quinta-feira, 28 de julho de 2011

BASES DA AUM-BHANDÃ

A origem da Aumbanda (Aum-Bhandã) remonta do projeto do descobrimento das Américas, mais especificamente da parte continental conhecida hoje como Brasil, conforme descrito por Humberto de Campos [1]. Esse autor espiritual contou com detalhes os motivos do fracasso da escravização indígena e o porquê do tráfico negreiro e de suas consequências para tais almas, muitas delas com débitos imensos devido a Idade Média e as Cruzadas Santas.
Essas portentosas migrações (europeia e africana) se uniram sanguineamente aos nativos ameríndios, culminando na atual miscigenação do povo brasileiro. A esses se juntaram mais tarde asiáticos do médio e extremo oriente (turcos, libaneses, japoneses e chineses, principalmente), trazendo suas próprias qualidades e idiossincrasias.
Do meio pro final do século XIX, no Brasil, as religiões anciãs sofriam pesados encarceramentos por parte da Igreja Católica dominante. Os cultos religiosos negros estavam por demasiados presos ao sincretismo, à prática da magia negra e ao materialismo exacerbado, e, por sua vez, os índios praticamente amuralhados nas matas. Com isso, os espíritos benevolentes e em fase de depuração espiritual e moral não conseguiam campo propício para concretizar sua evolução. A solução surgiu, em França, com Allan Kardec e a Codificação Espírita. Esse foi um dos mais importantes marcos religioso e científico da época, pois redefiniu a “paranormalidade” e o Evangelho cristão, trazendo ambos para o campo das ciências naturais.
O Espiritismo, com a função de Consolador designado por Deus para fazer renascer o Cristianismo no seio da Terra, encontrou fecundo campo de atuação nas terras austrais latinas, pois aqui a população foi preparada espiritualmente para absorver tais ideias de forma paulatina, com as atuações dignificantes e abnegadas de Bezerra de Menezes e outros fundadores de casas e centros espíritas no Brasil.
Assim, em novembro de 1908, quando a família de Zélio Fernandino de Moraes, preocupada com a “loucura” do jovem e sem esperanças de cura pela medicina tradicional, percebeu o que o rapaz tinha não era físico, mas espiritual, levou-o a um centro espírita em Niterói. Ali, pela primeira vez apareceu a entidade fundadora da Aumbanda. Ao incorporar, os componentes da mesa espírita acharam que a entidade não era benévola, pelo modo como se comunicava, porém, um dos médiuns presentes era vidente e como a via envolta um facho de luz, decidiu perguntar o que ela queria. A resposta foi que ela veio fundar uma nova religião, a dos espíritos para a caridade, unindo o miscigenado povo brasileiro e seus antepassados. Não satisfeito, o médium perguntou-lhe o nome, que lhe foi respondido Caboclo das Sete Encruzilhadas, pois para ele não haveria caminhos fechados. E, continuando, disse que no dia seguinte apareceria na casa de Zélio para divulgar e assentar as bases da nova religião.
E, com efeito, no dia seguinte assim o fez. Proclamou os cinco pilares e outras recomendações que devem ser seguidas pelos filhos de fé aumbandista. São elas:
  1. Não matar, ou seja, não pode haver nenhum tipo de sacrifício de sangue. Isso porque não se deve louvar a Deus matando um filho d’Ele, filho esse que está em processo evolutivo anímico;
  2. Não cobrar, ou seja, não solicitar compensação pecuniária em hipótese alguma. O vil metal, além de ser uma das causas de perdição, cria naquele que possui a volúpia do desejo material;
  3. Vestir branco, aqui há um valor espiritual e outro simbólico. Simbólico porque a Aumbanda utiliza símbolos para mostrar aos pobres e ignorantes de espírito os valores do Alto Espiritual, então, usar branco significa vestir-se de caridade, pureza e humildade, mostrando que todos são iguais, pois, como disseram os Espíritos na codificação, todos nós nascemos simples e ignorantes. É uma volta a esse estágio inicial. A parte espiritual mostra a humildade e abnegação dos médiuns em ceder seu próprio corpo para que as entidades incorporadoras possam atuar no plano carnal.
  4. Evangelizar. Esse é o sentido primário da Aumbanda. Mostrar o caminho da Verdade, o meio para a evolução moral e espiritual que é o Evangelho de Senhor Jesus. E o que é evangelizar? Não é apenas dizer aos consulentes para ler e estudar, mas vivenciar a Boa Nova em toda a sua plenitude moral, começando pelos próprios médiuns que possuem muitos débitos a pagar e vieram aprender com seus guias no plano carnal. Cada médium tem de ser ele próprio um cartaz da Boa Nova, vivenciando-a a todo o momento. Sendo humilde, manso, caridoso não apenas durante os cultos, mas durante a vida toda. A evangelização foi posta pelo Caboclo não apenas para o público em geral, mas, mais especificamente, para aqueles que forem chamados e aceitaram, antes de nascer, a servirem aos guias, pois sem exemplos e trabalho árduo, a fé esmorece.
  5. E, por último, mas não menos importante, utilizar as energias vitais do planeta. Aqui entraram as raízes ameríndias e africanas. Os índios com seus conhecimentos de medicina herbácea e os africanos com seus procedimentos magísticos de comunhão com os raios dos engenheiros cósmicos protetores do planeta. Talvez neste pilar esteja o maior campo para mistificação na Aumbanda e o que a separa do Espiritismo da linha kardecista, pois todos os anteriores, à exceção do vestir branco, são utilizados também pelos espiritistas. A mistificação pode ocorrer no sentido de se introduzir elementos estranhos à Aumbanda no trato das ervas e dos símbolos de ocultismo inócuos.


[1] Xavier, Francisco Cândido – Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho, pelo espírito Humberto de Campos, Ed. FEB


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