segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A LENDA DE PURNA

Um negociante chamado Purna, que tinha enriquecido no comércio, em uma das suas viagens por mar ouvira homens lendo em voz alta hinos e orações, as próprias palavras de Buda. Essas palavras, novas para ele, impressionaram-no. Dirige-se para junto de Çakyamuni, que se apressa em ensinar-lhe que a lei inteira consiste na renúncia. Purna, convertido, deixa as suas riquezas, rompe com o mundo e pede para ser mandado como missionário às terras dos çrônâpârantakas, horda selvagem e feroz.

Buda esforça-se por desviá-lo desse projeto:

– Os homens do Çrônâpârantaka – diz-lhe ele – são arrebatados, cruéis, coléricos, furiosos, insolentes. quando te dirigirem em face palavras más, grosseiras e insolentes, quando se encolerizarem contra ti e quando te injuriarem, que pensarás tu?

– Se esses homens, senhor, dirigem-me em face palavras más, grosseiras e insolentes; se se encolerizarem contra mim, se me injuriarem, eis o que pensarei: são certamente homens bons os çrônâpârantakas, são homens brandos porque não me espancam com a mão nem com pedras.

– Mas se eles te espancarem com a mão ou com pedras, que pensarás tu?

– Pensarei que são bons e brandos, porque não me ferem com pau nem com espada.

– Mas se te ferirem com pau ou com espada, que pensarás tu?

– Pensarei que são bons e brandos porque não me privam completamente da vida.

– Mas se te privarem completamente da vida, que pensarás tu?

– Pensarei que há discípulos teus que, por causa desse corpo impuro, são atormentados, cobertos de confusão, desprezados, feridos à espada, que tomam veneno, que morrem do suplício da corda, que são lançados aos precipícios. São, pois, certamente homens bons os çrônâpârantakas, são homens brandos, porque me libertam com tão poucas dores deste corpo impuro.

– Está bem, está bem, Purna – disse-lhe Buda – podes, com a perfeição de paciência que possuís, fixar tua residência no país dos çrônâpârantakas. Vai, Purna, libertado, liberta; tu que chegaste à outra margem, ajuda os outros a lá chegarem; consolado, consola; tu que chegaste ao Nirvana completo, faz que os outros cheguem lá como tu.

Purna dirige-se, com efeito, ao terrível país, e por sua resignação imperturbável ele abranda seus ferozes habitantes, aos quais ensina os preceitos de seu mestre.

Burnouf – Introduction à l’histoire du bouddhisme indien,
apud Gibier, Paul in O Espiritismo ou o Faquirismo Ocidental, Ed. FEB

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