quinta-feira, 8 de março de 2012

A REENCARNAÇÃO HUMANA POR GABRIEL DELLANE

Se a alma habitou a terra antes do nascimento corporal, porque não existe em cada um de nós a recordação das vidas anteriores? A resposta é muito simples, e é, porque as condições que presidem à renovação da recordação, não se preenchem devidamente. Não é necessário construir hipóteses para tornar evidente este argumento, pois basta atender simplesmente ao que ocorre na vida normal. Assim é de observação corrente, que os sonhos em geral não deixam recordação ao despertar e que muitos períodos da nossa existência actual se apagam também da consciência, que resulta impossível fazê-los reviver por meio da vontade. No entanto, estas recordações não se perderam e pode-se encontrá-las na íntegra no sono sonâmbulico, quando se restabelece o perispírito nas mesmas condições dinâmicas que possuia quando teve lugar a percepção. M. Pitre e a sua escola, os Dres. Bourru y Burot y M. Paul Janet colocaram este facto fora de qualquer discussão e não existe magnetizador que ignore que um dos caracteres mais constantes do sonambulismo é o esquecimento ao despertar. Colocado de novo sob o sujeito no segundo estado recobra o conhecimento de quanto disse e fez durante os demais sonhos magnéticos. Existem, portanto, séries de memórias que coexistem no mesmo sujeito e que se ignoram completa e absolutamente. Nestas condições, é fácil de compreender que se é exata a hipótese das vidas sucessivas, é-o também o facto de geralmente , ser impossível de recordar os acontecimentos de uma vida anterior, pois o movimento vibratório do envoltório periespiritual unida à matéria e que é próprio desta encarnação, difere significativamente do que possuia numa vida anterior, não se conseguindo a renovação de recordações, porque falta o mínimo de intensidade e de duração características das vibrações daquela época.
Esta imensa reserva de matéria psíquica constituirá a base da nossa individualidade intelectual e moral, e formará a trama da inteligência, mais ou menos rica, sobre a qual borda cada vida novos arabescos. Mas todas estas aquisições não podem manifestar-se de outra forma, que por meio das tendências primitivas que cada um traz ao nascer e que se denominam o caráter. A partir de então, deve existir a mais perfeita inconsciência, e isto é precisamente o que acontece. Mas esta regra tem alguma excepção, pois do mesmo modo que em certos sujeitos se conservou a recordação ao despertar, assim também podem encontrar-se indíviduos que se lembrem de ter vivido. Em alguns, este despertar de antigas sensações ocorre de forma natural.

Apesar do meu desejo em ser o mais sucinto possível, não posso deixar de falar dos casos relativamente numerosos que chegaram ao meu conhecimento e que parecem apoiar de um modo firme a teoria da reencarnação. Semelhante crença é uma evolução contínua do princípio inteligente, tem sido (com ligeiras variantes) a crença dos povos da Índia, dos sacerdotes egípcios, dos druidas e de uma parte dos filósofos gregos. Pitágoras, desafiando a ironia dos seus contemporâneos tinha o costume de dizer publicamente  que se recordava de ter sido Hermotimo, Euforbio e um Argonauta.

Juliano o Apóstata recordava-se de ter sido Alejandro de Macedônia. Empédocles afirma "que se recordava de ter sido varão e fêmea". Mas, como nada sabemos referente às circunstâncias que puderam determinar estas afirmações, passaremos aos escritores dos nossos dias que relatam factos da mesma ordem.

Entre os modernos, o grande poeta Lamartine afirma, na sua Voyage au Orient (Viagem ao Oriente) ter tido reminiscências muito claras. Aqui está sua declaração. "Eu não tinha na Judéia nem Bíblia, nem guia algum para me dar o nome dos locais e o antigo nome dos vales e montanhas e, no entanto, reconheci imediatamente o vale de Terebinto e o campo de batalha de Saúl. Ao chegar ao convento os padres confirmaram a exatitude das minhas previsões, encontrando-se os meus companheiros tão assombrados que não podiam acreditar. Do mesmo modo em Séfora tinha designado com o dedo e indicado com o seu próprio nome a uma colina coroada pelo meu castelo arruinado, citando-a como o local provável do nascimento da Virgem. No dia seguinte reconheci ao pé de uma montanha árida, o túmulo dos Macabeos. Com exceção dos vales do Líbano, etc, apenas encontrei na Judéia um lugar, ou uma coisa que não foi para mim uma lembrança. Já vivemos uma vez ou duas mil? A nossa memória não é mais do que uma imagem escura que o sopro de Deus reanima?

Estas reminiscências não podem ser devidas ao despertar de recordações procedentes de leituras, pois a Bíblia, não faz a descrição exata das paisagens em que ocorrem as cenas históricas, encontrando-se simplesmente nela o relato dos acontecimentos. Podem atribuir-se estas intuições tão exatas e precisas a uma clarividência manifestada durante o sonho?

Gabriel Dellane
In As Vidas Sucessivas, 1898

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