas pessoas que me procuravam para obter auxílios, nas que, pertencendo a outras classes, vinham ter comigo pelos mais diversos motivos. Via os rostos de Maria, de Alberto, de Ada, da tia Tessie, de Schenck, de Muzzie, o teu! Rostos, rostos, sempre rostos! Depois, recordações de meu pai, de minha mãe. Minha infância, a escola, minha bela Itália; minha primeira viagem à América, meu primeiro certificado de nacionalidade. Esse fluxo imenso de recordações me abrandava as penas. Os mais insignificantes e mais ridículos acontecimentos de minha existência também se apresentavam muito vivazes em meu cérebro. Loucuras, prazeres, dores, tudo o que fizera no curso da minha vida sobrevinha sem ser chamado, não sei donde, para fazer ato de presença. Tudo isso acabou por me produzir uma vertigem; desmaiei.
Quando voltei a mim, a operação cirúrgica havia terminado. Toda gente me dirigia sorrisos de animação. Era preciso que me conservasse absolutamente quieto, embora desejasse pedir muitas coisas.
De todo modo, nos meus últimos dias de vida, embora me sentisse às vezes com bastantes forças, via-me presa de inexplicável sentimento de medo. Sentia que, se me pudesse levantar e começasse a ocupar-me com as coisas que tivera de abandonar, conseguiria fazer que desaparecesse aquele misterioso medo. Como era natural, não permitiam sequer que me mexesse. Chegou-me a tua missiva e me confortou enormemente. Tive então uma intuição esquisita: a de que em breve te tornaria a ver e que, de um momento para outro, te veria no meu quarto. Meu guia espiritual – Sra. H. Blavatski – me explicou mais tarde que essa sensação era produzida por estar eu para vir em breve ter contigo.
Afligiu-me em seguida uma grande dificuldade de respirar. Compreendi que meu fim se aproximava. Fiquei aterrorizado. A hora extrema me apanhara de um modo por demais repentino. Não creio, minha querida Natacha, que meu estado d’alma fosse o de temor da morte. Não, eu tremia em face do desconhecido. Sabes quanto me inquietava sempre a incerteza de uma situação, bem como toda espécie de coisas desconhecidas.
Foi então, minha querida Natacha, que comecei a perceber uma mudança no meu ser. Percebia-a no meu corpo e no meu espírito. Parecia-me que alguma coisa se ia de mim. Experimentava, de tempos a tempos, uma sensação de arrancadura, como se alguma parte do meu ser estivesse sendo arrancada do resto.
Pensava no que ia dar-se com o meu corpo: funerais, incineração ou enterramento, coisas todas essas que me causavam horror.
Chegou o sacerdote. Acolhi-o como um raio de luz nas trevas. A ele me confiei, com todos os sentimentos de terror, de horror, de inquietação que me atormentavam. De novo me emergiram da consciência as recordações da minha infância; diante de mim desfilaram as naves de uma catedral.
Os últimos sacramentos!
Quando a singela cerimônia terminou, já me sentia longe do meio terreno. Modificara-se a minha situação mental. A Igreja me tinha consigo, como se forte mão amiga me segurasse. Já não estava só. Não tive mais medo. Em seguida, as pessoas que me cercavam se tornaram indistintas. Silêncio. Trevas. Inconsciência.
Não posso calcular durante quanto tempo permaneci nesse estado. Afinal, abri os olhos, como se despertasse de longo e profundo sono, experimentando ao mesmo tempo a sensação de estar sendo arrastado rapidamente para o alto. Achei-me em maravilhosa luminosidade azulada. logo vi, dirigindo-se ao meu encontro, “Black Feather” (o indiano, “Espírito-guia” de Valentino, quando este servia de médium), “Jeny” e Gabriela, minha mãe!
Estava morto! Estava morto!
Estava vivo!
Tais são, Natacha, as primeiras recordações que tenho da minha morte.”
 “Era o dia em que transportaram meu corpo para sua última morada. Comecei a perceber um afrouxamento do interesse público pela minha pessoa, interesse tão vivo, que penso haver contribuído para reter o meu Espírito no meio terreno. Quando, porém, meu corpo foi depositado no túmulo e os jornais começaram a esquecer-me, experimentei uma sensação de solidão desoladora... Revoltei-me contra o destino, que me arrancara a vida no apogeu da minha glória. Receio ter então feito uma apreciação excessivamente elevada a meu respeito, pois me parecia que a arte muda, sem mim, não mais poderia caminhar. Agora, rio-me de mim mesmo. Mas, naquele momento, julgava seriamente que minha morte era uma perda irreparável para a arte.
Encontrava-me de novo no meio terrestre e estava só. Passeava ao longo da “Broadway”. Essa rua me parecia tão real, como se estivesse a percorrê-la vivo. Entretanto, ninguém me prestava atenção. Sentia certa dificuldade em me convencer de que ninguém dava por mim. Via-me tão real e tão reais via os vivos, que não chegava a fixar idéia sobre a grande mudança que se havia operado. Acabei por me aborrecer de deambular daquela maneira, por entre uma multidão de transeuntes apressados, que todos pareciam decididos a esbarrar em mim. Certa vez, dei mesmo um encontrão em cheio numa mulher. Ela empalideceu e se aconchegou ao cavalheiro que a acompanhava, exclamando: “Meu Deus! donde veio este sopro gelado que senti!” Esta exclamação me pôs furioso. Então a morte me havia mudado num sopro frio? Isso de modo algum me era lisonjeiro. Dirigi-me para um grupo de artistas de teatro, que estacionavam à esquerda da “Quadragésima sétima rua”. Tomei um deles pelo braço e lhe gritei forte: “Eu sou Rodolfo Valentino!” Mas o homem não se apercebeu de coisa alguma e continuou a rir e a conversar.
Que ressentimento contra todo mundo se apoderou de mim, naquele canto de rua! Chorei de dor e de raiva. Porém, era vã toda a revolta.
Súbito, dirigi-te o meu pensamento; lembrei-me do telegrama que me passaste, quando me achava em estado grave, assim como dos telegramas de Muzzie e do tio Dick. Enquanto pensava nisso, senti que me tocavam no braço. Voltei-me e vi a meu lado uma mulher com aspecto de matrona, de olhar inteligente e generoso. Jamais esquecerei o tom doce e tranqüilizador de sua voz, se bem haja pronunciado as primeiras frases com impetuosa veemência. Exclamou: “Danação e um inferno de chamas foi o que te predisse a Igreja e é o que agora te faz tão desditoso! Vem comigo! Nada há de verdadeiro em o que ao teu Espírito inculcaram os representantes dos credos ditos cristãos: são pobres cegos todos eles. Precisas neste momento de um guia; aqui estou. Fui em vida H. P. Blavatski...”
Isso dito, acrescentou, a sorrir: “Vem.”
Perdi os sentidos. Quando voltei a mim, achei-me no salão da vivenda do tio Dick. Era noite; as escadarias estavam iluminadas. Meu guia lá se achava à entrada e me fez sinal para que entrasse. Atravessamos juntos muitos aposentos, que eu conhecia bastante, e chegamos ao quarto de Muzzie. Tu estavas com ela; diante de vocês estava Jorge Wehner, profundamente adormecido, numa poltrona.
Disse-me a Sra. Blavatski: “Ele está imerso em sono mediúnico. Podes, pois, conversar com os teus.”
Tal foi, minha querida Natacha, o começo das minhas comunicações contigo. Devo-o ao meu generoso guia.”
 “Aqui, tudo o que existe parece constituído em virtude das diferentes modalidades pelas quais se manifesta a força do pensamento. Afirmam-me que a substância sobre que se exerce a força do pensamento é, na realidade, mais sólida e mais durável do que as pedras e os metais no meio terrestre. Muitas dificuldades encontrais, naturalmente, para conceber semelhante coisa, que, parece, não se concilia com a idéia que se pode formar das modalidades em que devera manifestar-se a força do pensamento. Eu, por minha parte, imaginava tratar-se de criações formadas de uma matéria vaporosa; elas, porém, são, ao contrário, mais sólidas e revestidas de cores mais vivas do que o são os objetos sólidos e coloridos do meio terrestre... As habitações são construídas por Espíritos que se especializaram em modelar, pela força do pensamento, essa matéria espiritual. Eles as constroem sempre tais como as desejam os Espíritos, pois que tomam às subconsciências destes últimos os gabaritos mentais de seus desejos.”
 “Muitos Espíritos recém-chegados não resistem ao abalo mental que lhes causou a mudança que se produziu. Segue-se que, por efeito da ignorância em que se acham, do medo que os assalta, passam o tempo a freqüentar, ou, antes, a assombrar, o meio onde viveram e ao qual se vêem psiquicamente presos. Conseguintemente, eles se encontram na câmara mais baixa do plano astral, fora do mundo e no mundo, por causa da adesão tenaz que mantêm a opiniões e paixões terrenas. Esses infelizes são os que aí se chamam “Espíritos assombradores”, de que tanto se falava nas nossas experiências mediúnicas. Afirmam-me que alguns dentre eles se mostram de tal modo inabaláveis na sua obstinação em não quererem despojar-se das convicções e da maneira de pensar trazidas da Terra, que se tornam mentalmente cegos, a ponto de não poderem conceber e, ainda menos, realizar a possibilidade de um avanço no mundo espiritual onde nos achamos. São antiprogressivos e inadaptáveis, devido ao seu emperramento... O que há de pior é que essas almas podem permanecer ligadas ao mundo durante anos e mesmo durante séculos.”
 “Algumas vezes, quando me acho contigo, ou com Muzzie, assaltam-me dúvidas, quanto aos resultados que obterei. Ouço então de H. P. Blavatski, que vem em meu auxílio, aconselhando-me: “É preciso de uma vontade firme! Nada de divagações.” Sua voz ressoa muito perto de meu ouvido; entretanto, meus olhos não a vêem e meus sentidos não lhe percebem a presença. Onde está ela, então, quando assim me fala? Como se acha em condições de saber o que penso e o que faço, uma vez que, sem estar presente, responde aos meus pensamentos? É esse um outro mistério que me falta desvendar.”

Percebe-se que Valentino, apesar de famoso, rico e bem-sucedido em sua profissão – além de ser médium e ter tido explicações acerca da vida espiritual –, teve contra si uma coisa que a maioria de nós tem: o apego às coisas materiais, o que o deixou em estado de crise logo após o desencarne. Tal apego nos torna, ainda em vida, escravos da matéria e dos sentimentos que os outros nutrem para com nós. A vida foi feita para que aprendamos a ter sem possuir, amar sem precisar ser amado e a libertarmos de nossos instintos animalizados.

Fonte: Bozzano, Ernesto A Crise da Morte, 1924 Ed. FEB, tradução de Guillon Ribeiro

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