PERGUNTA: — Que dizeis de
certos autores, alguns sinceros e outros apenas talentosos, quando asseguram
que Jesus foi apenas um "mito" e jamais existiu fisicamente no seio
da humanidade terrena?
RAMATíS: — E' indiscutível que Jesus não só comprovou
as predições do Velho Testamento, como ainda correspondeu completamente às
esperanças do Alto na sua missão espiritual junto aos terrícolas. Os profetas
tentaram comunicar aos judeus as premissas principais da identificação do
Messias, assim como o tempo de sua vinda ao orbe, pois asseguraram que Israel
seria o povo eleito para tal evento tão importante. Conforme as predições de
Isaías (Cap.II, vers. 6 a
8), depois do advento do Salvador, todas as coisas se ajustariam, pois até o
"cordeiro se deitaria com o lobo, o leão comeria a palha junto ao boi e um
pequeno menino conduziria as feras". E as profecias ainda advertiam a raça
de Israel, eleita para o advento do Messias, quanto à sua queixa, mais tarde,
ao exclamar que "o povo para o qual viera, não o conhecera".
Corroborando tal predição, os judeus de hoje ainda adoram Moisés, profeta
irascível, vingativo e até cruel; e olvidam Jesus, pleno de amor, bondade e
renúncia, porque, realmente, "ainda não reconheceram o seu verdadeiro
Messias"!
Efetivamente, causa
estranheza o fato de certos autores ainda considerarem Jesus um mito ou
embuste religioso, e lhe negarem a vida física e coerente na Terra. Em verdade,
Jesus é justamente o ser cada vez mais vivo entre os homens; pois a sua
doutrina, crescendo em todos os sentidos, já influencia até os povos afeiçoados
aos credos de outros instrutores. Se o fulgor da Roma de Augusto ofuscou os
historiadores da época, fazendo-os ignorar a figura de Jesus, isso não o
elimina da face da Terra, nem o desfiguram as lendas semelhantes já atribuídas
a Adonis, Crisna, Buda, Orfeu, Átis, Osíris, Dionísio ou Mitras. Apesar das
inequívocas referências históricas sobre Aníbal, Júlio César, Carlos Magno ou
Napoleão; ou mesmo sobre filósofos excepcionais, como Sócrates, Platão,
Epicuro, Aristóteles, Spinoza ou Marco Aurélio, eis que Jesus, o
"mito", sobrepuja, em celebridade, a todos esses homens famosos!
Por que Jesus, o
"mito", supera a realidade e vive cada vez mais positivo e
imprescindível no coração da humanidade terrena, enquanto famosos personagens
"históricos" arrefecem no seu prestígio através dos tempos? Em
verdade, os homens já experimentaram todas as filosofias, reformas religiosas e
todos os códigos morais e sociais, e, no entanto, não lograram uma solução
definitiva para os seus problemas angustiosos. A humanidade terrena do século
XX, cada vez mais neurótica e desesperada, pressente a sua derrocada
inevitável, ante o requinte e a fúria dos mesmos conflitos odiosos e guerras
fratricidas do passado! Os homens da caverna não evoluíram nem se humanizaram;
apenas trocaram o tacape pelo revólver de madrepérola, ou o porrete pela
metralhadora eletrônica! Matava-se a pedras e paus, um de cada vez; hoje,
mata-se urna civilização derretendo a sob o impacto da bomba atômica!
Paradoxalmente, não é a cultura e a experiência real transmitidas pela História
o fundamento convincente para solucionar os problemas humanos tão aflitivos na
atualidade. As criaturas estão tomadas
pela desconfiança; duvidam da ciência que lhes dá o conforto material, mas não
lhes ameniza a angústia do coração; descrêem de todas as inovações sociais e
educativas, que planejam um futuro brilhante mas não proporcionam a paz de
espírito! No entanto, Jesus, o "mito" esquecido pela história profana,
ainda é o único medicamento salvador do homem moral e psiquicamente enfermo do
século atual! Só o seu Amor e o seu Evangelho poderão amainar as paixões
humanas e harmonizar os seres numa convivência pacífica e jubilosa! Se Jesus
fosse fruto da fantasia religiosa, então teríamos de concordar com a inversão
de todos os valores do conhecimento humano, a ponto de não distinguirmos o fantasioso
do real! Que força poderosa alimentou a vivência desse Mestre Cristão
"imaginário", fazendo-nos reconhecer-lhe um porte moral e espiritual
do mais alto quilate humano? Qualquer homem pode negar a existência de Jesus;
porém, jamais há de oferecer ao mundo conturbado e corrupto uma solução mais
certa e mais eficaz do que o seu Evangelho!
PERGUNTA: — A fim de Jesus de Nazaré, elevado instrutor espiritual, conseguir
baixar à Terra e encarnar entre nós, houve necessidade de providências
excepcionais, ou tal acontecimento obedeceu
somente às mesmas leis comuns que regulam a encarnação dos espíritos em
geral?
RAMATíS: — O
nascimento de "Avatares" ou de altas entidades siderais no vosso orbe, como Jesus, exige a mobilização
de providências incomuns por parte da técnica transcendental,
cujas medidas ainda são ignoradas e incompreendidas pelos terrícolas. É
um acontecimento previsto com muita
antecedência pela Administração Sideral 1, pois do seu evento resulta
uma radical transformação no seio espiritual
da humanidade. Até a hora de espírito tão elevado vir à luz no mundo terreno,
devem ser-lhe assegurados todos os
recursos de defesa e assistência necessários para o êxito de sua
"descida vibratória".
Aliás, para cumprir a missão excepcional no
prazo marcado pelo
Comando Superior, o plano de sua encarnação também prevê o clima espiritual de
favorecimento e divulgação de sua mensagem na esfera física. Deste modo, encarnam-se
com a devida antecedência, espíritos amigos, fiéis cooperadores, que empreendem
a propagação das idéias novas ou redentoras, recebidas do seu magnífico
Instrutor, em favor da humanidade sofredora.
Jesus foi um
"Avatar", ou seja, uma entidade da mais alta estirpe sideral já
liberada da roda exaustiva das reencarnações educativas ou expiatórias. Em
conseqüência, a sua encarnação não obedeceu às mesmas leis próprias das
encarnações comuns dos Espíritos primários e atraídos à carne devido aos
recalques da predominância do instinto animal. Os espíritos demasiadamente
apegados à matéria não encontram dificuldades para a sua reencarnação, pois em
si mesmos já existe a força impetuosa do "desejo" impelindo-os para
a carne.
No entanto, Jesus, o
Sublime Peregrino, ao baixar à Terra em missão sacrificial e sem culpas a
redimir, para facilitar o seu ligamento com a matéria, viu-se obrigado a mobilizar
sua vontade num esforço de reviver ou despertar na sua consciência o desejo de
retorno à vida física, já extinto em si há milênios e milênios. A fim de vencer
a distância vibratória existente entre o seu fulgente reino angélico e o mundo
terreno sombrio, ele empreendeu um esforço indescritível de
"auto-redução", tão potencial quanto ao que um raio de Sol teria de
exercer em si mesmo para conseguir habitar um vaso de barro. Os espíritos
inferiores são arrastados naturalmente pelos recalques dos "desejos"
que os impele para a vida carnal, e assim ligam-se à matriz uterina da mulher,
obedecendo apenas a um imperativo ou instinto próprio da sua condição ainda
animalizada. Em tal circunstância, os técnicos siderais limitam-se a vigiar o
fenômeno genético da Natureza. Trata-se de encarnações que obedecem aos moldes
primitivos das vidas inferiores, cujos espíritos compõem as "massas"
inexpressivas da humanidade terrena. Mesmo depois de desencarnados, mal dão
conta de sua situação, porque ainda vivem os desejos, as emoções e os impulsos
da vida psíquica rudimentar. Sem dúvida, o Senhor não os esquece no seu
programa evolutivo, orientando-os, também, para a aquisição de consciência
espiritual mais desenvolvida.
No caso de Jesus,
tratava-se de uma entidade emancipada no seio do sistema solar, uma
consciência de alta espiritualidade, que não podia reajustar-se facilmente à
genética humana. Tendo se desvencilhado há muito tempo dos liames tecidos pelas
energias dos planos intermediários entre si e a crosta terráquea, ele
precisaria de longo prazo para, na sua descida, atravessar as faixas ou zonas
decrescentes dos planos de que já se havia libertado. E então, para alcançar a
matéria na sua expressão mais rude, teve de submeter-se a um processo de
abaixamento vibratório perispiritual, de modo a ajustar-se ao metabolismo
biológico de um corpo carnal. Jesus não poderia ligar-se, de súbito, à
substância grosseira da carne, antes que a Ciência Divina lhe proporcionasse o
ensejo favorável e as providências indispensáveis para uma graduação de ajuste
à freqüência comum da Terra.
PERGUNTA:
— Poderíeis citar-nos mais alguns exemplos quanto à necessidade de Jesus reduzir propriamente o seu perispírito para alcançar a carne?
RAMATÍS:
— (...) Atendendo a vossa pergunta, recomendamos sobre
o assunto a leitura de todo o Capítulo XIII, inserido na
obra mediúnica "Missionários da Luz", no qual se estuda o
mecanismo da reencarnação de uma entidade com algumas
prerrogativas a seu favor. Citando pequenos tópicos desse
livro, (...) onde os técnicos se dirigem ao espírito de Segismundo, a entidade
reencarnante, e assim lhe dizem: "Dê trabalho à sua imaginação criadora.
Mentalize os primórdios da condição fetal, formando em sua mente o
modelo adequado." Além, lereis: "Agora continuou o instrutor —
sintonize conosco relativamente à forma pré-infantil. Mentalize sua volta ao
refúgio maternal da carne terrestre! Lembre-se da organização fetal, faça-se pequenino!
Imagine sua necessidade de tornar a ser criança para aprender a ser
homem!"
Ainda na mesma página, o autor elucida: "A
operação não
foi curta, nem simples. Identificava o esforço geral para que se efetuasse a redução necessária." É evidente que ainda não estamos em condições de compreender o
processo sideral da descida de
Jesus, cujo tempo do calendário humano despendeu quase um milênio no esforço de
auto-redução antes de atingir a Terra.
Se uma encarnação tão simples, como
relatam espíritos credenciados no Espaço, pelas obras que citamos, exige tais recursos e mobilizam assistência superior, imaginai a atividade angélica
durante um milênio preparando e
consolidando o advento do Messias à
Terra! E a mesma obra ainda confirma essa assistência superior quando assim diz: "Em todo o lugar desenvolve-se o auxílio da esfera
superior, desde que se encontre em
jogo o trabalho da Vontade de Deus. Entretanto, devemos considerar que,
em tais circunstâncias, as atividades de
auxílio são verdadeiramente sacrificiais. As vibrações contraditórias e
subversivas das paixões desvairadas da alma
em desequilíbrio comprometem os nossos melhores esforços..."
Ramatís, por
Hercílio Maes
In Sublime
Peregrino, Ed. Freitas Bastos 1964
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