segunda-feira, 29 de agosto de 2011

NASCIMENTO: OPORTUNIDADE PARA CRESCER

"Não nascemos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus"- (João 1:13).

O nascimento é a introdução do sopro, a animação da matéria, a sua fecundação pela energia cósmica. Esta, com a sua sabedoria, torna possível o entendimento, mediante a consciencialização da matéria.

Ao nascer na Terra, o ser vai paulatinamente adquirindo consciência, dando-a assim à vida, antes inconsciente. O sopro vital, responsável pela intersecção da luz com a vida ou elemento terreno, unifica aqueles dois componentes primordiais do ser, tudo ligando em unidade. E o amor, terceira ponta do triângulo construtor das formas, e que surgiu quando a luz e a vida se ligaram entre si.

"Quando tu, ó Sol, te pões no ocidente dos céus, o mundo está em trevas, como os mortos. Brilhante fica a terra quando te elevas no horizonte; quando brilhas como Aton durante o dia, as trevas são dissipadas.  Quando projetas os teus raios, os dois mundos se põem em festa. Vês teus povos acordados de pé, porque tu os levantaste!" (Salmo de Akhenaton).
 
Em cada dia, o sol surge no horizonte, fecundando com a sua esplendorosa energia a massa adormecida da terra, as plantas, os animais, os homens e todas as formas existentes podem então se manter vivas. Um nascimento ocorreu, o do dia que se inicia. Este mesmo processo serepete em todos os domínios da existência, porque a lei cósmica é uma só, e o elemento positivo deverá animar sempre o negativo, para que uma nova manifestação surja no mundo da forma, onde o amor se revela.
 
O homem, unindo-se com a mulher, pela força atrativa do amor, construirá um novo corpo humano, resultado e sinal desse mesmo amor, possibilitando a emanação de uma personalidade-alma, que virá adquirir um maior nível de consciência e delinear a sua participação amorosa no mundo, já que tudo aquilo que neste plano se revela é obra do Amor, terceira ponta do Sagrado Triângulo, emque as outras são a Luz e a Vida.
 
O nascimento é o Big-Bang da criação, é a explosão inicial da matéria prenhe de energia, sendo o sopro vital o sinal visível dessa animação, que perpassa todos os seres, ligando-os no mar cósmico da respiração universal, onde todos os pensamentos, sentimentos e atos da humanidade se registram, no banco de dados do inconsciente coletivo.

O mundo vai assim sendo definido, através desta mente coletiva, que a toda a hora se renova, se cria, nasce. O nascimento é constante, e a todo o momento, o mundo em que vivemos pode mudar com novas ações criativas. E preciso, pois, percebermos a importância das nossas individuais contribuições. Quando nos foi dado um corpo e a expiração da Alma Universal deu origem à primeira inspiração, iniciamos a viagem das iniciações permitidas pelas experiências neste plano de existência, de forma a podermos renovar a face da Terra.
 
A obra foi-nos facultada, através do exercício do livre-arbítrio, e se é com dor que o nascimento do corpo se opera, é também pela dor que a obra terá de ser realizada, embora a compensação e a alegria sejam o resultado, tal como o é a manifestação de vida que qualquer corpo contém, premiando e justificando a dor do seu nascimento.

"As vicissitudes pelas quais passamos são o remédio para restabelecer a harmonia e ligação entre Deus e o Homem. Esse remédio é composto por dois ingredientes em conformidade com a nossa doença, que é um agravamento do bem e do mal que trazemos. Esse remédio é amargo, mas é o seu amargor que nos cura, porque essa parte amarga, que é a justiça, une-se ao que há de corrompido no nosso ser, para lhe proporcionar a retificação; ao passo que aquilo que há de regular em nós une-se por sua vez ao  que há de doce no remédio e a nossa saúde é restaurada. É preciso ainda usarmos esse remédio amargo que os ministros espirituais da sabedoria nos fazem ingerir, para provocar uma sensação dolorosa que se poderia chamar de febre de penitência, mas que acaba na doce sensação da vida e da regeneração"
(Louis-Claude de Saint-Martin).
 
O sofrimento é apanágio deste plano de vida, porque ele proporciona consciência e é sinal da 
interiorização das experiências, muito embora o sejam também a alegria e todas as emoções.
 

São estas que conferem verdadeira natureza ao ser que as vive, embora se torne necessária a concorrência do pensamento e da dinâmica fisiológica, para que elas surjam. O sofrimento é sinal de resistência à mudança implícita no processo de consciencialização. Se a nossa personalidade reage ao salto evolutivo que se impõe que seja feito diariamente, teremos a dor por resposta, que nos mostra assim o que importa ser aprendido para que a evolução prossiga. 

A recusa à obediência à ordem cósmica tem este efeito corretor, que obriga à consciencialização daquilo que importa entender. A entrada neste plano existencial é feita através da dor, porque a expansão que o nascimento implica, encontra sempre a resistência da forma, que tende para a cristalização e a inércia.
 
Os dois momentos cruciais da existência do homem, o nascimento e a morte, correspondem às suas duas principais iniciações, possibilitando ambas a evolução, que se processa em sucessivos nascimentos e mortes. Situado na dimensão espaço-temporal, o movimento oscila entre um início e um fim, assistindo-se assim a sucessivos nascimentos e mortes no desenrolar do nosso quotidiano.E esta a lógica da natividade, o início perene e prometedor em tudo o que existe, porque os dois pólos antagônicos, do nascimento e morte, são uma ilusão dos sentidos e da mente, já que a morte é um início de uma realidade diferente e o nascimento é a morte de algo que se transformou em vida.

Neste ciclo infinito de morte e vida, insere-se a ideia de reencarnação, ou seja, a vida renascendo após a morte, e sendo esta o despertar para novo plano de existência. De cada vez que nascemos, após uma outra morte, temos nova oportunidade de crescimento, na eterna espiral evolutiva. E renasceremos sucessivamente, até que consigamos fazer nascer em nós o Cristo que nos habita. 

"Havia entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. De noite, Nicodemos foi ter com Jesus e disse-lhe: "Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus, porque ninguém pode fazer esses sinais que Tu fazes, se Deus não for com Ele". E Jesus, respondeu e disse-lhe: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus". E disse-lhe Nicodemos: "Como pode um homem nascer de novo, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe?" - "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do espírito não pode entrar no Reino de Deus. O que é nascido da carne, é carne, o que é nascido do espírito, é espírito" (João 3:1 e 4).
 
Este homem novo terá de ser concebido e gerado no seio de nós próprios, amorosa e pacientemente, através de esforços diários de autoaperfeiçoamento. Alimentaremos o novo ser em formação, espiritualizando as nossas tarefas terrenas, aliviando o sofrimento alheio, contribuindo para a evolução da mentalidade dos seres humanos e aceitando o plano da vida que teremos de traçar. Serão, pois, as experiências quotidianas o laboratório de que a vida se serve para o fim em vista, tendo em mente que todas elas são verdadeiras iniciações a um grau mais elevado de consciência. Paulatinamente, irá ocorrendo a transformação do ser e o novo nascimento ocorrerá quando morrer definitivamente o homem velho, com a sua personalidade terrena, dando lugar ao Deus menino que estava adormecido em nós.
 
"Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez de novo"
(Corintios 5:17).
 
Só então, e porque a luz surgiu, não serão precisos novos nascimentos e mortes, já que a dimensão espaçotemporal foi transcendida. 

"E vos darei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo e tirarei o coração de pedra da vossa carne, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos e os observeis" (Ezequiel 36:26-27).

Revista Rosacruz 289, outono 2009

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