quinta-feira, 14 de julho de 2011

ANÁLISE ESPIRITUALISTA DO FILME “O PÁSSARO AZUL” - PARTE 2

Continuando a análise:

- o caminho do passado: começa a busca pelo pássaro azul. A Luz os leva até a porta do cemitério, simbolicamente fazendo-se como entrada para o passado, ou a Terra da Lembrança. A mentora faz uma advertência, para que não passem muito tempo pois poderiam ficar presos ao passado. Uma metáfora para a vida e para os apegos materiais. Todos nós que não sabemos como nos portar com a perda, seja de um ente querido ou um objeto caro aos nossos sentimentos, ficamos geralmente presos ao passado.
Dentro, todos ficam apavorados com o cenário fúnebre. Tylo diz que tem medo de fantasmas por já ter visto um – o que é verdade, pois os espíritos podem se mostrar aos animais, conforme o “Livro dos Médiuns” capítulo A Mediunidade dos Animais e Ernesto Bozzano em “A Alma dos Animais”.
Logo as crianças reencontram seus avôs, residindo numa casa confortável e alegre do Plano Espiritual. Mais uma vez, valemo-nos do livro “Nosso Lar” e suas casas para os residentes da colônia para fazer a comparação.
A alegria das crianças é comovedora ao verem os parentes. A avó, respondendo a uma pergunta da netinha, se estavam mortos, disse-lhe: “só morremos quando somos esquecidos na Terra.”, ou seja, quando deixamos de orar e nos lembrarmos com carinho dos que se foram, momentaneamente, desta vida. A prece é uma dádiva aos que transpuseram o véu, é com ela que eles conseguem suportar os primeiros instantes da erraticidade. Mais a frente veremos uma particularidade sobre esta frase quando chegarmos ao futuro.
 Apesar da alegria, Tyllete apronta. Mytyl diz a avó que não pode passar mais de uma hora, a senhora mostra o relógio que volta a funcionar, despreocupando a jovem. Porém, a gata atrasa-o quase um quarto de hora, o que quase faz com que percam o horário.
Mytyl pergunta para a avó se ela possui o pássaro azul e a venerável senhora responde que tem vários pássaros e acha que possui um. Ela leva a menina para perto de um viveiro e aponta um canoro empoleirado no alto. Mytyl fica alegre, mas logo se entristece. “Não é azul, vovó, é negro.” diz ela, e a vó retruca “Mas para mim sempre foi azul.” Vemos aqui como são as coisas, o pássaro era realmente azul para a avó, pois ela tinha achado a alegria e felicidade na casa e na família, mas não para Mytyl, que ainda procurava. A felicidade é uma coisa individual e intransferível.

- o caminho da fartura: o segundo local onde a trupe tenta achar o famoso pássaro é a Terra da Fartura. Instigados, novamente, por Tyllete, decidem lá entrar, um local onde a mentora Luz informa que o pássaro não estaria, mas como não pode coibir, apenas avisou que não demorassem para não ficarem para sempre (de novo), deixa-os entrar, até mesmo para poderem ver com os próprios olhos e por que é ali onde Mytyl terá algumas de suas lições mais importantes para sua evolução espiritual.
A terra da fartura seria o presente, uma terra onde os ricos possuem tudo. Um dos desejos de Mytyl era ser rica para ter tudo o que quisesse e ali vê que não é bem assim. Na entrada da mansão dos Srs. Fartura, luxuosamente decorada, ela se depara com o preconceito. A Sra. Fartura não deixa Tylo ficar com os companheiros, exigindo que ficasse com a criadagem, porém, nem a criadagem o aceitou, sobrando, então, o canil, para onde o anjo da guarda foi cabisbaixo e resignado.
Mesmo com a fartura de brinquedos e comida, os jovens não eram felizes. Após uma desavença por causa de um pônei, os irmãos brigaram feio e foram um para cada lado. A única que estava adorando era Tyllete, por razões óbvias. Nesta noite, Mytyl, sentindo falta de calor humano, procura o Sr. Fartura e pede-lhe que lhe conte uma história, que ele nega, depois, pede-lhe um beijo de boa noite, porém, ao subir em seu colo, pisa-lhe no joelho, fazendo-o ter um acesso de fúria. Assustada, a menina corre e vai atrás de Tylo. Ele diz que devem sair dali, pois a fartura faz mal ao espírito, deixando as pessoas más e ranzinzas. Os dois pegam Tyltyl e fogem da mansão, seguidos pela encrenqueira da Tyllete.
Emblemática é a cena final do Sr. e Sra. Fartura. Ela reclamando das crianças e ele dizendo: “Elas estão muito novas para se acostumarem aqui e nós já estamos velhos, incapazes de deixar esta moradia.”. Realmente, é muito difícil para alguém acostumado a ter tudo, se ver sem nada. Geralmente isso leva ao suicídio ou a loucura mental. Vide os livros de Manoel Philomeno de Miranda pela psicografia de Divaldo Franco.

- encontro com elementais: Após saírem da terra da fartura, a trupe se encontra com Luz que os deixa dormindo em um descampado. Tyllete aproveita e, com mais um plano para atrapalhar os viajores, se embrenha na floresta atrás dos espíritos elementais. Esse ponto é um dos que mais confundem na narrativa. Aqui vai uma pequena descrição do que eles são, conforme Divaldo Franco: são os espíritos que contribuem em favor do desenvolvimento dos recursos da Natureza. Em todas as épocas eles foram conhecidos, identificando-se através de nomenclatura variada, fazendo parte mitológica dos povos e tornando-se alguns deles ‘deuses’ , que se faziam temer ou amar. Na questão no. 538 de O Livro dos Espíritos, Allan Kardec  interroga: “Formam categoria especial no mundo espírita os Espíritos que presidem os fenômenos da Natureza? Serão seres à parte ou Espíritos que foram encarnados como nós?” E os Benfeitores da Humanidade responderam: “Que foram ou que serão”. O habitat natural desses Espíritos é a erraticidade, o mundo dos Espíritos, pertencendo a uma classe própria e, portanto, vivendo em regiões compatíveis ao seu grau de evolução. “Misturam-se” aos homens e vivem, na grande maioria, na própria Natureza, que lhes serve de espaço especial.
Esses seres (Papai Árvore, Dona Salgueiro, Macieira, etc.) foram chamados por Tyllete e por ela manipulados a fim de exterminar de uma vez por todas as crianças. Era sua cartada final.
Com a ventania e relâmpagos caindo por toda parte, os viajores, liderados pela gata se embrenharam na floresta que não tardou a pegar fogo. Tentando levá-los a uma armadilha, Tyllete fica presa e morre. Tylo, o anjo da guarda, percebendo o perigo, leva as crianças para outra parte, mais segura.

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