quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

HOMENAGEM A OXOSSI

Oxossi, do iorubá Òsóòsì, é o Orixá da caça, do verde, das matas, da fartura, o grande caçador é ele quem traz para o homem as plantas curativas. De natureza telúrica vibra sobre tudo que nasce sobre a terra, exceto as plantas tóxicas e venenosas.
A figura de Oxossi tem origem na mitologia africana, para a qual seria um antepassado africano divinizado, filho de Iemanjá, irmão de Omulu-Obaluayê e rei da cidade de Oyó, localizada na África sudanesa - de onde provêm os povos nagô (keto, ijexá e oyó) e mina-jeje. Também é considerado o caçador por excelência; o arqueiro de uma flecha só - sempre certeira. Em geral, considera-se que o dia de Oxossi é quinta-feira e seu símbolo seria o arco e a flecha em ferro fundidos. As oferendas a Oxossi na Umbanda - consideradas pela grande maioria de seus seguidores como ritos que potencializam a energia dos Orixás - são de elementos correlatos à do chacra do plexo solar, bem como ao comprimento de onda de cor amarela. Assim, suas oferendas haveriam de se aproximar de tal padrão energético, seja pela cor do elemento, seja por sua composição. Alguns exemplos de oferendas comuns em vários centros e tendas umbandistas: milho cozido; côco em lascas; girassol; rosas brancas; velas brancas e amarelas; cerveja; licor de caju; flores do campo; entre outros.

O povo da Bahia ligou Oxossi a São Jorge, festejado em 23 de abril. No Rio de Janeiro, em São Paulo e no sul do País ele foi sincretizado com São Sebastião e seu dia é 20 de janeiro. Seu dia é a quinta feira, sua cor é o verde misturado ao branco. Podemos estabelecer uma associação entre Oxossi e Mercúrio, o Deus romano do comércio, bem como seu correspondente grego Hermes. Todos eles representam mudanças, o movimento, tudo o que é novo e vibrante. Ligado as alterações mentais e físicas, Oxossi é o constante movimento da natureza, que está sempre em evolução.
A liberdade e a independência são importantes para seus filhos que prezam muito sua autonomia e são infelizes quando tolhidos. Um aspecto negativo de sua personalidade é a sua indiscrição em relação as outros e a vida alheia.
Pela sua conotação mercuriana Oxossi pode ser associado ao Arcano II do Tarô, os Enamorados. “A primeira relação que pode ser estabelecida refere-se a uma prova vencida, àquele que foi testado e conseguiu provar seu valor, encontrando dentro de si a força para enfrentar a dúvida: ”sou ou não capaz?”.
Inconstante muda muito de interesse e tem tendência a se deixar seduzir pela novidade. O conflito que o Arcano indica acima refere-se muito mais as decisões emocionais do que materiais. Seus filhos envolvem-se com suas emoções e transformam-se através delas. Tem o dom da comunicação, suas mudanças são discutidas, analisadas a nível consciente e realizam a cura de seu ego ambíguo.

O Físico e o Temperamento
Seus filhos são alegres e joviais, muito falantes, nervosos e inseguros ,embora não transmitam essas emoções, pelo contrário sua companhia é agradável e estimulante. A simpatia que ele irradia faz com que sempre esteja rodeado por um grupo ativo e dinâmico. Místicos e intuitivos, são dotados de notável rapidez mental, gostam de ouvir conselhos e orientações, mas esquecem tudo na hora de agir, torna-se então precipitado e sem lógica por vezes indeciso, acompanhá-lo não é fácil.
Tem muitos amigos, mas não gosta de intimidade excessiva, é amável e acolhedor, mas reserva-se bastante. Deixa-se levar por elogios, o que lhe traz alguns dissabores, fala e escreve muito bem, exímio coordenador de atividades, distribui bem as tarefas de cada um, só que para ele nunca sobra nada para fazer embora pareça ser o mais ativo de todos. É inventivo e original em seus planos, é astuto e sagaz, mas também é impaciente com os lentos, com os calmos e reflexivos, deixando para trás aqueles que não acompanham seu ritmo ativo. Movimento e mudanças  são uma constante para ele, suas idéias mudam quando menos se espera,nada está estabelecido, tudo é passível de sofrer alterações. Aprecia discussões pelo prazer de vencer intelectualmente idéias opostas as suas, é afetuoso generoso e sensível, mas atitudes apaixonadas e ardentes não fazem parte deste arquétipo, ele se interessa mais pelos aspectos intelectuais em suas relações. A monotonia entedia o filho de Oxossi, que precisa sempre ser estimulado, esses estímulos são trazidos pelas inovações e mudanças, assim ele consegue manter-se interessado e produzir. Como é um pensador independente tem dificuldade em aceitar opiniões diferentes das suas, trabalhar em equipe é desgastante se tiver que enfrentar conflitos constantes.

Amor e Casamento
Muito sentimentais, os filhos de Oxossi precisam do conforto do amor, mas quando se envolve e percebe que sua liberdade fica comprometida recua assustado, mas quando bem harmonizado intelectualmente, e sentindo-se livre mantém-se num relacionamento estável.  Provavelmente, quem inventou o casamento em casas separadas foi um filho de Oxossi. Sua personalidade independente exige que ele tenha um canto só seu onde nada e ninguém o perturbe, ali ele se reequilibra e recupera seu delicado sistema nervoso, ele é como o mercúrio: ele desliza, é difícil mantê-lo estável, quando é comprimido foge e se divide, só pode ser controlado, nunca pressionado. É atraído pela beleza, pelo otimismo, pela inteligência e pelo bom humor. Aprecia que seu companheiro tenha interesses diversos dos seus, sente-se então enriquecido pelas experiências que lhe são relatadas, os desafios em conjunto o fascinam, já uma pessoa rígida com poucos objetivos pessoais o entedia. A vida familiar pode ser uma boa base para o filho de Oxossi, desde que seja estimulado em suas idéias e tenha livre expressão o convívio com a família será revigorante para ele. Os assuntos secretos, o ocultismo e o esoterismo o atraem, um relacionamento cármico será possível para ele, pois está aberto a reconhecê-lo em todos os níveis, tirando dele o aprendizado necessário. A vida amorosa não tem para ele a mesma importância que para os filhos de outros Orixás. Com o tempo alguns podem até decidir se tornarem celibatários por convicção.

Trabalho e Dinheiro
O filho de Oxossi tem aptidões múltiplas, gosta do estímulo mental constante e procura sempre novidade no que faz, essas características norteiam sua vida profissional. Quando tem um projeto em andamento, sua atividade redobra e é capaz de gastar muita energia para desenvolvê-lo. O esgotamento que a dedicação intensa ao trabalho provoca é  capaz de afetar seu sistema nervoso sensível.
O filho deste Orixá precisa aprender que para construir uma carreira bem sucedida é preciso que ele seja prático no seu idealismo, essa realidade é, às vezes um pouco difícil de ser encarada por ele. O perfeccionismo, a minuciosidade e a imaginação que põe em seu trabalho faz com que seja o melhor em sua especialidade. Responsabilidades monótonas e burocráticas deprimem o seu espírito, ele está melhor situado em um trabalho onde puder traçar planejamentos e realizar mudanças. Toma decisões rapidamente e é bom para enfrentar crises, mas distraído com pequenos detalhes.

Saúde
O sistema nervoso do filho de Oxossi é muito sensível, é o primeiro a refletir o seu desequilíbrio físico. A insônia é um problema para esse filho, pois impede que repouse seu cérebro ativo como deveria, ele raramente consegue dormir o necessário.  Acidentes, ferimentos, contusões, pancadas que atingem seus ombros, braços, mãos e dedos são freqüentes, bem como danos às pernas e aos pés. Os pulmões, intestinos e o estômago são órgãos que costumam apresentar alguma fragilidade. Artrite e o reumatismo também podem afligir a saúde dos filhos de Oxossi.

Filhos de Oxossi
O filho de Oxossi é pouco conservador, possui múltiplos interesses, não analisa qualquer assunto por um tempo maior, sua atuação seria, partindo do interesse que algo lhe provoca, observar, emitir um conceito próprio e ir adiante, atrás de novidade. Não consegue se deter tempo suficiente  para conhecer profundamente algum assunto,mais conhece um pouco de tudo. Gosta de companhia, faz parte do seu temperamento alegre. As crianças o adoram, dá bastante liberdade e as estimula a variar a suas atividades, embora seja falho no lado disciplinar. Não é ciumento e não quer ser alvo de ciúmes nem quer que sua liberdade seja tolhida por causa dele, alguns filhos de Oxossi com problemas emocionais e profissionais passam por períodos de depressão, pode ser vitima de tramas traiçoeiras e pode ter atos e palavras mal interpretados.
A filha de Oxossi é uma intelectual, embora administre bem o seu lar passa pouco tempo dentro dele, prefere o ambiente profissional ou a vida em sociedade. O homem que se casa com essa mulher casa com muitas mulheres diferentes ao mesmo tempo, pode surpreender sempre é criativa divertida, curiosa por qualquer novidade, fiel e dedicada, variar é seu ponto forte a parte física de uma relação é a que menos interessa a mulher de Oxossi ela se aproxima de alguém que a atraia mental e espiritualmente. Gosta de discutir é muito temperamental é petulante e fala para ferir quando está brigando. Como mãe é maravilhosa. Ensinará aos filhos a independência, será imaginativa e amorosa e organizará para eles muitas atividades estimulantes . A traição não está na natureza da filha de Oxossi ela jámais sacrificaria lar e filhos por uma aventura.

Na MPB, Oxossi aparece em diversas músicas, sendo que “Cavaleiro de Aruanda”, de Tony Osanah, é a mais famosa. Cantada inicialmente por Ronnie Von, ela foi interpretada por artistas do naipe de Milton Nascimento, Ney Matogrosso e Rita Ribeiro. Foi, é até hoje, uma das músicas de maior sucesso de Ronnie Von, tendo o álbum que a contém (é a primeira música) sido laureado com disco de ouro. Tanto a melodia quanto a letra marcaram tanto que viraram ponto cantado em muitos templos.
Segue a letra:

Ô lua Branca lê uê
Ô lua Branca lê uá

(2X)
Quem é o Cavaleiro
Que vem de Aruanda
É Oxóssi em seu cavalo
Com seu chapéu de banda

(2x)
Ele é filho do rei
Ele é filho da mata
Saravá nossa senhora
A sua flecha mata

Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda auê!

(2x)
Quem é este cacique
glorioso e guerreiro
montado em seu cavalo
desce no meu terreiro

(2x)
Ele é filho do rei
Ele é filho da mata
Saravá nossa senhora
A sua flecha mata

Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda uá
Vem de Aruanda uê
Vem de Aruanda auê!

Ô lua Branca lê uê

(2x)
Quem é o Cavaleiro
Que vem de Aruanda
É Oxóssi em seu cavalo
Com seu chapéu de banda

(2x)
Galo cantou
tá chegando a hora
Oxalá tá me chamando
caçador já vai embora

ô lua Branca lê uê
ô lua Branca lê uá

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

ENTENDER SEMPRE


A comunicação entre os homens é a arte da civilização moderna, que aprimorou os meios com clareza singular, para que possas entender as mensagens de uns para com os outros. Não obstante, não é necessária somente a clareza no dizer, nem a facilidade de expressar os pensamentos; acima de tudo, diz-nos o bom senso que a educação há que levar vantagens em todos os tipos de entendimentos e que a disciplina no falar não pode ser esquecida. Compreendemos as dificuldades e as restrições que o encarnado tem para manter o equilíbrio diante das regras do bem viver, pois quando igualmente internado na carne, passamos por essas dificuldades, e ainda pedimos a Deus que nos deixe voltar a ela, para que possamos aparar algumas arestas, pois somente no corpo físico encontramos condições mais favoráveis.

Aqui nós chamamos a volta ao corpo físico como sendo a bênção da carne. Concitamos a todas as criaturas que movem um corpo no mundo das formas a estudar as próprias necessidades com mais atenção, no que se refere aos deveres para com as leis universais e procurem ombrear seus compromissos para que não faltem, em seus caminhos, as oportunidades de servir aos que sofrem e entender os que estão presos nas malhas do carma.

Deves capacitar a tua inteligência no sentido de maior entendimento das coisas espirituais. A vida na forma é uma ilusão, em se comparando à verdadeira vida do espírito. É uma fração de segundo olhando e sentindo a imortalidade da alma. Mas esse tempo diminuto nos leva a pensar e nos põe a deduzir o quanto vale essa oportunidade grandiosa de aprender em pouco tempo.

Verdadeiramente, a carne é uma bênção de Deus a todas as criaturas internadas nela. Vale a pena meditar nesta oportunidade e crescer nas obrigações para com Jesus, decifrando parábolas e entendendo chamados que nos possam chegar de todas as direções para o nosso entendimento.

Se fecharmos os ouvidos e contrariarmos a visão dentro das leis naturais, tornamo-nos estátuas de sal, morremos ante a luz que nos glorifica e nos liberta. Somos velhos viajores, cansados de repetir as induções humanas e continuamos mortos. Consultando a razão, percebemos a grandiosa missão de Nosso Senhor Jesus Cristo ? E ela é muito maior do que pensamos ? De não forçar o nosso entendimento, respeitando todas as condições dos homens e almas livres do fardo, propondo os meios e métodos de cada um se libertar do seu próprio jugo e da carga que se propôs a carregar.

O Cristo bate em nossas portas, quando nos cansamos de procurar a Felicidade no reino das ilusões, quando procuramos a Paz no mundo exterior. Ele surge dentro do coração, acenando-nos para um trabalho excelente, a luta interna, dando-nos condições para vencer as nós mesmos. Aí encontramos os meios de conquistar a tranqüilidade de consciência, a eterna paz de espírito. Para tanto, devemos despertar o interesse de entender sempre a verdade, de nunca recusar o caminho certo, sem esquecer o esplendor da vida divina, que palpita dentro da alma.

Se a tua boca fere, ainda dormes. Se os teus sentimentos perturbam a tua mente com o ódio, ainda permaneces morto para a vida. E se não queres enxergar o que tentamos te mostrar por essas letras, fecha esse livro, que mais tarde a dor vai conversar com o teu coração.

In
Cirurgia Moral, Charles Lancellin, por João Nunes Maia

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Oração Dominical - O Valor da Prece


"Estava Jesus orando em um certo lugar, e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou a seus discípulos. Ele respondeu: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; dá-nos o pão nosso de cada dia; perdoa-nos as nossas faltas, porque também nós perdoamos aos nossos devedores, e não nos deixes cair em tentação." (Lucas, XI, 1-4.)

A prece é um brado da alma que estabelece colóquio com os poderes superiores e irradia os seus anelos pelo Espaço Infinito, que é o seio de Deus.

A prece não está nos lábios, mas no coração; não é uma ação corporal, mas espiritual; não tem fórmulas, nem horas, nem lugares; está fora do tempo e do espaço. Ela pode representar uma súplica, um pedido, uma glorificação ou uma ação de graças.

A Oração Dominical, ou do Senhor, reúne todas essas condições. Ela é confissão, é comunhão, é perdão, é humildade, é exaltação de amor.

O valor da prece, segundo o Espírito do Cristianismo, não está, pois, no número e na beleza das palavras, mas sim na intenção de quem ora.

Muito diferente da dos católicos é a prece dos cristãos. Aquela consta de inumeráveis orações e ladainhas, que não falam ao sentimento, nem exaltam a razão. Constituem elas passatempo com cantos, música de órgão ou orquestra, que deliciam a audição mas não têm acesso à alma.

Quantos católicos, protestantes e até espíritas nós vemos, presos à oração, mas, apesar de repetirem muitas vezes por dia a "Oração Dominical" não perdoam a seus desafetos e vivem com o coração transbordando de ódio! Terá valor, essa oração? Estarão eles solicitando o perdão de Deus ou a sua própria condenação, quando dizem: "Senhor, perdoa as minhas ofensas como eu perdôo aos meus ofensores?"

Examinem-se os que oram, e escolham se devem continuar a orar com a mesma disposição de espírito.

In
O Espírito do Cristianismo, por Cairbar Schütel, Ed. O Clarim

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

EXAME DAS RELIGIÕES

“Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Adoram-me, porém, em vão, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
(Mateus, XV, 8-9.)

A religião não consiste num amálgama de dogmas e na proclamação de mistérios.
A Religião é parte da Verdade, que se concede aos que a procuram e lhes é dada de acordo com o seu grau de elevação moral.
O conhecimento da Religião cresce nas almas, na proporção do progresso moral e espiritual de cada uma.
Como acontece com a aquisição de quaisquer ramificações do saber, a Religião não prescinde do estudo, da análise, do livre-exame.
Paulo, doutor dos gentios, aconselhava a seus ouvintes, para obtenção do conhecimento da Religião, o exame nítido, racional, inteligente de todas as Escrituras; por esse meio chegariam ao conhecimento da Verdade: Examinar tudo, mas abraçai só o que for bom (I Tess., V, 21.)
Pedro remata a sua Epístola Universal com a bem significativa sentença: “Crescei no conhecimento e na graça de N. S. Jesus Cristo.” (II Pedro, III, 18.)
João diz peremptoriamente numa das suas cartas, condenando a ignorância: “Deus é luz; se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos em trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” (I João, I, 5-6) Tiago não é menos categórico, quando pretende avivar-nos sobre as tentações e provações, lembrando-nos suas causas e efeitos: “A fortaleza deve completar a sua obra para que sejais perfeitos e completos, não faltando em coisa alguma.”(I, 4.)
O conhecimento das circunstâncias que nos cercam se deve completar com o conhecimento da nossa individualidade e dos nossos deveres religiosos; do contrário não teremos fortaleza para resistir às tentações e vencer as provas.
O homem religioso não é, pois, o escravo do culto que repete maquinalmente as orações do breviário, mas, sim o que estuda e compreende as Revelações que lhe são transmitidas.
“Examinar tudo e abraçar só o que for bom” é examinar todos os sistemas religiosos e fazer com inteligência e critério a seleção do que for bom, rejeitando os erros que as religiões ensinam como artigos de fé.
Está claro que um sistema religioso que proclama a infalibilidade de seus sacramentos pretende ser intangível e não admite se lhe repudie uma palavra, quanto mais um preceito!
O crítico, por mais competente que seja, filiado a esse credo terá de submeter-se ainda ao que não julgue bom.
Por exemplo: o católico e o protestante, embora repugne à sua razão os dogmas das penas eternas e do Diabo, não têm liberdade para impugnar sua religião; têm, à força, de submeter-se a eles ou então serem excluídos da comunhão a que pertencem.
Para gozar das regalias do todo, é princípio de Teologia, indispensável se torna que o adepto aceite as partes integrantes do princípio conjeturado.”
“Quem não aceita a parte prejudica o todo, não pode, ipso facto, fazer parte desse todo.”
A sentença de Paulo, pelo que se vê, caduca em face do exame de uma religião única, porque tendo de aceitar o todo é impossível rejeitar o que não for bom.
O mesmo acontece às demais recomendações epistolares de Pedro, Tiago e João.
Para os sacerdotes do Catolicismo e Protestantismo, a sua religião é a verdade revelada, integral, completa. Aqueles que fizeram profissão de fé é porque chegaram ao conhecimento da verdade máxima, não têm de crescer no conhecimento e na graça de N. S. Jesus Cristo; já estão crescidos, não têm mais que crescer, atingiram o ponto culminante da verdade religiosa, sabem tanto quanto o Cristo, seu conhecimento é mesmo igual ao de Deus, porque para essas religiões, Jesus Cristo é o próprio Deus que se manifestou na segunda pessoa da Trindade.
Conclui-se que, falecendo aos católicos e protestantes os atributos de perfeição com que a sua religião deveria revesti-los, estão eles, sem dúvida, fora da Verdadeira Religião, necessitando, portanto, pôr em prática as recomendações apostólicas para obterem o conhecimento da Verdade, cujos preceitos se resumem na memorável sentença de Paulo: “Examinai tudo, mas abraçai só o que for bom.”
Foi, portanto, com justa razão que o Cristo repetiu aquelas palavras ao povo de então, semelhante ao de hoje, discípulos dos escribas, saduceus e fariseus: “Este povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de mim. Adoram-me, porém, em vão, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”

In
Parábolas e Ensinos de Jesus, por Cairbar Schutel